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3 DE DEZEMBRO DE 1954 43

Desses elementos apresentam-se uns como filiados na chamada corrente dos católicos progressistas e outros como elementos da Propaganda Fide.
Ora atrevo-me a dizer que a atitude dos primeiros prova a favor da minha tese e a dos segundos nada prova contra ela.
Os chamados católicos progressistas estão convencidos de que o comunismo é uma solução social imposta, como apregoa a dialéctica marxista, pelas determinantes da história, e, por isso, entendem que podem e devem admiti-la, no terreno económico e social, impondo-se à Igreja baptizá-la ou convertê-la no terreno religioso. De acordo com esta orientação, se a ideologia comunista, embora, antipatriótica e subversiva, reclama a anexação de Goa à índia, para efeitos da transformação catastrófica de que aguardam a nova época do Mundo, mostram-se de acordo com essa satisfação dada, como eles dizem, ao direito à libertação dos povos!
Mas estes; como disse, provam a favor da minha tese, enquanto sustentam que a espoliação de Goa tem ao seu lado todas as forças subversivas e as suas aliadas ou simpatizantes. Simplesmente, não podemos tornar à Igreja as culpas da atitude destes católicos progressistas, porque eles procedem contra a expressa desaprovação e instante recomendação de Pio XI, feita na encíclica Divini Redentoris (19 de Março de 1937), onde se lêem estas palavras:
Vigiai veneráveis irmãos porque os fiéis não se deixem enganar. O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir colaboração com ele da parte dos que desejam salvar a civilização cristã, seja em que terreno for. Se alguns induzidos em erro cooperassem na vitória do comunismo no seu país, viriam a ser as primeiras vítimas do seu desvairamento; e quanto mais se distinguirem as regiões onde o comunismo conseguir penetrar, pela sua antiguidade, ou pela grandeza da sua civilização cristã, mais o ódio dos sem-Deus se mostrará devastador.
Da clareza destas palavras é pois lícito concluir que a atitude dos chamados católicos progressistas pode obedecer à lógica do seu desvairamento, mas é inteiramente oposta ao ensinamento da Igreja e é ainda esta e os seus conselhos que Portugal defende quando, patriótica e intransigentemente, toma a defesa de Goa contra as forças subversivas coligadas para a sua espoliação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mais estranha se nos afigura a atitude dos elementos ligados à Propaganda Eide.
Esta é organismo da Igreja, fundado em 1622, para dirigir a propagação do Evangelho em todas as partes do Mundo. Não desconhecemos nem ousaríamos deslustrar os serviços prestados por ele à causa do apostolado cristão. Compreendemos que nem a Igreja nem a própria Congregação da Propaganda podem ser responsáveis pela atitude de alguns elementos, felizmente poucos e sem cargos directivos, e que supomos vítimas cie lamentáveis esquecimentos ou de perigosas ilusões.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E lamentável que esses elementos tenham esquecido os serviços prestados pelas missões portuguesas no Oriente dois séculos antes de a Propaganda ter aparecido; é lamentável que tenham esquecido o texto do artigo 140.º da actual Constituição Portuguesa e o contributo que ele generosamente oferece à causa da evangelização, ou tenham caído na perigosa ilusão de que esse contributo seria facilmente substituído, ou poderia mesmo ser sacrificado nas aras de uma fementida promessa de maior liberdade religiosa concedida na Índia.
Em qualquer caso, injustiça feita à cansa dos nossos direitos, ou ilusão perigosa alimentada pela táctica soviética da mão estendida...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não desconhecemos que contra nós poderiam alegar-se os nossos velhos pecados, as nossas culpas de 1759, de 1834 e de 1911..., mas a esta alegação respondeu, antecipadamente, o Sr. Presidente do Conselho no seu discurso de 22 de Março de 1943, dirigido à União Nacional, onde se lê:
O povo português apreende por intuição notável o sentido profundo da transformação que se opera e tem, por natureza ou educação secular, o sentido de um destino nacional que nada tem que ver com a modéstia dos seus recursos e o baixo nível da sua instrução.
A Nação tem decididamente a vocação do heroísmo, do desinteresse, da acção civilizadora, da grandeza imperial, e enternece verificar que o simples povo não a perde, mesmo quando o escol dirigente parece atraiçoá-la.
Nestas palavras se encontra a justificação antecipada do patriótico comportamento da Nação Portuguesa em face do atentado cometido contra Goa; e ainda do valor da sua vocação civilizadora e apostólica, apesar de esta ter sido esquecida ou atraiçoada algumas vezes pelo seu escol dirigente.
É, no entanto, de justiça lembrar que fui testemunha, nesta mesma Casa, do público arrependimento de alguns dos responsáveis; depois de tomarem contacto com as realidades do nosso resplendor apostólico no Oriente, nobremente confessaram que nas terras asiáticas católico e português, mais do que sinónimos, são termos equivalentes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por isso todo o jacobinismo em terras portuguesas foi e será sempre profundamente desnacionalizador.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas porque português e católico são em terras do Oriente termos equivalentes, é ilusão perigosa supor que a luta travada nesta hora contra Portugal o não é igualmente, e como objectivo final, contra o catolicismo e contra a civilização cristã!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Esta ilusão encontra-se, aliás, prevenida pela clara doutrinação da Igreja.
Não aludirei à condenação da defesa duma injustiça coroada pelo êxito, que suponho expressamente contida na proposição 61 do Syllabus; mas encontro na famosa radiomensagem do Santo Padre Pio XII de 24 de Dezembro de 1951 estas palavras que claramente desaconselham envolver a autoridade da Igreja na defesa de parcialidades humanas:
Homens políticos e até algumas vezes homens da Igreja desejariam converter a Esposa de Cristo em sua aliada, ou em instrumento das suas combinações políticas, nacionais ou internacionais; não deixam com isso de fazer agravo à essência da Igreja