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15 DE DEZEMBRO DE 1956 181

mente deram o seu concurso ao magnífico acontecimento que foi a Exposição Agrícola no Palácio de Cristal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: na majestosa amplidão desta sala, por onde continuarão passando as figuras da mais alto e respeitável hierarquia moral, intelectual, social e política ma vida Já Nação, prestou-se, com o devido relevo, significativa homenagem a dois homens de reconhecidos e inigualáveis méritos, inteiramente merecedores da admiração e do respeito que lhes consagram todos os portugueses.
Honra a sua memória a obra que realizaram, obra que, através dos tempos, será continuada, como imperativo da consciência, do espírito e da vontade que lhe deu vida, perpetuando-a através do tempo, em gerações sucessivas.
Essas extraordinárias personalidades, que abnegadamente trabalharam e lutaram por um ideal, a quem a morte agigantou na sua estatura moral e que viveram em meios absolutamente diferenciados - uma detentora das grandezas terrenas que transitoriamente possuímos; outra constantemente debruçada sobre as suas misérias, expoente supremo de caridade, em toda a sua largueza-, foram testemunhas do despertar e do crescer de movimentos sociais, alicerçados em princípios do mais torvo egoísmo, que se extinguirão perante o triunfo absoluto dos postulados de caridade e justiça social que orientarão a marcha da humanidade no verdadeiro caminho do bem, na senda da verdadeira solidariedade e fraternidade cristã, que o Evangelho prega, ensina e defende, e que são orgulho e propriedade da civilização ocidental.
E se um soube, pela força da sua vontade, pelo valor da sua inteligência e pela viveza do seu espírito, adquirir e acumular riquezas materiais de extraordinário valor, riquezas que legou como património destinado a obras sociais da mais alta projecção e do mais notável alcance, com finalidade caritativa, artística, educativa e científica, o outro, inteiramente despido de bens materiais, debruçado sobre os abismos profundos da miséria, legou-nos, com a grandeza do seu sacerdócio abrasado em fé, vivido na suprema aspiração do infinito, que é Deus, uma obra verdadeira e inteiramente humana, síntese viva duma doutrina impregnada dum .nobre sentimento de amor e justiça, praticada com o mais abnegado fervor, doutrina e obra que serão continuadas pelos seus discípulos, guiados do Além por esse espírito polarizador de almas ao serviço de Deus, da verdade que ele encerra, da Pátria e da humanidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: Calouste Gulbenkian, criador de inigualáveis riquezas, detentor dos mais valiosos tesouros, grande na inteligência e na generosidade, instituidor da Fundação que ostenta o seu nome, e o padre Américo, criador da Obra da Rua, do Património dos Pobres e do Calvário, mensageiro e obreiro da caridade, sementeira e alfobre das maiores virtudes e dos melhores caracteres, são, um e outro, símbolos vivos duma época, irmanados na distância que os separou na vida e na compreensão de sentimentos de tolerância e bondade.
E não se julgue, Sr. Presidente, um acto herético da minha parte o colocá-los aqui em face um do outro, embora o caminho diferente que trilharam na vida os possa igualar além da morte, perante o julgamento sereno, mas inflexível, da justiça de Deus. Um e outro foram e serão grandes figuras da humanidade.
O património magnífico legado por Calouste Gulbenkian para a Fundação que instituiu, fonte da sua energia, da sua vontade e do seu intenso labor, homenagem às qualidades e às virtudes da gente lusa, que ele soube apreciar e julgar na tumultuosa época que o Mundo viveu, é extraordinariamente vultoso, garantindo o exercício da acção a que o destinou.
A Fundação -quero chamar-lhe assim- que o padre Américo criou vive na alma do nosso povo, que o chora, o venera e o lembra, com expressiva compreensão da grande lição que a sua vida encerra e que será continuada dentro dos princípios em que o ilustre sacerdote a instituiu.
O seu testamento, definição de um homem na grandeza da sua missão e do seu apostolado, significativo documento da mais alta beleza moral e espiritual, é o estatuto pelo qual se traça a linha de rumo a seguir na continuação da Obra da Bua, que ele iniciou, engrandeceu e multiplicou.
O povo português, especialmente a população do Norte do País, vivendo no sagrado culto da sua memória, compreende claramente que são indispensáveis recursos materiais de certa valia, meios de notável importância para a poder continuar e dilatar.
No Porto, a grande cidade do trabalho e grande capital da caridade, com absoluto reconhecimento da grei, multiplicam-se as iniciativas demonstrativa» da sempre crescente generosidade doa seus habitantes, agora dominados pelo espírito do grande evangelizador, a fim de à Obra da Rua, ao Património dos Pobres e ao Calvário não faltar o auxílio necessário a tão grandes empreendimentos, que encerram um caudal abundante de alívio para tantas dores, tantas misérias, tantos infortúnios.
Mas sempre e em todas as circunstâncias o Estado encarou e dedicou à obra do eminente sacerdote uma extraordinária simpatia e admiração, concedendo facilidades e proporcionando auxílio para desempenho da tarefa tão meritória e de tão notável projecção social, filha da mais nobre virtude cristã.
Pois bem, Sr. Presidente, entrou já em plena u franca actividade a Fundação Calouste Gulbenkian, destinando uma grande parcela das suas largas disponibilidades a obras de caridade, obras profundamente humanas.
Existe no nosso país vastíssimo campo onde pode fazer-se sentir a sua acção, dentro das bases instituídas pelo seu generoso fundador e doador.
Pretendo, Sr. Presidente, com as considerações que acabo de fazer, chamar a esclarecida atenção do Governo para a obra realizada pelo padre Américo e continuada, dentro dos moldes em que foi instituída, pelos seus colaboradores, seleccionados por Deus e educados no mesmo espírito de fé e de renúncia pelo mestre que da Eternidade os orienta e os guia.
Ela bem merece ser protegida e continuada, e o povo português jamais lhe regateará o seu óbolo, jamais lhe negará a esmola de que vive.
É necessário que o Governo, que com tanta dignidade e nobreza dirige os destinos da Nação, faça uso da sua reconhecida e bem aceite influência para, através da Fundação, ser prestada assistência material e contínua a uma instituição de tão alta finalidade, sempre carecida de recursos, no desempenho duma missão progressivamente crescente na sua actividade.
Para ele apelamos, certos de que o não fazemos em vão, com aquela confiança que sempre depositamos no seu proceder, eloquentemente demonstrado em todos os momentos perante o País. que vive um dos períodos mais destacados da sua história.
E, assim, esperamos que o nosso apelo seja sentado, como satisfação aos anseios de todos os portugueses