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3 DE DEZEMBRO DE 1954 39

senvolvo mais este aspecto da questão por razões que facilmente se compreendem.
É preciso, como diz o Sr. Presidente do Conselho, que, a dar-se a agressão, ela não possa ser efectivada tendo o ar de uma simples pseudo-acção policial, e eu acrescentarei que, se a União nos quiser expulsar da Índia, ela terá, devido aos meios de acção que ali acumularmos e à vontade enérgica de lhe resistirmos, de fazer-nos uma verdadeira guerra, com todas as consequências militares e diplomáticas decorrentes de tal situação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E preciso que o Mundo inteiro e em especial os organismos internacionais, com os quais temos compromissos relativos a vidas a sacrificar e dinheiros a despender, não sejam postos perante um facto consumado em dois ou três dias, quase sem tempo para o poderem apreciar; que eles não julguem que tudo decorreu sem percalços de maior, quase à boa paz, e apenas com o tradicional e platónico protesto. Não; é preciso que eles sejam postos em presença dum esforço heróico e duradouro, levado até ao limite máximo das forças dos nossos soldados, que na Índia representam quem está na posse dum direito indiscutível, e que, então, aqueles organismos assumam a responsabilidade da atitude que venham a tomar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A quase certeza duma vitória inimiga, no caso de não podermos contar com a solidariedade das organizações atrás mencionadas, não nos deve entibiar o ânimo e levar a abandonar o campo sem combate.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Inutilidade da resistência.
Mas poderá alegar-se: se o resultado final do prélio, no caso de estarmos sós, tem quase com certeza de nos ser desfavorável, em virtude da desproporção de recursos, porque aceitá-lo, sacrificando vidas e dinheiro? Porque não nos confessamos de antemão vencidos?
O argumento é de todos os tempos e de todos os povos, com a diferença, porém, de que ele é ou não aceite por estes, conforme o grau de virilidade, de consciência nacional, de noção da honra que possuem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Na nossa história houve ocasiões em que ele se fez ouvir com as mesmas aparências de razão que agora, e os acontecimentos desmentiram vaticínios derrotistas. Na nossa história houve muitas situações mais graves que as de hoje, e em que o génio dos nossos chefes militares e o talento dos nossos diplomatas supriram a deficiência dos nossos recursos e fizeram com que o resultado final nos fosse favorável.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - De resto, a admitirem-se aqueles argumentos, só aparentemente razoáveis, os países pequenos que não contam com alianças deveriam prescindir do exércitos quando tivessem por vizinhos outros mais fortes. E, à face de tais raciocínios, nós deveríamos considerar loucuras, que não são para ser seguidas, os feitos mais brilhantes da nossa história e da de todos os países. Deveríamos banir do ensino ministrado a crianças e adultos o culto do heroísmo, da santidade, de tudo quanto transcende, enfim, o que é corrente e normal no
Mundo, para lhes incutir apenas o gosto pelo que é certo, pelo que é cómodo, pelo que não importa risco.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não; o herói, o santo e o génio são autênticas realidades, com influência decisiva nos meios em que vivem.
Por conseguinte, mesmo que amanhã Portugal se encontrasse sozinho na luta contra a União, não deveria deixar de resistir pela força das armas, correndo as contingências resultantes dos seguintes factores em presença, muitos dos quais aos são favoráveis: temperamento guerreiro dos dois povos, qualidades dos quadros militares, orgânica antiga, tradição, força moral e desproporção de efectivos e de meios materiais. E se, por fim, devido a estes dois últimos factores, ele tivesse de ceder, que só o fizesse depois de ter dado o esforço digno da sua história. E que há derrotas que valorizam mais os povos que certas vitórias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nos regimentos dos nossos reis para os capitães das suas fortalezas não se escrevia nunca que deveriam eles contar o número dos seus inimigos para saberem se deviam ou não resistir. A ordem era lutar até no último arrátel de pólvora e de pão; e quando, uma ou outra rara vez, isso não se cumpria, a cabeça do desobediente caía sob o cutelo do carrasco. Porque então as nossas elites sabiam mandar e as massas sabiam cumprir é que temos na nossa história a defesa de Diu, que valeu a António da Silveira a satisfação de ter o seu retraio, pintado por ordem de Francisco I, rei de França, na galeria das celebridades existentes no Palácio Real.
Pois bem! Se nós, Portugueses de hoje, somos os descendentes de tais heróis; se nos corre nas veias o seu sangue; se o esforço de regeneração nacional que vimos executando há vinte e cinco anos nos mostra que as virtudes da raça estão intactas, por termos um chefe e executores de grande classe, porque não olharmos com serenidade e firmeza as ameaças de inimigos que, por sua vez também, têm nas veias o mesmo sangue daqueles que há séculos foram vencidos por nós?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O exemplo alheio.
Mas se os Franceses obedeceram à imposição do Governo Indiano para abandonarem as suas feitorias, porque não faremos nós outro tanto?, dir-nos-ão ainda os mesmos homens prudentes, que consideram a resistência um sacrifício inútil e tolo. Se aquele país tem ali, como na Indochina, seguido na esteira da política de abdicação de Holandeses e Ingleses, porque não nos integramos nós também em tal movimento?
Mas é que o nosso caso é muito diferente! Nós não estamos perante um estado de espírito público goês favorável à integração na União Indiana; nós não estamos perante sublevações locais de enorme amplitude, reclamando a saída do país de Holandesses, Ingleses e Franceses, conforme os casos; na nossa Índia, como em nenhuma outra província portuguesa, não se observam quaisquer sintonias de independência ou desejos de integração nos territórios limítrofes por parte das suas populações. A cedermos, teria de ser perante estrangeiros ambiciosos e vorazes; a fazê-lo hoje, diante da União, não haveria razão para que não fizéssemos amanhã outro tanto perante a China; e depois perante a Indonésia; e em seguida, e ainda, perante quantos se viessem a lembrar de reivindicar a