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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 91 424

O Orador: -O restante partilha-se por Vila Cova, Guadramil, Cercal, Orada e pouco mais, constituídos aqueles por magnetites e estes por hematites e limo-nites. Mas há um facto que urge registar: novos jazigos de magnetites foram descobertos em diferentes zonas do Marão, calculados em 31 000 000t, embora não tão ricas como as dos jazigos de Vila Cova, mas notável reserva que confere ao Norte do Pais incomparável vantagem sobre o Sul na sua riqueza em minérios de ferro.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-E este facto não envolve fantasia, estando a atestá-lo como resultado das suas explorações o professor da Universidade de Coimbra Dr. Cutelo Neiva, notável geologista, mestre na matéria.
Sendo o minério de ferro a fonte abastecedora indispensável da siderurgia e situando-se os seus jazigos a uma distancia aproximada de 500 km da grande oficina em construção no Seixal, como se explica a escolha feita?
Nada pesam ou nada representam economicamente os transportes maciços a efectuar de tão longas distancias?
Assim parece ser, pois, por via marítima ou terrestre, do Norte, do estrangeiro e das províncias ultramarinas virá tudo quanto seja indispensável à siderurgia e para tal oferece as maiores garantias a escolha do Seixal. E essas andanças de materiais não irão alterar o preço do produto acabado, da unidade do ferro, tornando-o insuportavelmente caro ?
Mas se esses motivos não bastam -proximidade da zona do abastecimento de minérios-, porque se esqueceu a proximidade das fontes de energia eléctrica, o subdesenvolvimento das regiões do Norte, o baixo custo da mão-de-obra naquelas zonas, a protecção devida ao Nordeste transmontano, tão cheio de riquezas ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -... :agora a explorar, e tão esquecido nas necessidades da sua população pacifica e sofredora, e outros factores, como sejam até as recomendações feitas pela N.A. T. O., dentro dos princípios estabelecidos pela defesa civil do território?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E ainda a situação criada à capital do País, à sua população, pela instalação de uma indústria que pode gerar grandes motivos de inquietação, sérios inconvenientes, malefícios e prejuízos contrários à sua salubridade?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Nada faltava no Norte para ali justificar a instalação da Siderurgia Nacional, facto que indubitavelmente traria as maiores vantagens, favorecendo os preços de venda. E a O. E. C. E. não negaria a sua concordância, por parte dos seus técnicos, a implantação do grande empreendimento em terras distantes de Lisboa oferecendo condições naturais e facilidades de toda a ordem para a execução do esquema, que tantas modificações tem sofrido.
Mas, Sr. Presidente, o facto está consumado e há que aceitá-lo como se apresenta. O que se torna necessário nas circunstâncias que se nos oferecem é o aproveitamento de tudo que represente valor e possa influir marcadamente sobre o custo da matéria acabada. Há rubricas, como a da importação do coque, cuja constância terá de prevalecer através dos tempos, se a criação do novas energias não vier modificá-la. A outras rubricas é indispensável ligar uma atenção especial, de forma a evitar despesas supérfluas, gravames escusados.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: é Moncorvo o nosso grande centro mineiro, como todos sabem, um dos mais ricos da Europa; e nada a seu respeito e ao seu futuro nos diz agora a Siderurgia Nacional, o que se torna motivo de justificada inquietação para aqueles a quem só o interesse público preocupa.
Há que dar destino aos seus minérios, dentro da riqueza e do valor que eles representam.
Honestamente podemos classificar esses minérios em dois grandes grupos: ricos e pobres, estes com uma quantidade de sílica que pode atingir os 20 por cento ou até mais e aqueles com uma percentagem inferior a 10 por cento.
Os mais ricos têm o seu lugar marcado dentro dos leitos de fusão estabelecidos ou a estabelecer para serem utilizados nos altos fornos a coque levantados no Seixal e que funcionarão graças a importação maciça de carvões coquetizáveis, de alto preço, que colocam a indústria numa subalternidade que pode conduzir-nos a situações bastante delicadas.
Os minérios pobres, com grande percentagem de sílica, poderão e deverão ser aproveitados pelos fornos Krupp Renn ou eléctricos, em que tantas vezes se tem falado, com as vantagens inerentes a este processo, que em determinado esquema foi aprovado por despacho ministerial, localizando-os junto dos jazigos de Moncorvo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Nada nos é revelado através do estudo profundo já realizado. O Pais, que se mostra bem atento ao desenvolver de empreendimento de tão alto interesse público, espera - e assiste-lhe esse direito - que o esclareçam sobre matéria de tanta magnitude.
Sr. Presidente: num dos capítulos da comunicação feita à imprensa pela Siderurgia Nacional, S. A. R. L., alude-se a matérias-primas vindas de variadas proveniências, e talvez das províncias ultramarinas,, como lá se diz, levando-nos este facto a pôr nova interrogação.
O que pensa a Siderurgia Nacional sobre as hematites da nossa província de Angola, onde no monte Saia existem grandes jazigos, cuja exploração actual atinge um número superior a 100000 t?
Todos estes esclarecimentos são bem necessários, visto representar o empreendimento siderúrgico um valor global extraordinariamente volumoso, demonstrativo de um notável esforço financeiro que há necessidade de cercar de todas as cautelas, para assim a Nação colher aquela soma de benefícios inerentes aos sacrifícios exigidos numa obra de tão grande alcance social e económico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Sr. Presidente: é em verdade cheia de dificuldades e de responsabilidades a empresa a que a Siderurgia Nacional meteu ombros, e só dentro de um esforço comum, em clima, de confiança e da melhor compreensão, poderão resolver-se as dificuldades que vão surgindo. Um empreendimento de tanta grandeza, dispondo de vastos recursos, orçamentado na sua realização em cifras que devem atingir 3 milhões de contos, apoiado financeiramente pelo Estado, que lhe concedeu o aval de 800 000 contos, tem de ser concebido e realizado com olhos postos no interesse da comunidade, verdadeiro interesse de todos nós.