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398 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 89

rizar a expansão portuguesa, graças à qual se consolidou a nacionalidade.
Temos atravessado, bem o sabemos, períodos históricos que nos foram adversos e que nos deixaram algumas consequências perniciosas. Mas fiéis aos princípios, que nunca podemos renegar ou sequer relegar para um segundo plano, também temos assistido à vitória das nossas ideias, ou, melhor, à sobrevivência da nossa razão, por entre o desmoronar catastrófico de sistemas artificiais ou utilitários.
Não é o momento de desenvolver estes pontos: basta-me, para os justificar, lembrar o que foi durante décadas, talvez séculos, a condenação quase geral, e nem por isso menos insensata, da política portuguesa de assimilação. Dessa política que gerou o Brasil; que deixou pegadas de emoção nas comunidades ditas portuguesas, essencialmente saudosistas, que se encontram em várias partes do Mundo, e tão expressivamente, na Malásia; que aglutina com cimento indestrutível esta Nação Portuguesa, que é sempre a mesma nos diversos continentes em que se distribui.
Neste aspecto já todos nos rendem justiça e, porventura, muitos lamentarão não terem compreendido e até seguido os nossos métodos.
Mas as dúvidas ainda continuam. No próprio areópago das Nações Unidas processam-se movimentos de incompreensão para connosco. Não podemos; sem atraiçoar as constantes da. política nacional, abandonar princípios em que assenta a nossa própria existência para acompanhar orientações infundadas- ou tendenciosas. Só nos resta ser firmes e esperar.

Sr. Presidente: queria eu dizer que a aliança atlântica era um passo dado no caminho da nossa velha orientação política. E assim é.
Na verdade, não foram simples conveniências de momento que determinaram a adesão do nosso país. Fomos para ela com resolução e entusiasmo, porque a aliança marítima está na alma do povo português; é a nossa história que a recomenda; é a própria razão de ser da nacionalidade que a exige.
Alegramo-nos por ver que nesta grande e natural aliança se encontram quase todas as nações livres da velha Europa e alguns dos seus filhos de além-mar; e estão com ela outras nações de espírito pacifico e que querem defender a liberdade de viver, de pensar e de trabalhar em paz.
Alegra-nos ainda a ideia de que no presente momento histórico, tão carregado de sombras, em que verdadeiramente se pode dizer, com alguma propriedade, que estão em potência, prontas a ser desencadeadas, forças que só pelas do Apocalipse poderiam ser excedidas, alegra-nos ver como esta aliança defensiva se fortifica e se prepara para desenvolver maior coesão na grande família ocidental, especialmente nesta velha Europa, que, por desentendimento entre os sen membros, tem perdido todas as guerras dos últimos tempos, com graves consequências para a humanidade. União que, a consolidar-se, lhe permitirá o pleno florescimento do seu incomparável génio criador, desse espírito que u consagra como pátria incontestada da cultura, nas suas formas mais altas da ciência, das artes e até da técnica.
Falo na Europa mais em respeito por esse espírito ocidental, de que ela é mãe gloriosa e que nos embalou na origem, do que por vinculo nacional. Em boa verdade, Portugal não é exclusivamente europeu. Verdadeiramente nunca o foi. Os homens que empreenderam a fundação da nacionalidade cedo compreenderam que ela não poderia ser apenas europeia. Tinha de ser grande se queria existir. Fez-se ao mar. Foi ao mar e além do mar firmar a sua independência. Tornou-se, desta sorte, uma nação marítima e missionária. É o que fomos, o que somos e o que seremos. Nação tanto europeia como africana ou asiática. E se quiséssemos perscrutar o futuro não hesitaria em prever a predominância africana na. orientação da vida da nacionalidade, pelo menos enquanto a comunidade luso-brasileira não atingir a sua inevitável evolução e se afirmar como um bloco, como força de primeira grandeza no Mundo de amanha.
Esta a razão por que os nossos interesses não estão amarrados, manietados pela Europa. Todavia, porque nunca hostilizámos e, móis, esquecemos os agravos que dela recebemos, contemplamos com agrado a garantia que esta aliança traz para a velha e às vezes desorientada Europa.
Portugal está assim, pelo seu espirito, pelas determinantes históricas, pelas suas conveniências contemporâneas e pelas perspectivas de futuro, francamente devotado a esta aliança e é dela um firme, dedicado e,, porque não dizer, intimorato defensor.
Este é um aspecto que convém ainda realçar no seu mais lato significado. É a Nação inteira, na sua diversidade geográfica ou ideológica, que esta unida; é uma. plataforma comum em que todos nos encontramos - os Portugueses amantes da sua pátria. Não nos faltam, felizmente, motivos de união, planos em que não haja divergências. Não se torna necessário descobri-los ou criá-los. Eles estão à vista. O que é essencial é por as razões que nos podem dividir no sen devido lugar, num lugar muito mais que secundário, porque desprezível perante os grandes, os absorventes problemas nacionais.
Mas voltarei à aliança. Qual a contribuição que damos, qual o seu valor?
Sem dúvida que ao dispor da sua organização estão permanentemente aquelas forças militares que os estudo» aconselharam e os acordos fixaram. Dir-se-ia todo o potencial militar, se na verdade a letra do Pacto não o circunscrevesse a determinada área geográfica, fora da qual, de resto, a Nação Portuguesa também existe.
Não tenho ilusões eufóricas sobre a grandeza do contributo militar que assim estamos obrigados a prestar, se bem que considere de grande valor a participação que poderíamos dar na luta anti-submarina, para a qual sistematicamente preparamos eficientes forças aeronavais. Pode de facto a contribuição não ter relevo perante o fantástico arsenal que se apresta, de um e outro lado do Atlântico, na terra e no mar.
Os sacrifícios que fazemos, esses, sim, são enormes, são pesados para as nossas finanças, para a nossa economia. Mas também não hesito em classificar da mais alta importância a participação que se traduz na concessão de bases e pontos de apoio para as forças aliadas, para a protecção das rotas marítimas e aéreas e ainda como postos avançados para acções defensivas. Essas posições valem, certamente, como situação geográfica; mas valem, sobretudo, porque se encontram em mãos leais, de uma nação que não mercadeja as suas alianças, que não especula com os valores que lhe pertencem, que não pensa no proveito material quando se lança numa causa em que sobrelevam os valores morais, que está de alma e coração com o poder marítimo que a aliança representa, porque ele significa a liberdade dos mares e da convivência internacional.
E damos lhe também os nossos recursos económicos. E neste aspecto ninguém se lembraria de subestimar o valor da nossa contribuição, alargada, como não poderia deixar de ser, a todo o vasto mundo português.
É certo que neste momento, na paz em que nos encontramos, só do chamado Atlântico norte se trata. Mas não sei como havia de limitar-se um conflito a uma zona restrita, truncando, inclusivamente, nações que se repartem por várias latitudes. Seria impossível. Num prélio em que se debateriam os maiores valores de uma civilização, nunca um país empenharia nele apenas uma parte dos seus recursos ou poderia ter a pretensão de