16 DE MARÇO DE 1956 547
solicitados e também aos seus directos colaboradores, entre os quais me permito destacar com reconhecimento o nosso ilustre colega Sr. Comandante Tenreiro, mas não me esquecendo ainda da cooperação dos ilustres Deputados Sr s. Comodoro Viana e Comandante Sá Linhares, todos pela forma esmerada como satisfizeram as indicações ministeriais.
Merecem estes elementos, pela sua importância e qualidade, que demoradamente os inventarie para sobre eles fundamentar uma larga intervenção parlamentar após as férias da Páscoa.
Findo, como comecei, por agradecer os elementos facilitados e que isto sirva de salutar exemplo a certos serviços e organismos que, contrariamente no desejo manifesto dos respectivos Ministros, vêm delongando respostas e, quando acabam por enviá-las, são bem precárias e envelhecidas, económica e politicamente, e, às vezes, até se esquecem de responder; o menos que pode significar esse silêncio é desleixo, senão ineficiência.
Por estar no uso da palavra chamo a atenção do Governo, confiando como sempre na acção do Sr. Ministro da Economia e na Intendência-Geral dos Abastecimentos, para o que se passa em matéria de lacticínios e produtos hortícolas na região saloia, em especial em Louros, no abastecimento de Lisboa, em que os intermediários, com pouco trabalho, chegam a duplicar e a triplicar o preço dos géneros hortícolas comprados aos produtores, e, no que respeita aos lacticínios, as cooperativas continuam a desempenhar mal as funções de que se incumbiram.
Disse.
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Alberto Cruz: - Sr. Presidente: não há nada mais agradável no exercício das nossas funções de Deputados da Nação do que verificar que as palavras aqui por nós proferidas com o alto sentido de auxiliar a resolver os complexos problemas que afectam ou podem afectar a boa marcha dos negócios públicos tiveram acolhimento favorável nas entidades a quem foram dirigidas.
Há poucos dias chamei a atenção de vários departamentos governamentais para um assunto da maior gravidade - a crise da indústria têxtil e a precária situação criada aos seus operários, que se contam por muitos milhares.
Fui com a maior satisfação e também com muita esperança na sua actuação que soube, pelos jornais, da simpática atitude do Sr. Ministro das Corporações deslocando-se ao Norte do País a fim de apreciar in loco o problema em causa e ordenar imediatas medidas de emergência enquanto se estudavam outras soluções favoráveis e possíveis.
Tive ensejo de verificar o efeito dessa admirável atitude nos operários afectados, que continuam a esperar confiadamente as providências do Estado Corporativo, que, em casos anormais como o presente, agirá de forma, estou certo disso, a demonstrar as suas vantagens sobre outros regimes políticos, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para debelar a crise dessa importantíssima indústria e amparar todos os elementos que nela labutam.
Em situações tão graves e anormais como esta, tanto para o capital como para o trabalho, é que se deve actuar com tudo o que a nossa filosofia política apregoa e se devem pôr à prova as qualidades dos estadistas encarregados de as resolver.
Ao Sr. Ministro da Economia peço também para não descansar, nem deixar descansar, um minuto sequer, o seu estado-maior encarregado do plano de acção desta campanha, que é mister vencer, para o bem-estar de tantos lares portugueses, para prestigiar as instituições políticas quo nos regem e servimos e para prosperidade deste abençoado País em que nascemos, vivemos e muito amamos.
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Russell de Sousa: - Sr. Presidente: encerrou-se em Londres no passado dia 15 de Fevereiro, faz hoje precisamente um mês, a magnificente exposição de pintura, estatuária, ourivesaria, mobiliário e faiança que teve lugar nas galerias da Real Academia de Artes e a que os nossos velhos amigos e aliados chamaram «mil anos de arte portuguesa».
Ali foram expostas muitas das notáveis peças de arte quo possuímos: os painéis de Nuno Gonçalves, o grande pintor europeu do século XV, considerado por Francisco de Holanda «águias entre os mais célebres pintores do seu tempo; a custódia de Belém, obra-prima de Mestre Gil Vicente; entre outros, os retábulos de Vasco Fernandes, Cristóvão de Figueiredo e Frei Carlos; as nossas belas pratas; os cálices dos séculos X e XIII da Sé de Braga e do Museu Machado de Castro, de Coimbra; o relicário de Arouca, de tão grande sabor arcaico na sua forma e execução; a cruz processional do Museu Nacional de Arte Antiga; as faianças dos séculos XVII e XVIII; as tapeçarias e os brocados portugueses.
O Governo ao consentir que fossem enviadas a Londres, para assim serem vistas e apreciadas pelo público da grande nação, tantas obras de arte, de valor inestimável, muitas únicas no nosso património artístico, teve de vencer com certeza muitas dúvidas e indecisões, considerando os riscos imprevistos a que foram sujeitas essas verdadeiras jóias nacionais, tão queridas a todos nós. mas provou, no seu generoso gesto, a fraternal amizade que liga os dois povos aliados.
À nobre intenção do Governo corresponderam muitos coleccionadores particulares pondo à sua disposição o que de melhor possuíam, para assim se completar e enriquecer mais a representação portuguesa, e de tal forma foi feita a escolha dos objectos expostos - seiscentas peças cuidadosamente seleccionadas, qualidade e quantidade - que a crítica a considerou como a maior de todas as exposições nacionais que tiveram lugar na Real Academia nos últimos anos. Segundo os jornais, mais de cento e trinta mil pessoas visitaram a exposição, acorrendo muitas à capital de pontos distantes do território britânico.
Ao louvar a realização de tão notável empreendimento disse o presidente da Real Academia de Artes que tudo tinha sido obra de um homem - o Prof. Doutor Reinaldo dos Santos.
Bem merece o eminente professor o nosso reconhecimento pela forma como realizou a notável tarefa que o nosso Governo lhe incumbiu.
Estão a regressar ao País as peças de arte expostas em Londres, em remessas parceladas, por vários barcos, para reduzir os riscos de qualquer contratempo. Já se referiu nesta Câmara o ilustre Deputado Dr. Cortês Pinto, ao intervir no debate que se seguiu ao criterioso aviso prévio do Deputado Dr. Abel de Lacerda, ao facto ocorrido, após a Exposição de Paris de 1900, com o naufrágio do barco Santo André, no qual se perderam, entre outras obras de notáveis artistas contemporâneos, alguns trabalhos do grande rei-artista D. Carlos I, trabalhos de que ficou privado para sempre o património nacional.
Esperamos que tudo chegará a salvamento, mas não é de mais pensar nos riscos a que ficam sujeitas, com estas deslocações, tão valiosas e insubstituíveis peças de arte.
Sr. Presidente: ponho confiadamente à consideração do Governo um assunto que reputo de verdadeiro inte-