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15 DE DEZEMBRO DE 1955 193

de grande responsabilidade junto dos governos onde se encontrava acreditado.
Ministro de Estado do primeiro Governo constitucional da República, sobraçando a pasta do Fomento, o seu nome ficou vinculado a trabalhos preparatórios de reconstrução e progresso da nossa terra.
Foi verdadeiramente personalidade de uma rara e radiosa envergadura mental, com intensa preparação intelectual, social e política, bem adequada ao desempenho das altas fundões que o destino lhe havia reservado.
Mas é especialmente no plano político - e a política é a fonte vital das instituições - que neste instante o queremos Lembrar, fazendo justiça e prestando homenagem à sua memória, ao seu espírito e ao seu carácter, bem modelado em ouro e em aço finamente temperado.
A data cuja comemoração celebramos na Assembleia Nacional é data, tristemente assinalada pelos horrores de um crime, motivo de uma grande tragédia, que conduziu ao limiar de eternidade um dos nossos mais ilustres e mais representativos homens de Estado.
E esse crime abominável, sangue generosamente derramado em espírito de sacrifício, vendaval de trágica catástrofe, perpetrado contra todos os sentimentos de amor pela Pátria, lançou por terra a obra de verdadeira redenção nacional, iniciada desventurado Presidente, obra que, após largo interregno, pôde ser recomeçada em 28 de Maio, como fruto de abençoada sementeira precursora da época de grandeza, ordem, tranquilidade e tolerância em que presentemente vivemos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: para se compreender o significado ideológico tia revolução de Dezembro de 1917 é necessário conhecer-se o clima instável, a atmosfera pesada em que o País vivia na hora em que esse movimento deflagrou; movimento verdadeiramente nacional e republicano na sua origem e nos propósitos que o tornaram vitorioso.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - As suas causas originárias {oram as mesmas que alguns anos depois fizeram eclodir a revolução pacífica e salvadora do 28 de Maio.
As lutas partidárias assumiam carácter de viva intensidade. O respeito pela lei, obediência à autoridade, reconhecimento da hierarquia, sofria um desprestígio constante.
A ignorância ou não aplicação dos princípios essenciais, base em que assenta a vida da sociedade, revelavam fraqueza governativa como corolário consequente da sua débil acção.
A política estéril tudo dominava e os mais prementes interesses da grei eram esquecidos, esquecidos eram os grandes problemas nacionais: financeiro, económico e social, relegados para o perigoso plano inclinado das promessas vãs.
Tudo se perdia na agitação e na desorganização das actividades necessárias ao progresso e à vida da Nação. E Sidónio, na sua exaltação de amor patriótico, inteiramente dominado pela mística plena de devoção pela Pátria, quis pôr termo a período tão agitado, num sonho de redenção, integrando a República na sua pureza, como ele afirmava. E o 5 de Dezembro surgiu, e com a vitória iniciar-se -ia novo ciclo na, vida nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foram as virtudes sempre comprovadas dos nossos soldados, levando como guarda avançada essa plêiade entusiástica e brilhante dos rapazes da Escola de Guerra, comandados por oficiais distintos e capazes, algum dos quais eu vejo e saúdo neste instante, depositários das mais altas virtudes militares - valor, lealdade e mérito -, património e orgulho magnífico da grandeza e da responsabilidade da sua alta função, que tornaram vitorioso o 3 de Dezembro, abrindo clarão de esperança na vida sombria da Nação.
Mas esse rutilante clarão, labareda intensa de fé, depressa se extinguiu. A morte do Presidente é página criminosamente negra na História de Portugal...

Vozes: - Muito Item!

O Orador: - . . . como páginas igualmente negras são aquelas que o sangue do grande rei que foi D. Carlos e do esperançoso príncipe real D. Luís Filipe manchou, para satisfação de sentimentos de ódio, vingança, e traição albergados em corações que têm na prática do crime o seu mais forte estímulo.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Quais as razoes que levaram a cometer-se tão horrendo atentado? Sidónio Pais quis opor à tirania dalguns a liberdade de todos. Ao ódio e à mentira que dividiam a família portuguesa, a verdade c, o amor. A injustiça, a razão e o direito. Quis ordem e moralidade na administração do Estado, em harmonia com a formação do seu carácter, da sua mentalidade.
Individualidade de grande projecção intelectual, moral e cívica, dotado de uma sólida formação política e humanística, inspirando séria confiança à nação inteira, mostrou sempre grandeza de alma no conceito que possuía da liberdade, defensora dos deveres e dos direitos essenciais da pessoa humana. E a Igreja não pode esquecer que um dos seus primeiros actos governativos foi a anulação dos castigos aplicados aos bispos e a outros ministros da religião católica e o restabelecimento de relações com Santa Sé.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, -.10 falar no restabelecimento das relações com a Santa Sé. não posso nem devo, no instante supremo em que fazer inteira justiça- se impõe, esquecer o grande ministro de Sidónio Pais. Egas Moniz - defensor acérrimo desse memorável e transcendente acto, que ao Presidente prestou toda a sua leal, dedicada e valiosíssima colaboração e apoio.
O Prof. Egas Moniz, que acaba de desaparecer, entrando no reino da imortalidade, individualidade das mais notáveis du mundo actual, grande pensador e cientista, médico eminente, Prémio Nobel da Medicina de 1948, investigador profundo, diplomata e Ministro de Estado, merecedor das maiores homenagens perante a humanidade inteira, é bem digno, na hora que passa, de ser lembrado ao lado de Sidónio Pais, com quem colaborou tão devotadamente.
Austero, corajoso, enérgico, voluntariado e valente, de um idealismo sincero, vivia as aspirações, os anseios e as necessidades do povo, trabalhando devotadamente pelo seu bem-estar.
Firmemente situado no plano das ideias resolutivas dos magnos e variados problemas em que assentava o progresso da terra portuguesa, tentou dar novo rumo à vida nacional nos seus variados aspectos, combatendo o negativismo anárquico e proclamando os benefícios de uma política construtora e realizadora, inspirada