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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 91 426

e a freguesia de Terena, onde o culto a Endovélico
- deus lusitano- teve raízes; Mourão, a que o prior da Ordem de S. João de Jerusalém deu foral em 1226; Monsaraz, vila medieval, onde ainda há pouco foi descoberto um painel quatrocentista, a juntar a tantas raridades ali existentes; Évora, onde cada recanto, conservado com entranhado amor e solicito cuidado, é página aberta sobre o passado; Elvas, de antiquíssimas igrejas e conventos e o sou aqueduto seiscentista de 7 km; Campo Maior, de que Beresford tomou o titulo e a quem Walter Scott cantou pelos seus feitos guerreiros; Arronches, que tantos privilégios reais teve e tão sacrificada foi na sua posição do guarda avançada, com o exemplar de gótico primitivo que é a Igreja de Nossa
Senhora da Assunção; Portalegre, também tão cheia de belos imóveis e de cujo gasalhado D. Afonso V levou tão gratas recordações e saudades, a testemunhar a lhaneza das gentes; Marvão, ninho de águias, de sabor medieval; Castelo de Vide, com as suas termas e um conjunto de tortuosas ruas medievais, único no Pais; Alter do Chão, onde se apuram cavalos e onde os romanos deixaram bela ponte, hoje intacta; Grato, sede da Ordem do Hospital desde 1336; Fronteira, com a sua igreja paroquial de 1594; Sousel, com a Igreja de Nossa Senhora da Orada, construída no local onde o condestável D.- Nuno acampou antes de Atoleiros, ali perto; Monforte, com o seu centro de lavoura romano; Redondo, das mais ricas regiões pré-históricas.
Eis, Sr. Presidente, nas palavras ditas atrás, a sugestão das visitas a aconselhar aos que procurarem um. dia a região turística do Alto Alentejo, cujo pedido de criação aqui reforço, com o apoio das autarquias locais.
Sei, porém, que propostas destas requerem estudo previdente e advogo mesmo o principio de que não deve atirar-se sobre os ombros das comissões regionais a preocupação dos grandes problemas ligados ao turismo, com risco de as alhearmos do pormenor, que particularmente lhes incumbe.
Crie-se, de facto, por justa razão e proveito futuro, a região turística do Alto Alentejo, mas só depois de se ter devidamente estruturado e dotado o plano de valorização da zona, com a colaboração dos vários departamentos: do Estado a que os melhoramentos estejam afectos.
Levar turistas a ruínas ou bens desprezados é confessar-lhes a nossa incúria ou a nossa penúria. O Alto Alentejo está cheio dessas mazelas. Cito ao acaso: o belo conjunto que em Estremoz é constituído pela sala em que D. Dinis dava as suas audiências, pela torre quadrada e majestosa do sou castelo, metida no palácio de que D. João V fizera armaria; pela igreja matriz reconstruída pelo cardeal-rei e pela capela em que D. Luisa de Gusmão mandou transformar o quarto onde morrera a rainha Santa Isabel, tem de tal forma abandonado o seu largo fronteiro (para falar só nisso) que forçoso é reparar nele.
Monsaraz, a que um historiador suíço ainda há pouco chamou gentilmente «a mais bela povoação do Mundo», com um projecto de obras aprovado em 1956, apenas conseguiu ver reparado um lanço de muralha. O antigo Mosteiro de Flor da Rosa, nos subúrbios do Crato, que o pai de D. Nuno mandou edificar parti os cavaleiros do Hospital, ele que foi o primeiro prior do Crato, desde 1949 que tem paradas as obras de restauro, tal como as do castelo de Évora Monte, cujos empreiteiros ainda ali têm materiais com alguns anos de descanso.
A parte superior da torre de menagem do vetusto castelo de Arraiolos ameaça desmoronar-se, sem esperanças de remédio pronto. Aliás, já em 1613 os oficiais da Câmara se queixavam de que a fortaleza se desfazia ...
0 castelo de Mourão, doado à Câmara por um particular que não podia restaurá-lo, não será já lavrado por dentro, mas continua no mesmo abandono.
A cidade luso-romana de Amaia, em Marvão, que promete furta colheita de recordações, está ainda em terrenos particulares, inexplorados. A igreja, de singular torre, de Monforte, que é pertença dos Monumentos Nacionais, está fechada ao culto pelo estado de ruína em que se encontra. Do castelo de Montemor só foi restaurada pequena parte.
Ao citar ao acaso estas mazelas o meu pensamento está ainda naqueles grupos «pró» que em cada terra poderiam lutar em defesa do seu património, como o de Évora, a que a cidade-museu do nosso Alentejo deve a conservação de tudo quanto nela lembra um passado rico de história e de cultura.
Mas valorizar uma zona de turismo, hoje mais do que ontem, não é apenas conservar as relíquias do passado, mas ainda criar condições de boa estada e criar motivos de atracção, que os turistas não são hoje apenas
- talvez nunca o tenham sido - velhos amantes de coisas velhas.
Casos como o de Avis, que à beira das águas da barragem do Maranhão, com um. regolfo de 25 km e larguras de 3 km, fundou já o seu clube náutico -o primeiro clube náutico no coração do Alentejo- e que poderá transformar-se ainda em zona de pesca, merecem atenção especial. E, falando de zona de pesca, melhor se falaria de zonas de caça. em região onde algumas tapadas suo verdadeiramente ricas, mesmo em espécies quase extintas.
Lembro a da Casa de Bragança, onde o veado não é peça rara. E não será também descabido falar da necessária instalação de um campo de trabalho e de estudo
em Marvão, que tem já a sua carta arqueológica e cuja cidade romana de Amaia, na freguesia de Aramenha, de área superior à de Conímbriga, promete espólio valioso, como os trabalhos preliminares dos saudosos Dr. Leite de Vasconcelos e padre Jallay anunciaram. Valorizar uma região de turismo é ainda lutar pela
conservação do que nela s típico - desde as casas às pessoas-, agora mais sujeito do que nunca a influencias estranhas.
O monte alentejano, o artesanato, a doçaria, os trajes e os costumes, as danças e os cantares, de que os ranchos do Cano e de Casa Branca, no concelho de Sousel, e o de Estremoz são depositários fiéis, tudo tem de ser realçado e acautelado.
Valorizar uma região de turismo é igualmente, sem fazer natureza, defender as riquezas de Deus, aproveitando-as para deleite dos homens. Lembro a serra de Portalegre, esse encantador e salutar logradouro, onde a iniciativa particular, desapoiada, tentou já criar condições de plano internacional, e a serra de Ossa, com o seu antigo convento dos capuchinhos, donde o pôr do sol ganha inusitados cambiantes e que a iniciativa particular também saberá tornar acessível.
Valorizar uma região de turismo é, outrossim, abrir-lhe portas e rasgar-lhe janelas. As portas são as nossas estradas, todas alcatroadas nos percursos que anunciei, mas em alguns troços, sobretudo entre Montemor e Estremoz, a necessitarem de revisão, e são a nossa fronteira terrestre, que se deseja aberta no Retiro, a 9 Km de Campo Maior, e melhorada em Galegos, junto a Marvão. As janelas são esses miradouros naturais com que Deus tão profusamente dotou a região e que permitem embeber os olhos na extensão plana, a esfumar-se sem fim. Sobre eles se erguem castelos e ermidas e num até, em Sousel, na serra de S. Miguel, uma das mais velhas praças de touros da Península, a dominar a maior extensão de olival que é dado abarcar, entre nós, de um só olhar.