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618 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 201

taxas: clínica cirúrgica, 0,74 por cento; patologia cirúrgica, 1,61 por cento; propedêutica cirúrgica, 1,40 por cento; medicina operatória, 2,76 por cento.
Em Coimbra, nas mesmas clinicas, as percentagens são, respectivamente: 2,96, 4,18, 3,23 e 3,87 por cento, para os homens, e 1,20, 2,61, 3,26 e 3,03 por cento, para as mulheres.
Julgo que os ilustres directores destes serviços não tomarão como ofensa pessoal a referência que acabo de fazer. Essas taxas são conhecidas de todos os que lêem os relatórios e boletins estatísticos do Hospital de Santo António, no Porto, e dos Hospitais da Universidade de Coimbra, em que funcionam as referidas clinicas, e não vejo na sua leitura qualquer razão de queixa.
A circunstância de ser médico e a alta consideração em que tenho os ilustres professores que as dirigem, alguns meus velhos amigos, excluem qualquer ideia de melindre pessoal. Também esta ideia não podia estar presente no espírito do Sr. Ministro do Interior ao referir-se às demoras médias e às taxas de mortalidade, visto tanto umas como outras constarem de publicações de carácter médico e de relatórios dos serviços hospitalares de todo o Mundo, pelo que não vejo razão que obstasse a falar das respeitantes ao Hospital de Santa Maria. Na verdade, se a leitura de um simples relatório da gerência dos Hospitais Civis de Lisboa nos dá, em relação a cada serviço médico ou cirúrgico, a demora média dos doentes e a taxa de mortalidade, para que havemos de julgar ofensa pessoal a sua divulgação quanto a determinado serviço do Hospital de Santa Maria? Desculpe o Sr. Prof. Cid dos Santos a minha franqueza, mas não encontro neste facto, e em discussão viva, qualquer ofensa de natureza pessoal ou profissional.
Quanto à demora média, é efectivamente alta, não só naquele Hospital como na generalidade dos hospitais portugueses, facto que o ilustre Prof. Reinaldo dos Santos teve ocasião de acentuar em notável parecer da Câmara Corporativa de que foi relator, e respeitante à proposta de lei sobre organização hospitalar. Escreveu o ilustre professor e homem de letras:

As médias habituais em outros países giram em torno de 15 dias de hospitalização por doente, enquanto nos nossos hospitais ultrapassam 30 dias! O que equivale a dizer que, por deficiências de organização, precisamos de mais do dobro das camas do que a doença e a população exigiriam.

A situação de hoje já não é, felizmente, a mesma que apontou o Prof. Reinaldo dos Santos.
A demora média de hospitalização baixa de ano para ano. Nos Hospitais da Universidade de Coimbra e nas clinicas de cirurgia geral já referidas não excedeu, respectivamente, 18,09, 23,26, 24,63 e 26,5 dias, em doentes do sexo masculino, porque nos de sexo feminino foi, respectivamente, de 22,77, 22,73, 23,72 e 26,86 dias, demora esta muito inferior à que se verifica em Lisboa: 43,2 em clinica cirúrgica e 35,6 em patologia cirúrgica.
Não pode ignorar-se a influência que a natureza da doença e a sua gravidade exercem na média de tempo da hospitalização e na taxa de mortalidade, notavelmente influenciadas pela acção e critério dos médicos responsáveis pela organização dos serviços e pela competência profissional daqueles que os dirigem; mas este facto não impede que se publiquem e comparem resultados, tanto nos hospitais portugueses como nos de todo o Mundo, para de certa maneira se tirarem conclusões gerais.

O Prof. Cid dos Santos sabe, certamente, o que se passa em relação à taxa de mortalidade, por tipo de doença, nos hospitais de Nova Iorque; no livro Morbidity in the Municipal Hospitais of the City of New York, de Marta Fraenkel e Carl L. Erhardt, encontram-se preciosas indicações. Tenho, contudo, a certeza de que os distintos cirurgiões que lá trabalham não se ofenderão com a sua consulta ou divulgação dos números ali inseridos.
Não quero deixar de registar com a maior satisfação, felicitando S. Ex.ª, o notável movimento da clinica cirúrgica aqui apontado, pois se, quanto à demora média de hospitalização, está longe do padrão americano, em que até nos serviços mais categorizados e de alta cirurgia a demora é inferior a metade da verificada naquele serviço, é muito elevado o número de consultas registadas, que em 1956 foi superior a 8000, incluindo na clinica cirúrgica a urologia e ortopedia, a cargo do mesmo distinto professor.

Sr. Presidente: vencidas as primeiras e grandes dificuldades da adaptação ao novo edifício, sofrerá notável aumento, não só o número de doentes da consulta externa, como o dos internados, por forma que o Hospital dê o rendimento correspondente ao extraordinário esforço de energia e vontade despendido com a sua construção e instalação. Todos nos regozijaremos com o melhor aproveitamento dessa obra, e ninguém mais do que o Prof. Cid dos Santos, que, trazendo a esta Assembleia os problemas relacionados com o Hospital de Santa Maria, apenas teve em vista a eficiência e melhoria dos respectivos serviços:
Se esta Assembleia nem sempre esteve de acordo com a orientação por ele dada ao aviso prévio, esse motivo nunca pôs em dúvida a pureza das suas intenções ou a sua competência profissional. Na exposição do Sr. Ministro do Interior estas também não foram postas em causa - posso bem afirmá-lo -, porque o ouvi da sua boca.
Também não estão em cansa os esforços desenvolvidos pelo Governo no campo da organização hospitalar em geral e no da sua aplicação ao ensino, pois estes foram expressamente reconhecidos na moção aprovada por unanimidade, e que tive a honra de subscrever, moção esta que exprimiu claramente o pensamento desta Assembleia acerca do debate suscitado pelo aviso prévio do Sr. Deputado Prof. Cid dos Santos.
Que os erros de pormenor e as lacunas a preencher, a que na moção também se alude, sejam cada vez menos, é voto que formulo, pedindo ao Governo, como o fiz em 3 do corrente, que prossiga sem desfalecimentos a obra de reorganização e rejuvenescimento hospitalar, tão claramente afirmada na centena de hospitais construídos de novo ou profundamente renovados, fazendo de cada hospital um centro de solidariedade humana em que todos se sintam bem, trabalhando e prestigiando-se, superiores a pequenas emulações, incompreensões ou injustiças. Se os hospitais se construíram e funcionam para os doentes, são os médicos que no seu tratamento desempenham a mais importante função.
Sr. Presidente: aos ilustres professores e distintos colegas que trabalham no Hospital de Santa Maria, e que dele fizeram um grande hospital, justamente admirado por nacionais e estrangeiros, é-me sumamente grato prestar a minha rendida homenagem, pela competência, isenção e desinteresse com que desempenham a sua nobre missão, prestigiando a classe a que pertencem, honrando a medicina portuguesa e trabalhando sempre a favor da grei e a bem da Nação.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.