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494 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 77

À propaganda no País, não sendo absolutamente inútil, julgo, porém, que não deve ser excessiva. Apesar disso, verifiquei, sem espanto, devo confessá-lo, porque já o sabia, que o Instituto do Vinho do Porto despendeu com propaganda, no período de 1946-1903, 6:506.289$84 no mercado interno e apenas 1:276.258$95 nos mercados externos, donde concluo que as coisas foram mal conduzidas, apesar de o trabalho deste organismo, neste capítulo, ser ainda, e de longe, melhor que qualquer outro.

O Sr. Alberto de Araújo: - V. Ex.ª não ignora que, dado o condicionamento da importação, só está fazendo uma propaganda na Inglaterra, paru a qual o fundo contribui com 2000 contos no que se refere ao vinho do Porto e 300 coutos pelo que respeita no vinho da Madeira.

O Orador: - Sei que o Fundo está fazendo essa propaganda e é exactamente por esse facto que protesto, visto que tal propaganda deveria continuar a ser feita pelo Instituto do Vinho do Porto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O Secretariado Nacional da Informação, mesmo no campo nacional, também no sector da propaganda se não alargou muito e no internacional mal lhe encontrei as pegadas.
Deu à luz, e em português, um trabalho estupendo, de apologética vinícola, intitulado Roteiro do Vinho Português, que ninguém lê, por desgraça nossa.
O melhor que fez foi um sucinto bosquejo em inglês, encapado com um desenho alusivo aos tempos napoliónicos e ao grande Wellington, historiando a arte vinícola desde a época da pedra lascada The history of wine and wine-making is as old as civilization itself, em que, aludindo às magníficas qualidades dos nossos vinhos em geral, nos informa das preferências de Catarina da Rússia e do grande Pitt pelos vinhos do Porto, enquanto Byron dividia os seus gostos entre o Porto e o Bucelas.
E foi tudo.
Depois, cansado, tremeu ... tremeu e quedou-se silencioso.
No estrangeiro, e nos chamados mercados tradicionais, onde o vinho do Porto já é, aliás, muito conhecido e apreciado, a propaganda é necessária, não só para a conservação desses mercados como para o seu desenvolvimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os principais desses mercados são: a Grã-Bretanha, a França, a Bélgica, a Suíça, a Alemanha, a Suécia, a Noruega, a Holanda, o Eire, a Dinamarca, na Europa Ocidental, e o Brasil, na América do Sul.
Quanto à Grã-Bretanha, já anteriormente desenhei o respectivo quadro, que é francamente desanimador.
O mesmo acontece em relação a todos os outros mercados, com excepção da Bélgica e da Suíça.
Lendo com atenção os documentos que foram postos à minha disposição pelos vários departamentos da Administração, a quem endereço os meus sinceros agradecimentos, apura-se que na Grã-Bretanha se renunciou à luta pela redução das taxas monstruosas da importação ou pela elevação para 17º da linha divisória da graduação alcoólica, e que a propaganda é alimentada pelo Fundo de Fomento de Exportação e pelo comércio interessado, tendo-se gasto 50 000 libras, que os números mostram ter sido em pura perda.
A propaganda limita-se à acção da Casa de Portugal, cujo director tem por funções administrar o fundo de publicidade e assistir às reuniões da Port Wine Shippers Association, exposição de um mostruário na Casa de Portugal dos produtos portugueses, distribuição gratuita de folhetos e recepções, além do cultivo de relações oficiais.
Para propaganda a sério, num mercado que é preciso reconquistar, entendo que é muito pouco.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em França as coisas têm corrido um bocadinho melhor, mas verifica-se que em toda a parte a propaganda do vinho do Porto anda à mistura com as cortiças, as resinas e outros produtos de exportação, quando deveria ser especializada.
Na Suíça é o Centro Português de Informação que actua, e por sinal que bastante bem, ainda que em escala reduzida.
Na Bélgica a actividade pertence ao Solar de Portugal, de iniciativa do Instituto do Vinho do Porto, e de que o Fundo do Comércio Externo lançou mão, e que enviou para Lisboa um plano completo e pormenorizado de propaganda do vinho do Porto, elaborado por técnicos belgas de reputada categoria, que certamente adormeceu no fundo de qualquer gaveta. A Câmara de Comércio Belgo-Portuguesa, sem recursos, grita por uma intensa campanha de propaganda e oferece o seu concurso.
Grita, mas não é ouvida.
E na Bélgica a luta comercial é intensa: a propaganda acesa, cuidada, tenaz e vigorosa.
E nós cruzamos os braços.
Se perdermos amanhã este mercado, a culpa é toda nossa.
Nem vale a pena falar nos restantes países da Europa. Os nossos vinhos, todos os nossos vinhos, incluindo o vinho do Porto, vogam ao abandono pelos mares da concorrência e só às suas altas qualidades devem a procura que ainda têm.
Quanto a mercados novos, a inércia é ainda maior.
A América do Norte pode e deve ser um grande mercado para muitos dos nossos produtos, designadamente de vinho do Porto, tão grande que ele por si só poderia vir a ser capaz de absorver toda a nossa produção. Os serviços comerciais da nossa Embaixada elaboraram um estudo completo sobre o assunto, que tenho em meu poder.
É um trabalho sério, consciencioso, perfeito.
Não me consta que se lhe tenha tentado dar execução, talvez com medo a despesas.
O Instituto do Vinho do Porto mostrou-se igualmente conhecedor das magníficas perspectivas daquele mercado. Estudou o assunto, inquiriu da maneira prática de o conquistar, viu as possibilidades e a forma de o fazer, recebeu de casas especializadas propostas para se realizar a necessária propaganda.
Como estava privado de meios, retirados para o Fundo de Exportação, deu conhecimento desses estudos, dessas propostas.
E tudo dorme no fundo das gavetas o beatífico sono dos justos.
Oxalá, quando acordarmos da letargia desse sonho, não soja tarde de mais e não encontremos o lugar ocupado já por outros concorrentes.
Em qualquer dos cases a economia nacional e a economia duriense terão, no intervalo, sofrido perdas irreparáveis, porque hoje, mais do que nunca, a propaganda ó indispensável e não possível recolher sem primeiro se haver semeado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!