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304 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 66

acabado edifício da Câmara, aguarda a chegada da sua hora.
Mas todos sentimos, graças a Deus, o mesmo entusiasmo para lutar em favor do distrito que nos elegeu.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Vou agora referir-me a outros problemas de magna importância para a vida da cidade, problemas de ordem espiritual, problemas de cultura, problemas de educação, Intimamente ligados a problemas materiais de grande alcance no futuro da mocidade, com o sangue e a vida da qual se criam e mantêm as pátrias na sua grandeza e na sua imortalidade.
Sr. Presidente: no ano findo, que se chamou, e com boa razão, o Ano Garrettiano, prestou-se no Porto justíssima homenagem à memória de Ramalho Ortigão, inaugurando-se a sua estátua, homenagem que não teve a merecida e devida grandeza, mas que evocou, na sua simplicidade, a memória de um português da mais alta estirpe moral e intelectual.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- E é de salientar, ao lembrar o nome de dois portuenses tão ilustres, Garrett e Ramalho, a tendência comum em ambos da renovação nacionalista, de puro portuguesismo, notàvelmente patenteada através da obra que nos legaram.
De há muito se impunha esta prova de gratidão para quem foi dos maiores e mais completos prosadores do século passado. Não serão, porém, só as suas qualidades de estilista fino, preciso, claro, o seu mais elevado mérito.
Ramalho Ortigão exteriorizava exuberantemente o culto do que era genuìnamente português; do seu povo, dos seus costumes, das suas paisagens, das suas virtudes, que tão brilhantemente exaltou em alguns dos seus livros, livros de puro jornalismo, vivo e colorido, documentário pitoresco e humano de virtudes e defeitos que nos são peculiares.
Soube como ninguém apreciar e criticar a sociedade em que vivia, saturada de mau gosto, rotineira e pretensiosa. Causticou vivamente os seus erros, desnudando-os com a mais fina ironia e criando normas disciplinadores, educativas, contra os desmandos sociais e morais, normas abonatórias do seu bom senso e da sua fecunda inteligência.
As Farpas, obra inigualável, pluriforme, de apreciação e critica à sociedade da época, originaram um movimento de renovação do pensamento nacional. Literàriamente perfeita, é valorizada pelo alto sentido educativo, moralizador e patriótico que as ditou.
Ramalho, que conhecia todos os recantos da terra portuguesa, foi impenitente viandante, admirador de outras terras e outras gentes, e A Holanda, obra maravilhosa, encerra no seu poder descritivo toda uma série de quadros onde refulge o brilho do seu talento e do seu inexcedível espirito original, inconfundível, de vigorosa observação, como admirador e propagandista das belezas incomparáveis desse país.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Sr. Presidente: no velho Jardim da Cordoaria, de frente para o antigo palácio, transformado agora em cadeia civil, lá está a sua estátua, oferta do Ministério das Obras Públicas à cidade onde Ramalho nasceu.
Não nos parece adequada a escolha do local onde o monumento assenta, ainda que os jardins sejam os lugares mais próprios para lembrar os grandes vultos das
letras, mas aquele local é inadequado. E porque como nós pensamos pensam igualmente muitos, à Câmara Municipal do Porto pedimos não esquema dar-lhe o prometido lugar, mais de acordo com a lição da vida, na fidelidade à sua terra.
Ramalho Ortigão foi um homem do Norte, um portuense nato. Foi alguém, possuidor das virtudes que enobrecem uma vida e são herança legada aos seus contemporâneos.
Ramalho, que pôs todo o seu zelo e todo o seu brilho na defesa das riquezas artísticas do seu país, na propaganda das ideias sãs e justas relativas à educarão moral e física do povo, que foi apóstolo incansável da valorização da rara, bem merece que o seu prestígio de homem de leiras seja exaltado e admirado.
Desta tribuna, e como Deputado pelo Porto, lhe deixamos aqui o preito da nossa admiração e da nossa homenagem, que, embora singela, traduz o pensar e o sentir daqueles que sabem apreciar com justiça a lição de uma vida de talentoso escritor e extraordinário homem de bem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: o Ministério da Educação Nacional, com a plena consciência das suas responsabilidades, vem realizando, com persistência e método, uma obra notável, merecedora do mais franco aplauso. Prestando-lhe justiça, que lhe é devida, quero neste momento lembrar algumas realizações que representam grande tarefa, dando satisfarão a anseios de uma população que sabe ser grata e justa.
No ano findo enriqueceu-se a Universidade do Porto com a criação da Faculdade de Economia, criarão inteiramente justificada, que trouxe à zona norte do País incalculáveis benefícios. Está decorrendo o segundo ano da sua actividade docente, e o número elevado de alunos que já a frequentam claramente demonstra o acerto desta medida, devendo, dentro do prazo normal, tornar-se numa Faculdade de extraordinário movimento, em harmonia com as características comerciais e industriais do meio.
Bem o compreendeu e o previu o Sr. Ministro da Educarão Nacional, que na sua última visita ao Porto quis observar e estudar a adaptação do actual edifício da Faculdade de Medicina às futuras instalações da Faculdade de Economia, visto aquela dever ser transferida, dentro de dois anos, para o Hospital Escolar, em fase adiantada de acabamento. Ao Porto não passou despercebido este facto, com o qual todas as suas actividades rejubilam. E o Centro de Estudos Humanísticos, criado pelo Instituto de Alta Cultura e mantido com o auxílio da Câmara Municipal, ali terá também a sua sede, de que tanto necessita.
Sr. Presidente: o Sr. Ministro da Educação Nacional, personalidade corajosa nas suas decisões, está sempre pronto a praticar netos de justiça. Sabe bem que o Porto só pede aquilo a que tem direito para o seu progresso, e, pela minha voz, chama a atenção de S. Ex.ª para as péssimas instalações do Liceu Feminino Rainha Santa Isabel.
Aquela cidade possui três liceus: dois masculinos - D. Manuel II e Alexandre Herculano- e um feminino - Carolina Michaëlis-, instalados em edifícios modernos. O último a edificar-se - o Liceu Carolina Michaëlis- possui instalações modelares, dignificando e honrando os dois Ministérios - Educação Nacional e Obras Públicas - que em conjunto têm desempenhado com o mais elevado sentido uma tarefa de engrandecimento nacional.
Pois bem, Sr. Presidente! Existe no Porto um outro liceu, liceu feminino, que não possui os mais elemen-