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20 DE MARÇO DE 1959 357

No que respeita à minha terra natal, por exemplo, escrevia Gerardo Pery:

Assim, a vila da Pampilhosa, edificada num profundo vale, cercada de serras e fora de toda a circulação, vive essa vida patriarcal tão celebrada, sendo na presente época o que tem sido em todas as épocas e o que sempre há-de ser - uma terra onde os habitantes cultivam unicamente o suficiente para poderem viver miseravelmente, sem se importarem com o que se passa além das suas serras, sem mesmo escutarem o surdo murmúrio da vida tumultuosa das cidades.

Volvidos oitenta e cinco anos, outro geógrafo, Orlando Ribeiro, no seu lúcido ensaio Expressão da Terra Portuguesa, viria a anotar:

Pelo sul as serras da cordilheira central, atravessada pelo rio, Zêzere, formam um conjunto de relevos monótonos e despidos, de encostas regularmente boleadas ou cimos agudos, terras de xisto muito pobres, aqui e além cobertas de soutos meios mortos ou de manchas de pinhal recente, onde a gente mais sóbria e mais tenaz de Portugal abriu a clareira de uma arroteia em torno de seis casas apinhadas, cobriu de oliveiras, sustido o magro solo por um marinho de pedra solta, a encosta safara e declivosa, e emigra, emigra sempre, para a ceifa do Alentejo, para os baixos mesteres da capital, para mais longe, onde seja preciso ganhar a vida à custa de um esforço rude e resignado.

De facto, se Gerardo Pery voltasse encontraria ainda hoje esta região de consideráveis acidentes de relevo, hidrològicamente tributária do Zêzere e do Ceira, quase baldia na pobreza do seu precâmbrico superior, igualmente carecida na satisfação das necessidades dos seus Íncolas. Só estes, dia a dia mais desiludidos na estreiteza das possibilidades da região que lhes serviu de berço, avolumam aquele caudal de emigrantes que em 1945 impressionara Orlando Ribeiro.
Num distrito com 3955,76 km2, os concelhos da comarca de Arganil ocupam 985,48 km2, ou seja cerca de um quarto. Mas, enquanto a população do distrito era, em 1940, de 411 677 habitantes, a dos três concelhos de Arganil, Gois e Pampilhosa perfazia apenas 47 796 habitantes, ou seja cerca de um décimo.
Enquanto a densidade média do distrito de Coimbra era assim, em 1940, de 104 habitantes por quilómetro quadrado, a do concelho da Pampilhosa ficava por 38,1 habitantes por quilómetro quadrado, a de Gois por 46 habitantes por quilómetro quadrado e a de Arganil por 63,3 habitantes por quilómetro quadrado.
O mapa que se segue é expressivo quanto ao panorama demográfico revelado nos últimos três censos:

(Ver quadro na imagem)

De 1930 a 1950 a população do continente conheceu um aumento de 15 por cento e a do distrito de Coimbra de 11 por cento. Ora nesse entretempo a população da comarca de Arganil diminuiu 1187 habitantes.
O fenómeno agravou-se depois de 1950, devendo o censo do próximo ano revelar uma situação ainda mais desencorajante.
Por sondagens que fiz verifica-se existirem hoje povoações na serra cuja maioria dos, habitantes se transferiu para Lisboa.
Quando o Eng. Araújo Correia no parecer sobre as contas públicas de 1957 anota o decréscimo da taxa de natalidade nos distritos de Coimbra e Castelo Branco e indica entre as razões justificativas desta progressiva diminuição a salda de gente nova daquelas regiões, não andará longe da verdade. O que é grave, Sr. Presidente, é que Lisboa, não obstante estes reforços de sangue novo, acusou em 1957 novo decréscimo na taxa da natalidade, já inferior a 15 por cento.
Sr. Presidente: a região da comarca de Arganil pode trazer aportações de interesse a problemática da nossa vida local, no conjunto dos seus êxitos, insucessos ou carências.
Permito-me sumariar umas tantas questões:

1) A política de melhoramentos rurais;
2) A rede de estradas;
3) A saúde e assistência;
4) O repovoamento florestal;
5) O desenvolvimento do sector terciário no rural.

Constitui motivo de orgulho para os Governos do Estado Novo a política de melhoramentos rurais. As conquistas obtidas neste sector fizeram mesmo despertar novas aspirações em muitos adormecidas. O problema não será hoje, para parte do Pais, as comodidades essenciais, mas antes a aceleração do ritmo de progresso.
A justiça desta afirmação dá autoridade para salientar o muito que importa realizar nesta matéria na região da comarca de Arganil.
Penso, Sr. Presidente, que o Governo deve intensificar a sua actuação, proporcionando às regiões que se revelem mais atrasadas um esforço suplementar, em ordem a dotá-las daquele mínimo de que já usufrui o resto do Pais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Num critério de primazias esta preocupação deve ocupar o primeiro lugar.
Tal orientação harmoniza-se com o II Plano de Fomento nos aspectos por este particularmente considerados. O reforço das ajudas segundo o grau de atraso das regiões ou a escassez de meios das administrações locais e a desoneração dos municípios, de acordo com orientações defendidas nesta Camará, estariam na base de novos sucessos.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador:-Cabe aqui uma palavra de louvor para as agremiações regionalistas. Os homens que um dia abandonaram a serra e nesta Lisboa procuraram novos rumos nunca se desligaram da terra que lhes serviu de berço. A maioria dos pequenos melhoramentos que a região de que me estou ocupando tem conhecido deve-se também ao seu esforço persistente e desinteressado.
Será a todos os títulos louvável que as agremiações regionalistas se desdobrem em novas actividades e que a prestimosa ajuda do Governo continue a favorecê-las. Deve, porém, evitar-se a ideia de que o progresso das regiões atrasadas depende da caridade pública ... até para não se pedir a esta gente mais do que quanto caiba nos limites da sua abnegação.
Sr. Presidente: quem se debruçar sobre um mapa das estradas de Portugal verificará como a rede rodoviária