26 DE NOVEMBRO DE 1958 5
viesse prejudicar a realização das obras de que tanto carece o velho hospital termal.
Ora a verdade é que nunca as autoridades locais nem o Governo esqueceram que. sendo embora a construção do hospital sub-regional a necessidade mais premente para o bem comum geral - e só pode contestá-lo quem não conheça o estado em que funciona o pobre Hospital de Santo Isidoro -, as termas da Fundação Rainha . Leonor continuarão a ser, na permanência da vida, a raiz e o brasão da própria terra.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:-Aliás, a Fundação será a primeira a beneficiar largamente do apoio e extensão que o novo hospital dará à realização dos seus próprios fins.
A mim, como Deputado pelo círculo e como caldense, é-me grato poder esperar, ao mesmo tempo, o inicio da construção do novo hospital e o estudo e execução das obras de que carecem aquelas velhas termas, que a rainha fundou quando fez a minha terra.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Silva Mendes: - Sr. Presidente: agradeço a V. Ex.a e à Assembleia as referências feitas acerca da morte de minha mulher.
Essas manifestações e essas condolências comoveram-me profundamente.
Realmente, minha mulher foi minha companheira dedicada de todos os momentos, até mesmo na minha vida política.
Ela convivia com as mais altas individualidades com o mesmo carinho o com a mesma distinção com que o fazia para as pessoas humildes.
Era unia senhora cheia de virtudes, das verdadeiras virtudes da mulher portuguesa, amiga dedicada dos seus filhos e dos seus netos, e a sua falta eu a sentirei enquanto tiver um sopro de vida.
Por isso, agradeço muito a V. Ex.a e à Camará as condolências que me apresentaram.
Tenho dito.
O Sr. Nunes Mexia: - Sr. Presidente: na sessão do dia 31 de Outubro, última da convocação extraordinária, na sua intervenção sobre o Plano de Fomento, produziu o então ilustre Deputado Dr. Trigo de Negreiros algumas considerações, nas quais, indo para além da critica ao que eu dissera, se faz referência a um telegrama de apoio à minha intervenção, telegrama enviado a esta Assembleia Nacional pela Federação dos Grémios da Lavoura do Alto Alentejo. Também muito se referiu o ilustro Deputado aos Alentejanos de uma forma que, embora muito temperada com citações poéticas, se pode considerar como tendo uma intervenção ou fundo de crítica ao seu modo de ver.
Porque essas duas referências podiam envolver séria responsabilidade vindo de quem vinham, e que ainda não há muito ocupara lugar de destaque na governação do País, senti-me desde logo obrigado a uma resposta, visto que no seu fundamento alguma responsabilidade me podia caber, quer na forma que eu dera à minha intervenção, quer no significado do generalização de pensamento como alentejano que me prezo de ser, tanto como de ser português, que aquele telegrama podia significar.
Há muito habituado a não me deixar comandar por reacções ou sentimentos, sobretudo quando se trata de assuntos sérios, e por feitio respeitador do pensamento dos outros, quis ler calmamente o que o orador dissera.
Quis reler também a minha intervenção, na preocupação de descobrir onde mo afastara do sentimento das realidades, e por isso poderia merecer uma critica justa, e onde portanto se poderia filiar a admiração manifestada pelo apoio dado às minhas considerações pela Federação dos Grémios da Lavoura do Alto Alentejo e generalizando, a critica feita aos Alentejanos.
Para completa apreciação, tenho de reproduzir, com a duvida vénia, as considerações do Dr. Trigo de Negreiros que focam passagens da minha intervenção.
Disse S. Ex.a: terá, se a apatia dos Alentejanos perante um plano que, uma vez executado, devia melhorar consideravelmente as suas condições económicas me deixara perplexo, essa perplexidade aumentou quando na sessão de 17 do corrente (Outubro) foi dado conhecimento do telegrama em que a Federação dos Grémios da Lavoura do Alto Alentejo, na qualidade de representante dos interesses da lavoura da região, dava o seu apoio às considerações do Deputado Nunes Mexia. Na verdade, como devem ter presente, este nosso colega não embandeirou em arco perante as perspectivas que o plano de rega abria ao Alentejo; pelo contrário, disse-nos que um melhoramento hidroagrícola é mais que a barragem, os canais e a adaptação ao regadio, é um plano económico seriamente concebido e bem enquadrado dentro das necessidades do Pais; que como primeira condição para que uma obra hidroagrícola se possa considerar completa e útil é necessário que o que vai produzir resolva problemas de carência, não traga, problemas de saturação: que ao entusiasmo inicial das regiões pelas suas obras de rega se tem seguido um período de descrença, à maneira que se vão abrindo os olhos para as dúvidas dos seus resultados; que, finalmente, não sendo só o seu regime jurídico que não está certo, é absolutamente necessário, para que resultem, que sejam completadas em toda a sua extensão».
Ainda palavras do ilustre orador: «Conclusão: o complemento da infra-estrutura merece-lhe preferência sobre as obras de hidráulica agrícola» e anula mais esta conclusão: «Os Alentejanos querem a rega, mas fazem-na depender de tais condições que até parece não a desejarem sem que essas condições se verifiquem».
Como ilação das minhas considerações, que assim resumiu, e que são quase o fundo da minha intervenção quanto a hidráulica agrícola, quase o fundo, reparem, afirmou o ilustre Deputado: «Ó apoio que a Federação dos Grémios da Lavoura do Alto Alentejo deu a estas considerações leva-nos a supor que -como disse Salazar, se politicamente só existe o que se sabe que existe; politicamente o que parece é- a rega do Alentejo poderá vir a existir como activo nacional, mas jamais existirá nos espíritos como activo da situação política».
Para perfeita compreensão do apoio dado à minha intervenção pela Federação dos Grémios do Alto Alentejo, e portanto para que lhe seja feita a necessária justiça, tenho aqui que completar o resumo das minhas considerações com o tal quase que lhe faltou.
Lembro-me de ter afirmado que aceitava sem reservas a premissa de que este plano a curto prazo devia influir decididamente em tudo o que mais rapidamente aumentasse a riqueza nacional e que dentro desse pensamento, e perante o resultado obtido com as- o l iras já feitas e a razão da sua falta de inteiro rendimento, que das obras de hidráulica agrícola projectadas se fizesse apenas a l. ª fase, aquela que tivesse aproveitamento imediato e que um sério estudo económico recomendasse.
Reconhecia assim a necessidade delas como ponto de partida para se corrigir o meio e começar a influir no necessário desenvolvimento de muitas regiões do Pais; que, assim, toda a parte das obras que não correspondesse a esse fim imediato ficasse para uma 2.ª fase,