DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 109 194
na, confiança e RO respeito pela ordem, pela disciplina e pela moral.
E durante o curió período de um escasso ano Sidónio Vaia, gozando de um enorme prestígio de chefe, vitoriado e aclamado de norte a sul do País como nenhum outro o havia sido, multiplica-se e trabalha intensamente no traçado das directrizes supremas que iriam renovar o Estado, que ele queria autoritário e corporativo em todos os sectores da sua actividade.
E no campo da política, no seu aspecto financeiro, económico, social, intelectual e moral, revelando tis suas naturais qualidades de estadista, adoptou medidas verdadeiramente revolucionárias para a época, mas indispensável à boa e normal marcha dos negócios públicos, e a sua enumeração seria muito longa.
Sidónio tinha o culto da sua missão e, como republicano de princípios que sempre professou e jamais traiu, quis dar ao regime, como ele afirmava, aquela pureza que sempre sonhou.
E do alto desta tribuna, quando presidia à abertura solene da legislatura, que em novos moldes, semelhantes aos de hoje, se inaugurava em 25 de Julho de 1918, traçou eloquentemente o seu programa de governo, justificando todas as medidas decretadas até ao momento uni que ia entrar-se no novo regime constitucional. E esse discurso, que eu tenho na minha frente, contém afirmações que claramente definem personalidade de tanta valia:
Nunca trairei os princípios republicanos que defendo, sendo necessário que todos trabalhem para o engrandecimento da Pátria. Quem tiver a compreensão dos seus direitos e dos seus deveres saberá servi-la.
Assim falava quem à sua volta quis reunir todos os portugueses de boa vontade, fossem quais fossem os credos políticos, ambição que não teve a alegria, de viver realizada. Desfrutando da inteira confiança das massas populares, que nele viam o seu incontestado chefe, encarado nenhum outro as virtudes da Raça e batendo galhardamente pêlos seus princípios, faltou a Sidónio o apoio dos partidos políticos organizados, que, na sua cegueira, não quiseram compartilhar da sua obra sincera, obra de renovação, iniciada por um alto espírito de grande; e respeitado português.
Mas sempre, em todas as circunstâncias - é preciso afirmá-lo, e afirmá-lo bem alto -, encontrou Sidónio Pais o apoio - eminentemente patriótico do partido monárquico, que colocou no plano mais alto do seu programa u paz, o progresso e o ressurgimento da Pátria. E se o seu lema a sua divisa, a trilogia Deus, Pátria e Rei não podia viver em toda a sua grandeza, em todo o seu esplendor. Deus e a Pátria eram um vínculo suficientemente forte para selar perante Sidónio Pais um compromisso de honra que não podia quebrar-se.
Sr. Presidente: o desaparecimento de Sidónio Pais criou gravíssimos problema* à vida da Nação. Aos momentos de dúvida sucederam-se períodos de inquietação, que sacudiram fortemente a tranquilidade em que decorria a vida portuguesa.
São decorridos trinta e sete anos e temos bem viva e bem presente a lição, dura lição, recebida e aprendida no período que se lhe sucedeu. Não podem e não devem esquecer-se acontecimentos e ensinamentos colhidos nesse passado distante, desprezando miragens enganadoras, e continuando a nossa marcha serena e firme, sem desvios, no caminho da renovação e do engrandecimento da Pátria a quem todos dedicamos o mesmo afecto.
Sr. Presidente: Fernando Pessoa, o grande e inolvidável poeta nacionalista, que hoje ocupa, por direito de conquista, unanimemente reconhecido, o mais elevado grau na hierarquia do pensamento português contemporâneo, dedicou a memória do Presidente o seu Poema, Heróico, em que são cantadas com mística e sentimental beleza a vida e a morte de Sidónio.
Na leitura e na meditação desse poema, sinfonia heróica que um sopro trágico culmina, vive assombrosamente, em toda a sua grandeza e em todo o seu esplendor, o idealismo nacionalista de um homem cujo nome ficou gravado no coração do povo.
Sr. Presidente: à sombra das majestosas arcarias das naves do Mosteiro dos Jerónimos, cujas pedras seculares são evocação sentida das imorredouras glória» de como pátria, grande e respeitada pelo abnegado e hierárquico esforço dos seus filhos, dorme Sidónio Pais na tranquilidade perpétua de uma consciência, produto do dever honrado e dignamente cumprido.
A seu lado descansa da longa vigília o marechal António Oscar de Fragoso Carmona, nome que e um símbolo de bondade, de sacrifício, de lealdade e da grandeza de Portugal, que com tanta inteligência, tanta distinção e tanta dignidade presidiu à obra gigantesca de renovação, que a História apontará como período dos mais brilhantes da nacionalidade.
Um e outro bem mereceram Pátria, como grandes Chefes de um povo, que dedicadamente serviram e amaram. Glorifiquemos neste momento o sacrifício heróico de Sidónio Pais, cujo último pensamento foi ansioso apelo dirigido à Nação: «Rapazes! Salvem a Pátria!».
E a sua derradeira exortação foi escutada e foi cumprida. O presente assim o afirma.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente: não é um elogio académico que vou proferir, mas simplesmente algumas palavras assinalando nesta Casa um lutuoso acontecimento de que há pouco tive conhecimento.
Todos presumem decerto qua se trata do desaparecimento da figura, por muitos títulos ilustre, do Prof. Egas Moniz.
Não vou falar dos variados a complexos aspectos da sua personalidade. Não vou traçar uma sua biografia pormenorizada ou vincar os passos mais importantes da sua obra científica e cultural.
Procurarei apenas registar, rapidamente, com o realce que merece, parte da acção, por vezes fulgurante, desenvolvida neste pais e fora dele, pelo eminente académico e médico que foi Egas Moniz.
É sobretudo ao seu labor investigador, coroado de um êxito único entre os dos trabalhos de investigadores portugueses -o Prémio Nobel-, que eu farei nestas minhas sumárias palavras uma alusão, que entendo ser absolutamente cabida, como expressão duma homenagem colectiva e pessoal.
Egas Moniz foi o nosso único consagrado pelo Prémio Nobel, num pais que tem tido, graças a Deus, através da sua história e sobretudo em períodos culminantes desta, manifestações bem patentes, bem impressivas, do valor da sua contribuição para o progresso da ciência e da cultura.
Fez Egas Moniz uma brilhante carreira universitária; primeiro na velha e gloriosa Universidade de Coimbra, onde foi professor, e depois também na Universidade de Lisboa, na cátedra de neurologia. Há, a meu ver, na sua vida cientifica, na sua vida de investigador, um encadeamento lógico que a muitos poderá ter escapado.
Como neurologista, interessou-se pêlos problemas candentes postos nos domínios da neurologia e da psiquiatria pelas desgraças da guerra de 1914. Escreveu um livro.