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4 DE ABRIL DE 1959 395

Quase toda a Europa lotou e se arruinou para se opor à nova ordem de concepção germânica, mas sobre as suas ruínas e por cima da terra ensopada com o sangue dos seus heróis e mártires expandia-se a nova ordem comunista.
A derrota das duas grandes potências militares e industriais - a Alemanha e o Japão - abria largas possibilidades de expansão a Este e a Oeste à União Soviética e as exigências das operações militares do fim da guerra ou os erros dos homens e da sua política puseram em mãos da Rússia a direcção efectiva de algumas nações que eram posições fundamentais para a conquista do continente europeu e abrir caminho para a revolução mundial.
Dentro da organização dás Nações Unidas procurou-se encontrar fórmulas ou soluções que afastassem os receios, as animosidades ou as más intenções, mas à medida que o tempo corria muitos reconheciam que pouco valiam as boas intenções de alguns perante as exigências inadmissíveis dos outros.
O uso e o abuso do direito do veto acabou por paralisar a marcha normal da Organização das Nações Unidas.
A Rússia, indiferente aos compromissos assumidos e sem respeito pela sua própria assinatura, prossegue na expansão territorial já iniciada durante a guerra com a anexação da Estónia, Letónia e da Lituânia.
A Finlândia, a Polónia, a Roménia, o Nordeste da Alemanha e a Checoslováquia caiam sucessivamente sob o domínio militar e económico dos Sovietes. Sem guerra, e fazendo propaganda da paz, a Rússia vai invadindo um a um os países vizinhos das suas fronteiras, e a Albânia, a Bulgária e a Hungria caíram igualmente sob o sen domínio.
Os poises conquistados, absorvidos ou ocupados ficam subordinados a Moscovo por uma densa rede de acordos políticos, económicos e militares. Sobre uma muito vasta zona da velha Europa, com cerca de l 500 000 km2 e mais de 85 milhões de habitantes, desce uma verdadeira cortina de ferro e o Ocidente ignora completamente tudo quanto se passa no interior.
Todos os esforços realizados pelas entidades responsáveis dentro da Carta das Nações Unidas resultam inúteis ou estéreis.
A Rússia, alheia a qualquer subordinação moral e estimulada pelos êxitos conseguidos, caminha na sua política expansionista.
A Grécia, privada de ajuda militar e financeira da Grã-Bretanha, vai ser o. próximo objectivo das ambições da Rússia, que fomenta uma revolta civil, e quando vencedora colocaria a Turquia sob o seu domínio e arrombaria as portas de penetração para todo o Médio Oriente.
A Grécia luta com o maior patriotismo contra as forças de desagregação da unidade nacional e vence.
É então que os Estados Unidos se apercebem da gravidade da situação que a Europa atravessa e se declaram decididos a ajudar qualquer povo livre que se decida a resistir às tentativas de dominação contra eles exercidas por minorias armadas ou quaisquer países estrangeiros. Procurava-se, essencialmente, travar a ameaça que pesava sobre a Grécia e sobre a Turquia.
Em 5 de Junho de 1947 o general Marshall, então Secretário de Estado dos Estados Unidos da América, lança as bases de uma ajuda económica e substancial para o revigoramento da Europa.
Com a maior nobreza de sentimentos, Marshall declara que a nova política americana não se «dirige contra qualquer pais ou contra qualquer doutrina política, mas apenas contra a fome, a pobreza, o desespero e o caos». Declara também que a ajuda americana seria extensiva à Rússia e aos países satélites, situados para além da cortina de ferro.
Alguns destes países mostraram-se, embora timidamente, favoráveis à ajuda americana, mas logo Staline declarou ostensivamente que recusava toda e qualquer espécie de ajuda ou auxilio dos Estados Unidos da América. Sem perda de tempo, e como réplica, criou o Cominform, destinado a agrupar os partidos comunistas de nove países do continente europeu, com o objectivo de inutilizar a execução do plano Marshall, classificado como instrumento do imperialismo americano.
A ajuda americana dá efectivas possibilidades ao começo da reconstrução material da Europa, fomenta a instalação e o desenvolvimento de grande número de novas indústrias e abre o caminho para maior garantia de trabalho, melhores condições de vida às populações e mais confiança nos caminhos do futuro.
Perante a paralisia, senão o fracasso da Organização das Nações Unidas, devido fundamentalmente à tenaz intransigência dos delegados soviéticos e ao abuso inconsiderado do direito do veto, as nações livres procuram, no regime tradicional das alianças, criar os elementos fundamentais para a sua melhor defesa. Assim, é assinado, em Março de 1947, o tratado de Dunquerque entre a Grã-Bretanha e a França, por cinquenta anos, pelo qual os dois países se obrigam a unir os seus esforços no caso de a Alemanha tentar nova agressão.
No mesmo ano é assinado o tratado do Rio de Janeiro, que constitui, essencialmente, uma aliança defensiva, com respeito aos princípios e disposições contidos na Carta das Nações Unidas.
Nos começos de 1948 a Rússia dá o golpe de estado em Praga.
As nações do Ocidente lançam-se então na realização de acordos regionais, para uma melhor coordenação de esforços e aumentar as possibilidades de sobrevivência.
Em Março de 1948 é assinado o tratado de Bruxelas, que é, nos seus objectivos e propósitos, como que uma antecipação do futuro Pacto do Atlântico Norte.
Mal tinha sido assinado o tratado de Bruxelas, os Sovietes iniciam o bloqueio de Berlim, que iria durar quase um ano.
A pronta decisão das potências ocidentais inutilizou os objectivos comunistas e estava feita a demonstração de que era inútil aguardar qualquer modificação nos processos e métodos de que a Rússia se servia.
De resto, a conferência de Moscovo realizada em 1947 já marcara, por forma evidente, que não era possível qualquer cooperação entre a Rússia e as nações ocidentais.
Iniciam-se então amplas negociações, entre algumas nações do Ocidente, para a elaboração de um novo acordo, no qual se repudiaria expressamente, por um lado, o recurso à força nas relações internacionais e se procuraria conseguir uma assistência mútua entre as nações signatárias, tornando-as solidárias entre si em caso de guerra ou agressão de qualquer potência.
O pacto abrangeria de começo as nações do Atlântico Norte, mas previa o convite e a admissão de qualquer país que fortalecesse a aliança em projecto.
Moscovo mobiliza uma forte propaganda contra o Pacto de Bruxelas, afirmando que ele constitui um instrumento do imperialismo anglo-saxão, e tenta evitar a assinatura do Pacto do Atlântico Norte, acusando os negociadores de que as suas cláusulas são contrárias às disposições da Carta das Nações Unidas e às decisões do Conselho dos Ministros Estrangeiros.
As doze nações signatárias respondem, em nota única, repelindo a acusação e afirmando que a nova aliança não se dirige contra nenhuma nação, ou grupo de nações, e apenas contra qualquer espécie de agressão.
As realidades vinham demonstrando que, como disse Salazar, «se a glória pertenceu a uns, a vitória coube efectivamente a outros».