O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

376 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 118

A ilha de S. Jorge, de acordo com elementos que possuo, acusa possibilidades muito grandes de aumentar a superfície destinada à pecuária.
A ilha Graciosa, com os seus escassos 60 km2, tal como a do Corvo, pouco pode influir na pecuária do arquipélago.
No distrito de S. Miguel, a ilha de Santa Maria (pequena também - 97 km3) escassa influência terá na evolução do problema açoriano, mas pode intensificar-se largamente a sua riqueza pecuária, porque, nau obstante o aeroporto ter ocupado muito terreno destinado u criação do gado, existem ainda incultos agricultáveis.
A ilha de S. Miguel, segundo um estudo consciencioso do engenheiro silvicultor Estrela Rego mandado fazer pela Junta Geral, apresentava há vinte e cinco anos cerca de 240 km2 de incultos, dos quais 50 km2 de baldios.
A posição hoje é bem diferente, pois os baldios entregues aos serviços florestais estão a transformar-se em matas, certamente tão belas como as que a iniciativa privada criou, e os incultos particulares têm sido intensamente trabalhados. Estudo realizado há cerca de um ano considera ainda agricultáveis 13 000 ha aproximadamente, dos quais parte importante dará pastagem de boa qualidade.
A par do aumento das áreas destinadas a alimentação de gado, a qualidade dos pastos também será de considerar, e nesse sentido alguma coisa os Açores devem á Junta Nacional dos Produtos Pecuários, que manteve naquele arquipélago durante anos o engenheiro Cidrais, técnico muito dedicado e competente.
Na estação agrária da Junta Geral de Ponta Delgada aqueles estudos prosseguem ainda, sob a direcção superior do engenheiro Cidrais.
Especialistas que tenho consultado não se opõem à ideia de ver triplicada a população bovina dos Açores, o que corresponderia a um total de mais de 100 000 cabeças em cada distrito.
Isto quer dizer que o arquipélago pode fornecer 4000 t a 5000 t de carne óptima, visto o gado açoriano ser sempre classificado nus duas primeiras qualidades.
O frigorífico que vai ser construído com certeza, visto a Câmara Municipal de Ponta Delgada já ter assegurado empréstimo e comparticipação do Estado, em breve estará a dar as suas provas.
A visão dos administradores e dos técnicos da Junta Geral de há trinta anos orientou a pecuária bovina para a produção de leite, não esquecendo o
aproveitamente para ceva, e assim se chegou a animais de alta qualidade como leiteiros e de boa carne.
Outra raça foi introduzida recentemente por sugestão do intendente da Pecuária de Ponta Delgada, inteiramente aprovada pelo director-geral dos Serviços
Pecuários, cujos esforços, diligentes e inteligentes, em prol das nossas ilhas me apraz muito registar aqui; aquela raça bem classificada para leite e talho, mas mais rústica do que a holandesa, está destinada a obter melhor rendimento do que esta nas regiões montanhosas do distrito, nas quais o holandizado perde valor funcional.
Como as áreas ainda incultas se encontram todas nas zonas altas e montanhosas, considera-se de grande importância encontrar-se gado que nelas viva em melhores condições.
Ao fomentar o desenvolvimento pecuário dos Açores caminha-se no sentido de aliviar de forma sensível as dificuldades de abastecimento de carnes do País sem perigo de excesso, porque a qualidade da produção açoriana permite encarar a sua entrada nos mercados internacionais.
Não tem sido considerado economicamente viável, pelo menos naquelas ilhas, a exploração pecuária só para carne; a multiplicação do número de cabeças de gado vacum originará paralelamente o aumento da produção leiteira que é necessário colocar.
Já se produzem nos Açores lacticínios e subprodutos do leite cuja qualidade pode enfrentar qualquer concorrência e quando o ciclo económico da pecuária bovina encontrar o equilíbrio (e vai a caminho disso) poderemos ver os produtos do leite daquele nosso arquipélago na mesa do consumidor estrangeiro.
Vai no entretanto estudar-se a adaptação de raça destinada só a ceva.
Estou certo que as estradas de penetrarão em condições de servirem a lavoura açoriana, e elas comeram a aparecer nas zonas dos incultos, vão ter importante papel no desenvolvimento e melhoria económica da nossa lavoura. O Sr. Ministro das Obras Públicas, que apreendeu perfeitamente o problema no seu conjunto, está a prestar a melhor atenção àquela rede rodoviária e já tomou medidas para que as realizações não se façam esperar em S. Miguel e Santa Maria.
Sr. Presidente: pretendi somente pôr em evidência o auxílio que os Açores podiam trazer ao abastecimento de carnes do País, problema grave e parece-me, de difícil solução.
A participação açoriana poderá ajudar a tornar monos irregular o abastecimento e, assim, diminuir as causas de falta no mercado, cujas consequências de toda a espécie não é necessário citar.
Torna-se, porém, indispensável que o Governo facilite os trabalhos em curso pelas juntas gerais com o amparo dos serviços do Estado, que permita aquelas juntas a revisão dos seus quadros - pois é indispensável fazê-lo lá como cá e a propósito lembro o que há dias disse, e muito bem, o Sr. Deputado Melo Machado -, e que, para animar a lavoura açoriana, o consumo continental mantenha fidelidade à produção daquele arquipélago.
Reconheço e agradeço a colaboração que as direcções-gerais estão dando ao distrito de Ponta Delgada e considero de grande, importância os trabalhos de divulgação que a F. O. A. tem cm curso nos Açores.
Resumo as minhas palavras nas duas seguintes conclusões:

1.º Os Açores, com uma riqueza pecuária em constante subida, estão em condições de aumentar muito o contingente que ultimamente tem fornecido ao continente e podem fazê-lo com uma constância de grande utilidade para a regularização do abastecimento;
2.º O fomento da produção açoriana depende de. medidas governamentais de facílima execução.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - O debate continuará em ordem do dia da sessão de amanhã. Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 2 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Américo Cortês Pinto.
André Francisco Navarro.
António Pinto de Meireles Barriga.