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920 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 97

Física dos Sólidos e Fluidos, Acústica, Óptica e Calor, e Electricidade.
Hoje, quase meio século depois, faz-se ainda em oito semestres, por intermédio das seguintes cadeiras: amuais, Curso Geral de Física, Electricidade e Óptica; semestrais, Mecânica Física e Termodinâmica. Não incluo a Meteorologia e a Geofísica, criadas pelo Decreto-Lei n.° 35 850, de 6 de Setembro de 1946, e destinadas em particular aos indivíduos que pretendem ingressar no Serviço Meteorológico Nacional.
Se não considerarmos estas duas cadeiras, teremos que a actual organização do ensino superior ignora por completo o desenvolvimento extraordinário da física operado neste último meio século. Senão, vejamos: Todos temos bem presente, mesmo aqueles que anais afastados se encontram destes assuntos, o prodigioso desenvolvimento da física nestes últimos cinquenta anos.
Para dar uma pálida ideia da profundidade atingida pela revolução neste sector das ciências aplicadas limito-me a destacar os seguintes pontos fundamentais:

A teoria da relatividade, criada para se poderem interpretar determinados factos experimentais, veio modificar profundamente os conceitos clássicos de espaço e tempo. Permitiu também prever e calcular as colossais reservas de energia existentes na natureza.
A física quântica, cujo aparecimento proveio da necessidade de se poder abordar o estudo do sistema atómico, levou-nos a romper de vez com os laços que ainda nos prendiam à física clássica; os seus conceitos fundamentais, tais como: partícula, individualidade, determinismo, etc., sofrem uma transformação radical.

No período a que me estou a referir, de plena expansão da física, nasce nesse sector das ciências aplicadas uma série de novos capítulos, dos quais destaco os seguintes: a electrónica, a cibernética, a teoria do estado sólido, a física atómica e nuclear.
Foi a criação destes novos ramos da física que permitiu o progresso observado nos miais variados sectores da técnica, tais como: transmissões de sinais, sons e imagens, radar, automaticismo, aproveitamento da energia nuclear, etc.
Mas mesmo que a física não tivesse sofrido a expansão apontada, o «eu estudo continuar-se-á a fazer em péssimas condições, se medidas adequadas não forem tomadas.. Se não, vejamos:
Em 1911, aquando da criação da Faculdade de Ciências, encontravam-se inscritos nas cadeiras de Física da Faculdade- de Ciências da Universidade do Porto cerca de cento e vinte alunos. Passados uns vinte anos o seu número já excede quatrocentos. Hoje, média dos anos de 1900 a 1955, atinge setecentos e oitenta. Para acompanhar este aumento de população escolar, vejamos qual a evolução dos quadros do pessoal docente.
Desde a criação da Faculdade de Ciências e até 1926 o quadro era constituído por dois professores ordinários, dois primeiros-assistentes (actualmente designados por professores extraordinários) e dois segundos-assistentes. Total: seis.
Pela reforma de 1926 quadro passou a ser constituído por dois catedráticos, um primeiro-assistente e trás segundos-assistentes. Total: seis também.
Hoje mantém-se ainda o mesmo número, a saber: dois professores catedráticos, um professor extraordinário, três assistentes. Isto é, enquanto a população escolar sextuplicou o pessoal docente manteve-se.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não quero, no entanto, deixar de apontar que, por volta de 1940, se começaram a contratar assistentes extraordinários para acudir às dificuldades provenientes da estagnação dos quadros. O número de assistentes contratados, que nunca excedeu quatro, atenuou um pouco as dificuldades, porém, não resolveu o problema.
Mas também gravíssimas deficiências se observam no que diz respeito ao pessoal menor dos laboratórios de física. Por volta de 1911 o serviço era feito por um guarda-preparador e dois contínuos assalariados. Em 1926 criou-se mais um lugar, ficando o quadro constituído por dois preparadores e dois contínuos. Foi de pouca dura este alargamento, pois já em 1930 se suprimiu um preparador. Hoje o pessoal menor em serviço no laboratório, constituído por um preparador e dois contínuos, é o mesmo que era há cerca de cinquenta anos, apesar de a população ter sextuplicado.
Fácil será ajuizar os prejuízos originados pela insuficiência do pessoal menor. Má conservação do material, impossibilidade de se realizarem determinados trabalhos, etc. Resumindo: o rendimento dos serviços laboratoriais é extraordinariamente baixo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A insuficiência de verbas em materiais e diversos encargos está também asfixiando a vida dos laboratórios de física das nossas Faculdades de Ciências. Para o demonstrar destaco que em 1953, 1952, 1951 o 1950 as verbas despendidas em aquisições de móveis (material de laboratório) não atingiram, respectivamente, 17, 15, 29 e 25 contos. Em resumo, uma verdadeira miséria.
Sr. Presidente: não quero também deixar de apontar uma disposição hoje em vigor, que de tal maneira compromete o ensino laboratorial da física que praticamente corresponde à sua pura e simples extinção. À disposição referida não permite que haja turmas de trabalhos práticos com menos de 25 alunos. Deste facto resulta, quase sempre, uma tal acumulação de alunos nos laboratórios que quase impossibilita a realização dos trabalhos.
Como poderá um assistente acompanhar simultaneamente os trabalhos individuais de 25 a 49 alunos, se nem pode contar com um auxiliar da laboratório que permanentemente o auxilie?
Mesmo que as instalações dos nossos laboratórios de física tivessem capacidade suficiente e possuíssem material conveniente, nunca se poderá melhorar sensivelmente o rendimento do ensino enquanto tal disposição se mantiver.
Acudamos, quanto antes, a este ramo do ensino superior, que tanto e tanto convém acalentar e desenvolver. Se o não fizermos, onde procurar amanhã aqueles indivíduos que serão os auxiliares preciosos e indispensáveis do nosso futuro desenvolvimento económico?
Sr. Presidente: para não alargar excessivamente esta exposição, na qual apontei o abandono a que tem sido votado o ensino da física, sòmente destacarei mais uma questão: as péssimas condições que presidem actualmente à selecção do futuro pessoal docente das Faculdades de Ciências.
Devido à própria natureza dos conhecimentos que nelas se ministram, os futuros professores só podem ser escolhidos de entre os actuais assistentes. Conviria portanto atrair às Universidades os melhores alunos acabados de formar. Ora quase sempre, e pondo de parte honrosíssimas excepções, verifica-se o seguinte: os alunos mais capazes afastam-se da Universidade, pois encontram fora dela melhores condições económicas e futuro mais garantido.