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9 DE ABRIL DE 1959 425

Se tecnicamente soubermos vencer os obstáculos que possam surgir, não perdendo tempo, eliminando tudo quanto represento desperdício ou inferioridade técnica, combatendo erros e vícios, que se pagam caros, aproveitando com conta e medida os recursos que abundantemente possuímos, não desprezando factores de natureza económica e superiorizando-nos a todos os interesses particulares, a grande batalha da Siderurgia Nacional será ganha e as consequências dessa vitória far-se-ão sentir em profundidade e extensão na melhoria de condições de vida do nosso povo.
Na defesa constante e na aplicação rigorosa destes princípios, por vezes esquecidos, reside o triunfo de uma causa, o triunfo de uma grande indústria, que talvez não haja sido encarada com aquele espírito de objectiva decisão e isenção que é mister adoptar, seleccionando e preparando os seus elementos básicos, sejam de que natureza forem, e obedecendo a planos maduramente estudados, dos quais depende na sua totalidade a realização de tão grandiosa como ingente tarefa.
O ferro e o aço são indispensáveis à nossa economia e ao seu progresso.
Façamos tudo quanto é possível para os obtermos em quantidade precisa e em preço compatível com os nossos recursos e as nossas necessidades, dentro das condições mais favoráveis. Não nos deixemos dominar por miragens tão enganosas como prejudiciais.
O triunfo de uma causa só se consegue à custa de sacrifícios, e bem os merece, dentro de marcados limites, a causa da siderurgia, que é motivo forte de engrandecimento para a Nação.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: tem nesta Casa sido demonstrado, por mais de uma vez, com a eloquência dos números, ser o turismo uma das nossas principais indústrias, a mais susceptível talvez de tal futuro desenvolvimento que não será ousado supor-se vir ela a ser em breve a mais responsável pela entrada de divisas estrangeiras.
Para ela contribuiu Deus, espalhando às mãos pródigas, por esta ocidental faixa europeia, de reduzido tamanho, belezas incomparáveis - um céu suavemente azul; o mar manso ou irado, mas sempre convidativo, das suas praias; um sol que, sem queimar no Verão, aquece os corpos no Inverno; montes e vales, rios e lagos, verdes matizados e em profusão; e até neve, na sua brancura imaculada ... Tudo temos, graças a Deus, tão variado e tão farto em tão pouca terra!
A isso, durante séculos, juntaram os nossos antepassados, no orgulho dos seus feitos ou no ardor da sua fé, castelos, palácios e igrejas, a que uma arte discreta soube dar, mais do que o arreganho dos homens, a espiritualidade das almas. Arquitectos e construtores, pintores e decoradores, a massa anonimato povo operário, todos contribuíram para este património de hoje, atracção também de quem de fora nos procura.
Com tal matéria-prima não falhará a indústria, mas o seu conselho de administração tem de ser cauteloso, sem deixar de ter vistas largas; tem de andar depressa, mas sem precipitações; tem de saber olhar em conjunto, sem perder o pormenor.
Sr. Presidente: parece não ser ideia original a da . criação de uma região de turismo no Alto Alentejo. Que está no pensamento e no desejo das câmaras municipais -representantes dos povos- posso afirmá-lo, pelos testemunhos em meu poder. A minha intervenção é apenas no sentido de fornecer algumas achegas que ajudem o Secretariado Nacional da Informação a documentar-se melhor, pura poder mais rapidamente deliberar.
Na nossa história militar o Alto Alentejo, pela sua vizinhança com a fronteira de Espanha, desempenhou prolongada tarefa de defesa e de ataque, atestada pelos castelos que se espalham por todo ele. Tomando como ponto de referência a cidade de Estremoz, que em todas as emergências serviu de quartel-general pela sua privilegiada posição estratégica o onde se encontra o primeiro castelo que D. Dinis, seu pai e seu filho mandaram construir e D. João V reconstruiu para nele instalar um museu militar, deparamos no perímetro máximo de 80 km com o castelo de Évora Monte, originalíssimo na sua torre de menagem de três pisos assentes sobre atarracadas, mas elegantes, colunas de mármore; o de Veiros, enorme, berço do 1.º duque de Bragança; o de Vila Viçosa, com a igreja onde se venera Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal; o de Alandroal, de sete torres, construído pelos cavaleiros de Avis; o de Redondo, assente sobre antigo dólmen, por D. Dinis, com curiosas inscrições; o de Terena, essa antiquíssima vila onde se venerou um deus lusitano; o de Juromenha, com o Guadiana aos pós; o de Elvas, com Badajoz à vista; o de Arraiolos, sobre o seu monte cónico, dominando terras sem fim; o de Avis, de que restam apenas três torres e um naco de muralha; o de Campo Maior, guarda avançada sobre a fronteira com a Espanha; o de Arronches, cidadela de armas, «a forte Arronches», no dizer de Camões; o de Monforte, com alguma muralha e um terraço apenas, miradouro magnífico; o do Crato,. ainda no estado de ruína em que o deixou D. João de Áustria, esse devastador das nossas fortalezas; o de Montemor-o-Novo, que exuberante mata circunda e alinda; o de Monsaraz, incrustado nessa jóia do nosso património que é a medieval vila de Monsaraz; o de Mourão, reconstruído pela rainha mulher de D. João IV; o de Marvão, enquadrado no medievalismo do burgo, de vistas alucinantes; o de Alter do Chão, em bela praça pública, e o de Castelo de Vide, num conjunto arquitectónico único no Pais.
Vinte e um castelos, num círculo de 80 km, todos pesados de recordações, cada um na originalidade da sua construção, serão eles só motivo suficiente de propaganda de unia zona turística. Sem querer estabelecer comparações, não posso deixar de lembrar como em França se exploram, inteligentemente, os castelos do Loire.
Tomando ainda como referência, pela sua posição geográfica, a luminosa cidade de Estremoz, queda-se o espírito na recordação de alguns momentos históricos, assinalados com o sangue dos nossos campos de batalha, que se estendem em volta a não mais de 50 km: Atoleiros, Veiros, Ameixial, Canal, Montes Claros; Linhas de Elvas e, enfim, de certo modo, Évora Monte, onde D. Miguel sepultou as suas pretensões. Romagem a fazer a estes campos, mais para, portugueses do que para estranhos, eis outro motivo forte de atracção de uma zona turística.
Mas esta presença do passado não é apenas castelos e campos de batalha.
Vindos de Lisboa, façamos um dia, de novo, quartel-general em Estremoz: é uma terra acolhedora, onde a demora nunca é de mais.
Entretanto, tínhamos passado já, aproveitando a estrada internacional, por Arraiolos, nas alturas - a dos tapetes célebres-, com o convento da «Sempre Noiva» ao pé, e por Montemor-o-Novo, terra de S. João de Deus e onde o seu espirito permanece.
Em circuitos estudados pode-se então percorrer Vila Viçosa, onde avultam o palácio-museu da Casa de Bragança e as pedreiras de famoso mármore; o Alandroal; com as suas curiosas portas e onde Cupido teve templo,