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19 DE JULHO DE 1956 1369

se pensa como homem de ciência, escreve, porém, como um literato, que o foi sempre, na elegância e justeza da forma.
Que belo exemplo para ilustrar e comprovar esta afirmação o de recordar o seu belo livro Organização do Crédito Agrícola em Portugal!
São páginas onde transparecem, a par do estudo e da crítica, que é feita primorosa e exaustivamente, a sua alma de artista e os seus primores de prosador, ao realizar a evocação histórica dos primeiros passos dos celeiros comuns, que os reis de então deram à lavoura de Portugal, num justo anseio de a proteger.
Foi político - mas a seu modo também -, mais por vontade dos outros do que pela sua, pois nunca o deslumbrou o sortilégio do Poder, e se insistentemente lhe foi oferecido um dia, pelo Presidente Sidónio Pais, um lugar no Governo - a pasta das Finanças -, mais insistentemente ainda foi por ele recusado; e obteve vitória: não foi Ministro!
Aqui, nesta mesma Assembleia, e como Deputado em várias legislaturas, não podia passar despercebida a sua presença. Orador de raça, e de um estilo pessoalíssimo, não deixava a quem o ouvia a possibilidade de fugir ao encantamento, não do verbalismo da eloquência, mas sim à naturalidade, elegância e clareza das suas palavras.
Foram passando os anos, e com eles passou também o advogado, o escritor, o político, actividades efémeras diante da que viria a ser longa: uma vida de financeiro, economista e incansável e competentíssimo administrador.
Há pessoas assim: dá-lhes Deus e o consenso dos homens uma tão vincada personalidade que as distingue e, por isso mesmo, as chama para os mais altos lugares ..., mas elas trazem tombem dentro de si tão grandes desejos de paz tranquila e justiça perfeita que o coração e o escrúpulo a toda a hora transformam em quase sofrimento a dádiva gloriosa.
O Doutor João Ulrich, que foi figura cimeira da vida do nosso tempo, timoneiro competentíssimo de algumas das maiores naus que, sob o seu comando, sulcaram o mar económico e financeiro da nossa terra, morreu no seu posto e em glória!
A cerimónia a que assistia, e a que deu, num último gesto de elegância - o último de tantos que tão natural e prodigamente praticou sempre -, a grande beleza moral da sua presença, permitiu-lhe dizer ali as palavras que ambicionava.
Disse-as, e disse-as certamente com o coração, pois foi por isso que, ditas elas, recordadas no relâmpago com que a vida se despede e nos mostra a nossa vida toda, o seu coração entendeu que já podia descansar para sempre ... e descansou!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Sr. Presidente: não quis deixar encerrar os nossos trabalhos sem, em muito breves palavras, aplaudir determinados diplomas do Governo.
Na sessão de 6 de Abril último, ao ocupar-me das importantes propostas relativas ao turismo e à indústria hoteleira, depois convertidas em lei, tive ocasião de referir os encargos e dificuldades suportados na nossa fronteira e na espanhola pelos estrangeiros transportados em automóvel.
Salientei que as formalidades e exigências em vigor, em lugar de atraírem os turistas, os repeliam; e referi nomeadamente os horários para a entrada no Pais e os encargos aduaneiros e policiais que a oneram nos dois
Num e noutro caso vivíamos num regime de «bailado das horas», já porque o horário variava com á hora oficial, nem sempre a mesma nos dois Estados, já porque os encargos variavam conforme a entrada fosse, ora das 9 às 17 horas, ora das 9 às 18 horas, ora em dias úteis, ora em domingos e feriados. Além disto, havia a taxa fixa de 50$ destinada à Polícia Internacional...

O Sr. Mário de Figueiredo: - Isso é horrível para as ligações internacionais. Eu conheço, pelo que se passa com os caminhos de ferro, as dificuldades na organização dos horários internacionais e mesmo na dos horários nacionais, visto que estes hão-de integrar-se naqueles. É uma coisa horrível, e ninguém faz ideia dos prejuízos que causa à vida dos transportes em Portugal.

O Orador: - Nos transportes ferroviários e rodoviários, e especialmente nestes, porque nos ferroviários estabelece-se previamente um horário, de que o público tem mais facilmente conhecimento antecipado; e o problema agrava-se quando a hora de Espanha não coincide com a nossa.
Felizmente, em relação a Portugal, este estado de coisas foi modificado pelos Decretos n.os 40 619, 40 621 e 40 622, de 30 de Maio último, especializando os dois primeiros.
Com efeito, além de outras disposições, eles estabeleceram que a entrada e saída de automóveis pelos postos da fronteira podem efectuar-se no espaço de tempo compreendido entre o nascer do Sol e a meia-noite nus mesmas condições em que o fazem nas horas normais do serviço, e, além disto, suprimiram os encargos, entre os quais aquela taxa fixa de 50$ a favor da Policia Internacional.
Por outro lado, foram promulgadas medidas tendentes a regularizar e facilitar a permanência de automóveis estrangeiros no País.
É tudo?
Evidentemente que não.
É conveniente manter a fronteira aberta permanentemente, como sucede, por exemplo, nas de Irun e La Junquera, a fim de se evitar o risco de o turista esbarrar ali, alta noite, porque ignora os horários, ou por erros de cálculo no tempo e na distância, ou porque uma panne ou qualquer obstáculo imprevisto o impediram de chegar a tempo.
O resultado está à vista: uma noite perdida e, em geral, passada ao relento, à espreita do nascer do Sol!
Justifica-se, pois, um entendimento com a Espanha a este respeito.
Também continua por resolver, em parte, o problema do visto nos passaportes. Exigem-no, nomeadamente, a Espanha, a França e a Itália; e, se é certo que a Espanha o opõe gratuitamente e a Itália cobra apenas 3$, a França exige 125$ por cada visto.
Sem embargo, os mencionados decretos de 30 de Maio constituem mais um passo importante em benefício do turismo em Portugal.
Com o facto devemos regozijar-nos, e é sem constrangimento, antes jubilosamente, que aplaudo aquelas medidas do Governo.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Augusto Simões: - Sr. Presidente: o desenvolvimento da actividade parlamentar, pelo muito que tem de nobre e de elevado, é cercado em todas as latitudes de