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8 DE FEVEREIRO DE 1955 439

O Orador: - Sr. Presidente: o tema é aliciante. Voltarei a ele noutra ocasião, porque hoje sinto que não posso nem devo ir mais longe.
No campo da concorrência é necessário lutar, no esforço de uma propaganda eficiente, embora cara.
O desânimo ou o desalento nunca levaram à vitória. Sempre conduziram à derrota.
Temos lutado e vencido em muitos campos mais difíceis ainda. E venceremos neste também, se nós quisermos, porque temos as melhores armas que são os melhores vinhos.
Tenho dito.

Vozes : - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sousa Machado: - Sr. Presidente: sem ligações directas com os problemas da viticultura, talvez devesse limitar-me a seguir com atenção as oportunas considerações de tão distintos colegas, que têm versado este assunto com a elevação e a dureza que lhes são peculiares. Aliás, por pouco eu poderia dizer como Duarte Nunes de Leão:

Fallo nisto sem pejo porque os que me conhecem sabem que sou mais bebedor de agoa que de vinho aa custa de hua valente asma incurável que por isso ganhei, e como zeloso que sempre fui do bom governo publico !!...

Mas o problema, tal como se apresenta, não se confina ao âmbito da viticultura, antes afecta toda a economia da Nação; e só esse motivo me impede de continuar na posição de simples e atento espectador.
É evidente que a viticultura nacional atravessa uma crise aguda e sofre perdas consideráveis, dada a baixa dos preços dos vinhos das colheitas de 1953 e de 1954 em relação às anteriores.
Não indo muito além do âmbito económico interno a movimentação dos vinhos, a verdade é também que não são apenas os vinhateiros a sentir e a sofrer as consequências dessa depressão, pois há uma irrecusável solidariedade económica que a torna extensiva a todos os sectores activos.

Vozes : - Muito bem !

O Orador: - Na emergência presente temos de contar na movimentação interna do bens com a paralisação correspondente a l 200 000 contos. mais ou menos. Não podendo estes ser rapidamente investidos em outras actividades, tal paralisado causaria perturbações à economia da Nação, porventura muito sérias.
A verdade é que as populações vinhateras respectivas não poderiam seguir com a mesma rapidez o movimento deste capital, tornado de tal maneira flutuante, e nos arriscaríamos a assistir à trágica situação de ver revertidas ao monte primitivo tantas encostas hoje cobertas de vinhedos verdejantes, que nos dão a medida do nosso puder criador e fazem o encanto da nossa terra.

Vozes : - Muito bem !

O Orador: - Como isto é inadmissível, a crise vinhateira há-de encontrar uma solução, pois nem descobrimos ocupação para a parte da população que a viticultura dispensaria se a sua crise não fosse removida (a emigração seria remédio triste e dificilmente aplicado a multidões), nem podemos resignar-nos com a ideia de que se desvaloriza profundamente uma boa parte do solo pátrio regado com tanto suor dos nossos trabalhadores.
Estamos certos, pois, de que o Governo da Nação que tão altas provas de inteligência e decisão tem mostrado na resolução dos problemas nacionais, vai dar-lhe solução imediata, tanto mais que poderá contar com a colaboração leal e interessada dos produtores.

Vozes : - Muito bem !

O Orador: - De resto, se a crise da viticultura não fosse resolvida, repercutir-se-ia nas outras actividades e serviços de forma que mal podemos prever; o não devo estar fora da verdade julgando, pelo que aqui se tem afirmado, ser essa a preocupação dominante de todos que por este magno problema se interessam e a do Governo da Nação, que, através do seu ilustre Ministro da Economia, já promulgou medidas tendentes a debelá-la.
Mas não será a crise vinhateira consequência, pelo menos em parte, de outras situações de depressão económica?

Vozes : - Muito bem !

O Orador: - Sr. Presidente: se a memória me não falha, foi em Julho de 1954 que tive ensejo de assistir em Coimbra a uma reunião de representantes de grémios de lavoura, preocupados com a crise vinhateira; e, desde então, fui levado a seguir, com a atenção que a minha vida permitiu, o desenrolar do debate que. compreensivelmente vem travando-se na intimidade da organização corporativa respectiva.
Foi assim que, pouco e pouco, se arreigou no meu espirito a ideia de que essa crise poderá ser mais uma consequência já de outras do que originada ela própria nas acções e reacções limitadas à produção e consumo do vinho: na verdade, só seria de aceitar esta última hipótese se as colheitas destes dois últimos anos se tivessem tornado abruptamente excessivas ou se o gosto pela bebida eminentemente nacional tivesse de repente desaparecido nas massas consumidoras.
Não sendo nem podendo ser assim; verificando-se que a 'grande maioria do consumo do vinho é atributo tias mossas mansas rurais; e se em larga medida a crise da viticultura é de facto consequência de outras crises, estas deviam afectar precisamente esses meios rurais.
Assim o problema começou a esclarecer-se no meu espírito. E confesso não ter ficado satisfeito com tal esclarecimento, além de tudo no receio de que a frise que hoje assoberba a viticultura se estenda, por sua vez, às outras actividades, nomeadamente a comercial e industrial.
Ora, sendo ela, como se me afigura, consequência já de outras crises ou depressões rurais, talvez possamos encontrar a sua explicação no preço dos outros .produtos agrícolas tabelados ou simplesmente vendidos abaixo dos preços que seriam para desejar.

Vozes : - Muito bem !

O Orador : - De facto, a tabela do trigo não cobro o custo da produção médio, e, se cobre, é apenas uma parte demasiadamente pequena da produção; o azeite anda tabelado a (preço inferior ao dos óleos coloniais; as batatas e os legumes mantêm-se sob a pressão de produções excepcionalmente favoráveis do estrangeiro e do ultramar, etc.
Das mossas grandes produções agrícolas tem-se salvo apenas, e felizmente, o arroz, cuja cultura tem remunerado regularmente, pelo menos a produção do Sul, pois parece que o mesmo se não dá com a do Norte (vale do Mondego especialmente).