O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

44 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 55

e de causar prejuízo à sua própria vida; pretenderiam colocá-la no mesmo plano em que se debatem os conflitos temporais. E isto permanece verdadeiro, ainda quando tal procedimento possa invocar fins ou interesses legítimos em si mesmos.
E esclarecendo ainda mais o seu pensamento:
A Igreja não pode consentir em julgar segundo critérios exclusivamente políticos; não pode ligar os interesses da religião a orientações determinadas por fins puramente terrenos; não pode sujeitar-se ao perigo de haver razões fundadas para duvidar do seu carácter religioso; não pode esquecer em qualquer momento que a sua qualidade de representante de Deus sobre a Terra não lhe permite permanecer indiferente nem por um só instante entre o bem e o mal das coisas humanas.
Se isso lhe fosse pedido teria de recusar e os fiéis de um e outro partido deveriam, por virtude da sua fé e da sua esperança sobrenatural, compreender e respeitar uma tal atitude da sua parte.
Suponho estas palavras justo correctivo de quaisquer atitudes tendentes a justificar a espoliação de Goa alegando a causa da Igreja!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, se preferirmos considerar estas atitudes inspiradas simplesmente por uma perigosa ilusão, elas nada provam contra a tese que tomei para tema das minhas considerações, e volto a enunciar em conclusão:
Fomos à índia no século XVI para fazer cristandade e defender a cristandade da Europa contra o poderio ameaçador do islamismo; ao fazer nesta hora a defesa intransigente e sacrificada das nossas províncias do Oriente não cumprimos apenas um grave dever patriótico, mas defendemos ainda os interesses da civilização cristã e os seus valores contra o despotismo ameaçador do comunismo soviético.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Bem sabemos que esta atitude permite ao Pândita Nehru acoimar-nos, no Parlamento indiano, de possuidores duma mentalidade medieval! Mas esta acusação, longe de ofender, pode talvez lisonjear os nossos brios.
É precisamente porque «nesta pequena faixa ocidental que a Europa se habituara a olhar com comiseração ou tédio fizemos o prodígio de reconstituir a Nação na sua feição tradicional - missionária e civilizadora, cavalheiresca e espiritualista (com espírito medieval se a expressão for mais do agrado do Sr. Nehru) - que muita vez tivemos ensejo de fazer ouvir nos sinédrios dos grandes a palavra justa, sem poder ser discutida a nossa autoridade moral».
E foi esta autoridade moral que ainda desta vez tornou possível não só fazer ouvir a nossa voz no Mundo, mas fazer reconhecer que, ao tomarmos a defesa intransigente da causa moral de Goa, nos constituímos mais uma vez em «factor positivo na defesa e na reconstrução da Europa e do Mundo, e, como tais, não podíamos ser afrontados, nem desprezados, nem sequer esquecidos».
A verdade é que, enquanto outros se preocupam, acima de tudo, com a conquista ou a defesa dos hinterlands comerciais, e a essa consideração subordinam as suas actividades diplomáticas, nós aliamos a defesa dos legítimos interesses de Goa à defesa dos superiores interesses da comunidade internacional; à defesa das normas da sua pacífica convivência; à defesa dos legítimos direitos de todos os povos, grandes e pequenos.
Por isso nos julgamos com autoridade para repetir àqueles que nos abandonassem às represálias da barbárie a velha sentença de Cícero: há duas formas de cometer injustiças: uma, praticando agravos; outra, deixando de socorrer as vítimas de injustas agressões.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E esta solidariedade moral entre os povos que a nossa resistência à política agressiva do Sr. Nehru visa a suscitar e com esta atitude servirmos ainda os interesses da civilização contra um regressivo e bárbaro despotismo que pretende impor como única lei a superioridade da força material.
E quero terminar, Sr. Presidente, recordando que faz agora precisamente um ano que nesta tribuna formulei o vaticínio de que íamos entrar numa época de engrandecimento e de glória, mas logo esclareci que a glória das nações só pode nascer para os vindouros impondo à geração presente novas responsabilidades e maiores sacrifícios!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Carlos Moreira: - Sr. Presidente: sendo esta a primeira vez que nesta sessão uso da palavra, quero reiterar a V. Ex.ª os meus cumprimentos e os protestos da minha mais elevada consideração.
Sr. Presidente: ao debruçar-me sobre o assunto que se está discutindo, trazido em hora própria a esta Assembleia pelo ilustre Deputado Teófilo Duarte, senti as hesitações naturais em face da magnitude da questão e da altura a que ela subiu no discurso do Sr. Presidente do Conselho.
Clareza, serenidade, convicção, firmeza e decisão, todas estas virtudes do estilo e da essência habilitam o País para o perfeito conhecimento do estado actual do magno problema da Índia.
A grei portuguesa, que não ignora o seu passado e tem o orgulho e o brio da sua história, ouviu certamente emocionada as palavras que lhe eram devidas; razão tinham os que souberam esperar, serena e confiantemente, o momento cuja oportunidade o espírito atento do Sr. Presidente do Conselho aguardava.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: nessa obra de singular e cristalina beleza -Imagem, da Vida Cristã - do grande clássico Frei Heitor Pinto encontra-se que «muitas coisas achamos escritas, feitas com tanto esforço e ousadia, que quase passam além da imaginação humana; as quais claramente manifestam um ânimo tão tranquilo e constante que nem com medo da morte, nem com alvoroço da vida, se aparta da firmeza da virtude».
A este estado de espírito nos havemos de conduzir todos: nem medo da morte, nem alvoroço da vida nos apartarão o ânimo da firmeza da virtude; virtude que também é, na sua etimologia latina, o valor e, assim, esforço e ousadia!
A União Indiana, ou talvez antes os que julgam conquistar a segurança da sua posição política naquele intrincado e confuso subcontinente asiático, alega e insiste ter direitos à integração dos nossos territórios da Índia e fá-lo, como se deduz do discurso aqui proferido