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15 DE DEZEMBRO DE 1956 179

Depois da sua morte, acompanhei o seu corpo até aos Jerónimos.
Todos os que assistiram estão lembrados do que foi. essa manifestação de tristeza e de dor, esse desfile interminável e comovedor, onde se incorporaram pessoas de todos as classes, mas principalmente as classes dos humildes, essa grande multidão que ele procurava, acarinhava e socorria a todo o momento e em todos os cantos do País.
Acompanhavam-no pela última vez, chorando a perda, para sempre, do seu amigo e saudoso benfeitor.
Sidónio Pais foi grande durante a sua vida.
Professor distinto, oficial sabedor, diplomata fino, fidalgo no trato, de uma sensibilidade rara, marcou sempre por onde passou.
Vendo o País debater-se nas lutas partidárias, numa política estéril, onde tudo se perdia, até a própria honra, vendo os políticos do tempo, alguns bem intencionados, impotentes, porém, para evitarem o descalabro, num ambiente de desânimo, em que só a rua mandava, ele, que também foi político, quis restabelecer a ordem, afastar o ódio, moralizar a Administração.
Pretendeu trabalhar com os políticos, mas estes, na sua cegueira partidária, não o compreendendo, negaram-se a compartilhar da sua obra de renovação.
Voltou-se então para o povo, para esse povo que ele tinha no coração, para esse povo que melhor o compreendia e que ele queria levantar da miséria em que vivia.
Durante o escasso ano do seu governo, Sidónio Pais, com o apoio desse bom povo que por toda a parte o aclamava, como seu salvador, trabalhou sem descanso.
Percorria o País, estava sempre presente onde havia faltas, dava solução a todas as dificuldades, punia, com severidade, as injustiças e as irregularidades.
Foi grande na vida, como foi grande na morte.
Tão grande foi que, depois de ter dado a alma a Deus, perante o seu corpo já frio, um diplomata estrangeiro, comentando o abominável crime, apontava Sidónio Pais como «um homem grande de mais para um país tão pequeno».
Foi grande na morte, porque morreu como morrem os heróis, pensando na sua pátria e por ela dando a vida.
«Rapazes, morro bem; salvem a Pátria», foram as suas últimas palavras, que traduzem fielmente o que se passava naquela alma de verdadeiro português.
Foi em 5 de Dezembro de 1917 que o País, pela primeira vez, tentou pôr um dique ao despotismo da política.
Esta tentativa custou a vida dum herói, dum mártir.
O seu sangue, porém, fez germinar a semente salvadora que em 18 de Abril lançou as raízes em terra própria e se desenvolveu, em toda a sua pujança, em 28 de Maio de 1926.
Foi este mártir que nos apontou o caminho da honra.
Foi este herói que, no momento de deixar esta vida, nos deu a sua última ordem: «Salvem a Pátria».

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: julgo-me no direito de lembrar o pedido já aqui feito pelo nosso colega major Botelho Moniz para que seja erigido um monumento que afirme a gratidão da Nação a este mártir.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Neste momento grave que o Mundo atravessa - o mais grave de todos os tempos modernos -, olhando para esse infeliz pais, a Hungria mártir, esse povo que está a dar ao Mundo um exemplo de patriotismo, ali, onde sabemos que se praticam as maiores crueldades, onde, com um cinismo revoltante, matam, aos milhares, homens, mulheres e crianças, só por quererem defender o seu país da onda dos bárbaros, só porque aspiram à sua liberdade.
Quando, com o maior desespero, vemos praticarem--se ali todos estes crimes, perante a quase indiferença dos povos que se dizem civilizados, não podemos nós manter-nos indiferentes, presos ao nosso egoísmo.
Isso seria o suicídio.
Neste momento grave e nesta data não vou apelar, lançar o grito de alerta aos homens da minha geração, a geração do sacrifício, porque esses passaram e sentiram os momentos graves do passado, sabem o que foi o esforço exigido, os sacrifícios feitos, as vigílias sem fim das horas críticas.
Apelar para eles seria duvidar de quem sempre esteve e estará no posto de sacrifício que o dever lhe apontar.
Apelo, sim, para os homens da nova geração; aqueles que, não conhecendo outra, viveram esta época de engrandecimento e do passado só conhecem vagamente o que leram ou ouviram descrever.
A estes peço que olhem para o que se passa nesta Europa dividida e ensanguentada, nesta Europa sem rumo, mas onde a mocidade levanta o grito de alerta, e se convençam de que, sem esperar que nos venham defender, temos de ser nós a ir para as primeiras linhas de defesa do País.
Meditem nas palavras que nos dirigiu há poucos dias, no aviso feito, alguém a quem todos devem o sossego e o engrandecimento do Pais; alguém que, dando o exemplo, tudo tem sacrificado por nós.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Devemos responder ao seu aviso dizendo-lhe que, sem medo, também aqui estamos, prontos aos maiores sacrifícios.
Quando se trata de defender esta pátria, que é nossa, pátria una do Algarve a Timor, ela será defendida até à última gota do nosso sangue.
Todos sabemos que o passado foi mau, mas não mais voltará.
Não pode haver portugueses, mesmo com responsabilidades no passado, que sinceramente acreditem ser possível o regresso ao passado.
Da nossa indiferença, do nosso egoísmo, da nossa divisão, só podemos esperar, não os dias do passado, mas dias muito piores, que podem pôr-nos perante a própria existência como nação livre.
Homens da nova geração: cerrai fileiras e, unidos como um só homem, caminhai firmes pelo caminho do dever, defendendo e honrando a Pátria, como Sidónio Pais a defendeu e honrou.
E isto o que hoje vos pode e deve pedir um homem da minha geração.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Daniel Barbosa: - Sr. Presidente: para ninguém se aparentará um exagero a afirmação de que os problemas económicos constituem, hoje em dia, particular preocupação dos povos e dos governantes; encontramo-los, de facto, dominantes no âmbito familiar dos componentes que integram qualquer agregado populacional, limitado ou extenso; vemo-los invocados, nas mais variadas circunstancias, por doutrinados, estudiosos e políticos; deparam-se-nos eles sempre marcando orientações, subordinando medidas, justificando proces(...)