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42 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 55

actuais; e para prevenir os estranhos de que estuo em presença da perspectiva de atitudes de grande gravidade, não só por parte da União, como de nós próprios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não foi debalde que eu há pouco, como Deputado por Angola, ao transmitir ao Poder o vibrante protesto daquela província contra a agressão que sofremos na Índia, apelei para o Chefe da Nação e para o do Governo. Tanto o primeiro, que estremece o ultramar, por nele ter servido e nele se ter batido com uma galhardia tal que isso lhe valeu a nossa mais alta condecoração militar, como o segundo, que exprimiu pela primeira vez entre nós o conceito de que é da essência da Nação fazer colonização, eram as pessoas indicadas para fixarem a grande directriz da nossa atitude neste momento tão crítico.
Eles acabam de o fazer, e de uma maneira que não dá origem a dúvidas a inimigos ou amigos: fie formos atacados, bater-nos-emos, mesmo que seja um contra dez ou contra mil.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Dinis da Fonseca: - Sr. Presidente: requeiro a generalização do debate.

O Sr. Presidente: - Concedo a generalização do debate.

O Sr. Dinis da Fonseca: - Sr. Presidente: sendo esta a primeira vez que uso da palavra na presente sessão legislativa, dirijo a V. Ex.ª os meus cumprimentos.
Sr. Presidente: creio que todos devemos estar reconhecidos ao ilustre Deputado Sr. Capitão Teófilo Duarte por haver suscitado com o seu aviso prévio a esclarecedora e histórica comunicação trazida a esta Assembleia por S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por ela ficámos sabendo em que atmosfera se tem desenvolvido e continua a desenvolver-se o que podemos chamar a moderna cruzada da Índia.
Acabamos de ouvir o assunto versado nesta tribuna com a maior proficiência e com um brilho que eu não seria capaz de acompanhar; por isso limitarei as minhas considerações a ligeiros esclarecimentos sobre o capítulo da comunicação que S. Ex.ª intitulou Goa e o cristianismo na Ásia.
Suponho que ninguém se atreve a pôr em dúvida o valor da nossa epopeia na Índia nem as benéficas consequências que dela advieram para a causa da humanidade e da civilização cristã.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se pudessem fazê-lo, não faltaria talvez quem pretendesse anular os documentos que disso fazem prova, a começar pela bula Aequum reputamus, de Paulo III, de 3 de Novembro de 1534 -que acabou, portanto, de perfazer a linda idade de 420 anos -, pela qual foi erigida a diocese de Goa e a esta atribuído o senhorio espiritual de todos os territórios que se estendiam desde o cabo da Boa Esperança até à índia e até à China; e isto em reconhecimento dos serviços de evangelização já então prestados pelos nossos missionários!
E não creio que seja preciso forçar a história para que esta proclame termos ido à Índia para fazer cristandade e, mais do que isso, para defender a cristandade da Europa pelo enfraquecimento do poderio turco no Oriente, antecipando por essa forma o nosso contributo para a vitória de Lepanto, que, em 7 de Outubro de 1571, libertou a civilização cristã da terrível ameaça que sobre ela faziam impender as forças agarenas dominadoras do Mediterrâneo.
Pois também creio que a história dirá um dia que defendendo nesta hora a província de Goa não só cumprimos um dever patriótico como desempenhamos ao mesmo tempo uma missão a favor da civilização cristã.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Antecipando o nosso sacrificado contributo para a derrota das forças subversivas do comunismo, que não podemos, considerar menos virulentas e ameaçadoras para a sorte da Europa do que foram as do islamismo no século XVI.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Contra esta tese, em que o patriotismo e a religião se abraçam na nossa vocação histórica, como o têm feito ao longo dos oito séculos da nossa existência nacional, pretende suscitar-se uma dúvida e erguer-se o espectro de um angustioso conflito entre o dever patriótico e supostos interesses da marcha da humanidade e até dos interesses do apostolado cristão.
Poderemos exprimir nesta forma ainda mais saliente esse pretenso conflito: os interesses da humanidade e os da civilização cristã teriam reclamado a descoberta da Índia e a nossa fixação aí no século XVI, mas os mesmos interesses reclamariam agora a nossa cedência a ambição despótica e caprichosa do Sr. Nehru!
Este, em toda a sua agudeza, um dos aspectos que S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho pôs à, consideração da Assembleia e que esta, em meu entender, não podia escusar-se a esclarecer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Perante a tentativa de anexação de Goa pelo governo do Sr. Nehru, todas as forças subversivas espalhadas pelo Mundo alinharam imediatamente ao seu lado.
Este facto, só por si, denuncia o objectivo final dessa espoliação; e, na verdade, quem atentar na planificação estratégica das mesmas forças, não terá dúvidas em reconhecer que o consórcio russo-chino-indo-soviético visa à bolchevização da Ásia. E, como a presença de Portugal em Goa é um obstáculo ao desenvolvimento integral desse plano, os tristes mercenários invasores da nossa província são apenas as guardas avançadas de Moscovo e a odiosa espoliação da Roma do Oriente dirige-se, afinal, contra a glória e a grandeza da Roma do Ocidente, que aquela ali representa. E porque assim é, a defesa intransigente feita pelo Governo Português visa não só os legítimos direitos da terra portuguesa, mas também a defesa do génio do Ocidente, da civilização, critã e dos seus valores espirituais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E esta realidade que parecem contrariar certos elementos católicos denunciados pelo Sr. Presidente do Conselho como aliados ou simpatizantes das forças subversivas que tomaram imediatamente o partido do Sr. Nehru.