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4 DE ABRIL DE 1959 397

nação-império, oferecemos em primeiro lugar à aliança a, nossa posição privilegiada, verdadeiro traço de união entre as duas parcelas de territórios que a compõem.
Esta circunstancia é só por si razão de incontestável mérito a valorizar a nossa presença.
Concorremos, seguidamente com o nosso esforço puramente militar. Não será muito em valor absoluto, mas em relação aos nossos recursos de nação pequena e às nossas responsabilidades espalhadas pelo Mundo e não cobertas pelo pacto defensivo é talvez mais do que seria licito esperar-se. O precioso auxilio que temos recebido e o nosso próprio esforço permitiram-nos alcançar um grau de treino militar que não teríamos julgado possível anos atrás.
Concorremos ainda para a defesa comum com os nossos tratados e ligações peninsulares. Durante longo tempo só eles garantiram a unidade geográfica e estratégica da Europa Ocidental e, para nossa honra, sempre soubemos lutar para que esta situação de facto fosse reconhecida de direito, tão anacrónicos e inconsequentes são no Mundo de hoje os pruridos que. ainda se lhe opõem.
Concorremos, por fim, com a nossa frente interna intransigentemente anticomunista. A Península é a retaguarda imediata do dispositivo militar europeu. Daqui o interesse extraordinário que para o inimigo representaria a transferência da nossa área geográfica para a sua esfera de influencia. Não admira portanto que a massa da Nação seja permanentemente solicitada nesse sentido e que o inimigo procure por todos os meios explorar a, ingenuidade de uns, as necessidades de outros e os baixos sentimentos de terceiros para, nas alfurjas ou sob a capa da legalidade política, corroer a paz entre os Portugueses. E não admira também que a organização comunista clandestina seja efectivamente uma força política estruturada e operante, sendo, como afinal é, um elemento da máquina de guerra adversária.
É tão natural que tal inimigo procure por todos os meios subverter a confiança, quando não a própria ordem e a própria paz, como é natural que o Estado dele se defenda como pode e como deve, expurgando da sociedade os seus agentes, para manter a Nação na saudável vitalidade que lhe é essencial para lutar e progredir.
O que, porém, não é natural, o que é de estranhar, é que pessoas tidas por sensatas, de aparente boa formação e com responsabilidades e obrigações, se deixem arrastar pela dúvida, sem .verem como é maldosamente levantada, e cheguem por vezes a tomar atitudes de irreflectida e desonesta conivência, que roçam a alta traição.
Seja porém como for, a frente nacional será mantida, e só mantendo-a continuaremos a dar p melhor de todos os contributos para a defesa da civilização ocidental.
Sr. Presidente: no momento, em que o inimigo do Ocidente faz nova finta na frente europeia para, fixando aqui as nossas preocupações, alcançar mais ampla liberdade de acção na grandiosa manobra envolvente em que se empenha, bom é que demos o melhor brilho às comemorações do 10.º aniversário da aliança atlântica, mas também que não percamos de vista as limitações da realidade que representa. Se inscrevermos no mesmo planisfério a área abrangida pelo Pacto e as manchas dos territórios que constituem o Mundo Português, ver-se-á que só uma pequena parte de nós próprios está ao abrigo efectivo da segurança que o mesmo Pacto confere. Reconhecer-se-á também . que, colocados. nas grandes linhas de força da manobra comunista, todos os nossos territórios extra-europeus ficarão à merco das mesmas insidiosas infiltrações com que por toda a parte se procura minar, com vista ao seu aniquilamento, as potencialidades ocidentais. ..
Portugal, o velho Portugal das Descobertas, que, levando por esses mares além' não tanto a ambição domo a caridade, se constituiu para sempre num só corpo e
numa só alma com essas terras e essas gentes dos longínquos lugares onde aportou, tem as por isso como carne da Sua carne e só ambiciona continuar em paz a moldá-las pura uma vida melhor e mais integralmente nossa; tem plena confiança no seu portuguesismo, no portuguesismo dos nossos irmãos brancos filhos dos filhos dos filhos dos que um dia partiram de distantes aldeias para ai se fixarem .e dos nossos irmãos de cor que os receberam, que com. eles sempre viveram lado a lado em paz e harmonia, e que em momentos cruciais souberam também morrer com eles, honrando a bandeira e a Pátria comuns.
Do incêndio que por vezes já alastra em territórios vizinhos podem, no entanto, saltar faúlhas e, que não saltem, alguém poderá do exterior vir ateá-las. E assim indispensável que todos nós, homens moralmente válidos, estejamos prontos a bater-nos, presentes com a nossa determinação, com a nossa firmeza, com a nossa fé no Portugal eterno de aquém e além-mar..
Ás pátrias, como as pessoas, necessitam de uma consciência de missão que lhes dê um rumo e uma fé. A missão da nossa pátria é realizar-se integralmente nos territórios que constituem o todo nacional. Para a cumprir, se todos formos aproveitados, seremos suficientes e se, para que assim seja, for necessário esquecer o que pode desunir-nos, esqueçamos e demos as mãos para nos dedicarmos ao esforço ingente de criarmos riqueza e prosperidade em todo o agregado nacional.
Temos um instrumento que não foi idealizado para enriquecer alguns, mas para lazer prosperar a comunidade : o Plano de Fomento. •
Se é ainda pequeno para a nossa ambição e para a pressa que temos em realizá-la, exija-se mais! Mas não deixemos estiolarem-se as energias nacionais em más compreensões que desígnios inconfessáveis exploram, quando tanto temos de trabalhar para garantir com honra a grandeza e a continuidade de Portugal.
Aproveitamos para tanto a circunstancia feliz de estarmos na Europa a coberto desse instrumento efectivo de paz o de segurança que é o Tratado do Atlântico Norte.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sarmento Rodrigues: - Sr. Presidente: decorrem nesta quadra, e com índole vária, as celebrações do 10.º. aniversário da assinatura do Tratado do Atlântico Norte. Portugal é um dos países que estão desde o inicio na aliança. Foi um dos seus fundadores, contribuiu decidida e valiosamente para a sua organização, a sua estrutura activa, aquilo a que se chama a O.T. A. N. ou a N. A. T. O.
Na minha modesta mas sincera opinião entendo que podemos e devemos orgulhar-nos disso. Porque esta associação, que ajudámos a levantar, corresponde a mais um triunfo das ideias que presidem à orientação da política portuguesa através dos tempos. Ideias e atitudes que por vezes têm sido combatidas, menosprezadas, condenadas mas que o andar dos anos o juízo dos homens e, sobretudo, as duras realidades dos acontecimentos acabam por justificar e até enaltecer.
Tudo isto porque a nossa política, que visa o mais alto interesse nacional, não se confunde com simples interesses de negócio, seja de que espécie for; nem se serve de métodos oportunistas, daqueles que sacrificam às conveniências transitórias os princípios basilares. As suas constantes derivam da formação cristã do povo português, da civilização greco-latina fundamental e do sentido marítimo e missionário que acabou por caracte-