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52 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 56

história, um bocado da sua própria pátria; é, enfim, um bocado da si mesmos.
Os Portugueses da Índia são, de há cinco séculos, elementos da nossa própria cultura e a sua devoção à Pátria neste momento é prova de uma comunidade intrínseca de valores espirituais que há que respeitar e admirar.
Os Portugueses, quer sejam europeus, africanos ou asiáticos, vibram nesta hora de fé, certos de que a ponderação e a calma dos grandes homens de Estado não faltarão para verem a verdade da Justiça antes de impelirem um povo nos caminhos da justiça da Verdade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Sr. Presidente: afirmava Renan, em seus Discursos e Conferências, a propósito da nação, as palavras seguintes, que são tidas ainda hoje em conceito magistral:

O elemento essencial da unidade nacional deve procurar-se na comunidade de tradições, de necessidades e de aspirações. A humanidade -diz-se- é formada por mais mortos do que vivos. A nação é formada também por mais mortos do que vivos. A recordação das batalhas travadas, dos triunfos obtidos e, sobretudo, das derrotas sofridas em comum contribui poderosamente para criar e precisar a solidariedade nacional. A comunidade de tradições desempenhou em todos os países um papel capital. E, nesse sentido, diz-se muito justamente que a nação é uma formação histórica.

Estas palavras de Renan traduzem a verdade tão indiscutível de que entre os indivíduos da mesma nação se estabelece uma interdependência muito forte, resultante, não só da sua vida em sociedade, mas ainda da comunidade de aspirações e de necessidades presentes, do sentimento do papel que os homens da mesma nação devem desempenhar em comum no Mundo, da necessidade de defender o mesmo património de ideias, de riquezas morais ou materiais.
E porque às forças armadas compete, na essência do próprio Estado, a função de defesa e manutenção da sua integridade moral e material, o mesmo é que a zelosa vigilância da sua soberania entre as nações, compreende-se que o militar deva ser, por natural formação, o defensor estrénuo do ideal da pátria e o servidor fiel da nação.
Por tudo isto, também, a sua formação e o seu temperamento andam naturalmente arredios dos problemas da política, que apenas lhe interessam em momentos muito extremos ou em circunstâncias muito graves. Esses momentos e essas circunstâncias são aqueles em que periga o futuro ou a segurança da nação, em que se despreza ou se ofende o brio e a dignidade da pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O militar, afastado dos problemas mesquinhos e das questiúnculas políticas, quer manter-se alheio às paixões internas, senhor apenas do zelo e da dignidade da nação. O seu afastamento não significa alheamento ou esquecimento, mas sim tão-sòmente o desejo de intervir acima das paixões e servindo apenas e sempre o interesse da pátria.
Por tal motivo, é hábito nas fileiras militares os problemas nacionais serem estudados e meditados com a ânsia de os ver resolvidos, mas com desinteresse pelas discussões, por vezes apaixonadas e tumultuosas, que neles se enredam.
Se, porém, eles trazem perigo ou prejuízo à noção, o exército sente-se vibrar na calma austeridade dos seus princípios..

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foram estas ideias que levaram um dia o notável jornalista português Moniz Barreto a escrever acerca dos militares:

Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem, como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a vida! Publicistas de vista curta acham-nos caros de mais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço da sua sujeição eles compram a liberdade para todos e a defendem da invasão estranha e do jugo das paixões.

É, pois, nos momentos graves, e só nestes, que o Exército se pronuncia, deixando até aí manobrar a diplomacia e a política.
A diplomacia, quando servida pela razão e pela justiça, ganha por vezes grandes batalhas. Uma altura chega, porém, segundo Foch diz na sua Conduta da Guerra, em que não resta mais do que pôr de parte a pena e pegar na espada, definindo assim que a acção militar não é mais do que a continuação da política por outros meios.
A humanidade inteira ama a vida pacífica, e os povos laboriosos e dedicados ao serviço da civilização, como o nosso, desejam ardentemente a paz. Todas as nossas tradições políticas assentam sobre a ordem interna e a harmonia universal. Desde há quatro séculos que não entramos em luta senão para defesa dos nossos povos e dos nossos territórios de aquém e de além-mar. E este exemplo de quatro séculos bem merece ser meditado, no seu contraste com as doutrinas de certos Estados jovens, que, amparados a princípios de «não violência», vão atropelando por esses mundos a integridade e a soberania alheias.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As ideias pacíficas que possuímos não traduzem mais do que o sincero desejo que temos de nos devotarmos à obra de civilização e de progresso a que nos entregámos em todos os territórios que estão à sombra da nossa bandeira.
Atente-se, porém, que se verifica fàcilmente na história destes quatro séculos a que me refiro que, se somos tão orgulhosos deste espírito pacífico que nos anima, não somos menos ciosos da independência e da soberania que possuímos, do respeito, que nos é devido pela nossa honra e dignidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E sentimos, todos mós, Portugueses, que a honra e a dignidade se não medem nem pela riqueza, nem pelo poder, nem pelo império. Grandes ou pequenos, os povos, como os homens, devem atentar que a dignidade e o respeito sobrelevam a riqueza vil do opróbrio, mesmo para além dá morte.
Estas ideias tiveram-nas sempre bem excelsas as mulheres portuguesas de Diu nos cercos famosos que ali ocorreram e legaram-nas de seguro aos seus filhos e descendentes.

Na vida pacífica e activa, de muitas gerações de portugueses da Índia sempre brilharam firmes estes princípios.