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6 DE MARÇO DE 1953 771

trem nenhuma videira de Jacquez a dar vinho, a consintam até à altura em que nas regiões de rumadas altas ou sistema de vinha de enforcado possam ser enxertadas.
Estranham ainda as populações da região dos vinhos verdes, e eu com elas, que os lavradores tenham na lei ou no papel uma organização; que haja uma comissão encarregada da defesa dos vinhos da região dos vinhos verdes e que se consinta impunemente a fraude dos viveiristas a que aludi. Ou tais organismos ainda não deram pelo que se passa, e então estão a dormir, ou sabem e não se importam, e nesse caso faltam ao seu dever.

O facto é bem público. Basta nos meses de Outubro a Março abrir, sobretudo, os jornais da província, e reparar na aluvião de anúncios de viveiristas que oferecem videiras para venda, inteiramente à vontade, sem regulamento, sem fiscalização, sem que se lhes exija qualquer garantia e se dê ao viticultor a segurança do que compra. Anda-se neste assunto absolutamente à deriva, ou, se VV. Ex.ªs preferem, sem controle, para me servir dum galicismo que hoje está na moda.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: para que as intervenções nesta Assembleia possam ser verdadeiramente construtivas - e é esse o meu propósito nas intervenções que faço - tenho aqui ouvido dizer que não basta criticar, mas devem ser apresentadas sugestões.
A resenha, mais do que crítica, dos factos que acabo de apontar coloca o Governo perante deficiências. Chamar para elas a atenção de quem manda, para que as estude e lhes do remédio, já é cumprir o meu dever de Deputado por Braga, distrito que faz parte da região dos vinhos verdes. Mas pelo que a Braga e ao seu distrito se refere e ainda ao do Viana do Castelo terei o maior prazer de, apontado o mal o notadas as deficiências, apresentar as sugestões que me parece serviriam de correcção e de remédio.
Na região dos vinhos verdes há legalmente - no papel - organização corporativa da lavoura e até uma Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, especialmente encarregada da viticultura e vinicultura regionais. Praticamente a situação da lavoura do Minho em geral e dos viticultores em especial é denunciadora da falta de organização.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Dizem-me que há -e parece que sim - nos grandes órgãos feitos para serviço de música religiosa algumas peças de simples efeito, peças essas que não dão som. Compreendo-se este luxo de estética desde que a harmonia, e a variedade de sons do órgão estejam devidamente asseguradas, mas já se não compreenderá que todas as peças sejam de simples efeito e o órgão não dê som, por de órgão apenas ter o aspecto e o feitio.

E o que sucede em grande parte com a organização corporativa da lavoura, pelo menos na região do Minho, que é a que melhor conheço.
Em meu poder tenho cartas de vários presidentes de grémios da lavoura da região nortenha a queixarem-se de que não fazem mais porque se lhes não dão meios nem atribuições para isso.
Não interessa ao Minho ter uma organização assim, que é como as peças dos órgãos que são apenas de efeito para a vista. Tem de rever-se o problema da organização corporativa da lavoura e dar às associações primárias da organização os meios para que sejam, como

é dos bons princípios, escola, serviço e representação dos lavradores.

Para serem escola é indispensável que em cada concelho haja junto do grémio da lavoura um agrónomo ou, ao menos, um regente agrícola, que, de acordo com o posto agrário regional, se mantenha em contacto permanente com os lavradores, ensinando-os no próprio campo em que eles trabalham, e não nas salas do grémio ou nos salões do posto agrário.
Para tanto hão-de os técnicos procurar ser vulgarizadores, porque, se eu não posso ensinar a teologia a crianças da catequese num tom escolástico de aulas do seminário ou de uma Faculdade de Teologia, também os agrónomos terá o de ministrar os ensinamentos da técnica agronómica em linguagem simples e acessível à cultura, ou falta de cultura, da maioria dos que trabalham a terra. Está por fazer esta coordenação.
Não compreendo que o Código Administrativo preveja a existência de um veterinário em cada concelho do País, para em muitos deles limitar a sua acção a vigiar para que se não sirva carne ao público em más condições higiénicas ...

Vozes: - Quando vigiam.

O Orador:-Sim, dizem VV. Ex.ªs muito bem, quando vigiam!

... serviço de que bem pode encarregar-se o subdelegado de saúde, o não haja um agrónomo, ou ao monos um regente agrícola, que vele pelas coisas gerais do agricultor nas freguesias do concelho.
Com um agrónomo ou regente agrícola em cada concelho, um posto agrário distrital montado a rigor, campos de demonstração e experiência junto de cada grémio da lavoura e os técnicos a ensinarem nos campos aos lavradores a prática agronómica haveria uma organização da lavoura em cada distrito do País, que seria, como lhe cumpre, escola para os associados da profissão agrícola.

O Sr. Pereira de Melo: - VV. Ex.ª está seguro de que o País dispõe de diplomados com cursos técnicos para, efectivamente, no campo, ensinarem os lavradores? Não terão estes de partilhar com aqueles os seus próprios conhecimentos do práticos?

O Orador:-Pelo menos dispõe do número de técnicos suficiente para haver práticos nessas terras. A aliança da técnica com a prática estou eu a defendê-la na minha intervenção.
Em Braga o posto agrário não está instalado em condições de poder exercer com inteiros resultados este mestrado junto da lavoura. Precisa de instalar-se numa quinta espaços», com terrenos bastantes para ensaios, demonstrações o experiências que sirvam de lição e exemplo aos lavradores da região.

O Sr. Carlos Borges: - Isso é que é já luxo.

O Orador:-É apenas necessário para orientar os lavradores.
Mais à falta de uma quinta em condições para instalação do seu posto agrário do que a desleixo dos técnicos se deve o facto de não se ter encontrado ainda no Minho o porta-enxertos adequado à natureza dos terrenos e às cantas regionais.
Os técnicos que se encontram à frente do Posto Agrário de Braga são competentes e zelosos no cumprimento dos seus deveres profissionais. Tenho o maior prazer em aqui o afirmar. As condições em que trabalham é que são deficientíssimas para as necessidades agronó-