9 DE ABRIL DE 1959 429
O aproveitamento hidroeléctrico destina-se, essencialmente, ao accionamento dos grupos electrobombas instalados na central elevatória.
A construção da barragem de Silves foi iniciada antes da última guerra e sofreu longos períodos de paralisação de trabalhos, além de várias outras contrariedades.
Em 1945 houve uma grave crise de desemprego na cidade de Silves, por paralisação de grande parte da indústria de cortiça, que afectou grandemente a fabricação de rolhas. Entendeu-se que, para atenuar o desemprego industrial, os trabalhos da barragem deveriam absorver o maior número de braços, dando preferência aos operários corticeiros. Houve necessidade de se estabelecerem turnos. Esta situação prolongou-se até 1950.
Atenuaram-se, certamente, graves dificuldades de carácter social mas é evidente que era fraco o rendimento do trabalho, não só porque se tratava de operários habituados a outras actividades, como o regime de turnos impossibilitava uma conveniente adaptação. Daí terem-se agravado, e substancialmente, os custos dos diferentes trabalhos.
Assim não se estranhará que a obra de Silves tenha sido das mais caras de quantas se têm realizado e que o custo por hectare beneficiado ultrapasse 60.000$.
A partir de 1950 os trabalhos desenvolvem-se em ritmo normal e em 1955 pôde dar-se início ao regadio, com a rega de 403 ha em 1956. Em 1957 a área regada sobe para 577 ha e em 1958 já foi possível regar mais de 1250 ha, ou mais de 65 por cento da área prevista no projecto inicial.
Vencidas as naturais hesitações que inicialmente surgem em qualquer grande obra de rega, não tardaram os proprietários a realizar os trabalhos necessários e a adaptar as suas propriedades ao regadio.
Plantam-se activamente novos pomares, principalmente de citrinos, e em algumas terras intensifica-se a exploração, conseguindo-se três culturas no decurso do ano.
Numa estimativa sobre o rendimento dos 1250 ha regados em 1958 - e considerando apenas as culturas de Primavera e de Verão - apurou-se que o rendimento bruto alcançara o multiplicador 4,42 em relação aos rendimentos médios antes do início da rega.
O rendimento líquido alcança o multiplicador 4,05. As valorizações previstas no projecto eram de 2,86 para o rendimento bruto e 3,27 para o líquido.
A diferença justifica-se não só porque na determinação da valorização do rendimento líquido se considerou o custo das despesas com a exploração e conservação da obra, na importância de 600$ por hectare irrigado, como porque também se verificou uma maior exigência de mão-de-obra, maiores encargos na mecanização e utilização de maiores volumes de água em muitos pomares que existiam antes da obra e que sofriam de falta de água. Os anos de 1957 e 1958, excessivamente secos, vieram demonstrar e convencer dos benefícios económicos da rega, tornando as explorações agrícolas quase independentes das prolongadas estiagens, aliás tão frequentes no Algarve.
Em anos excepcionais, os pomares de citrinos são regados em pleno Inverno, como aconteceu em 1956, para se atenuarem os efeitos da geada.
Além dos resultados evidentes na mais conveniente exploração das terras, na obra de Silves começa já a sentir-se larga repercussão social. Surgem dezenas de novas construções rurais, permitindo melhores condições de vida aos seus modestos proprietários, aumentaram os salários e quase desapareceu o desemprego rural.
Nos 1900 ha de terras dominadas pela barragem há cerca de 1700 prédios, o que corresponde a 1,20 ha, em média, por cada prédio e demonstra a divisão da propriedade rústica naquela zona.
Terminada, e em funcionamento, a barragem de Silves, iniciaram-se as obras para a valorização das várzeas e encostas dos cursos inferiores das ribeiras de Odiáxere, Arão, Farelo e Torre, entre Portimão e Lagos, com uma superfície de 1800 ha, dos quais cerca de 700 ha são de terrenos alagados, salgados ou de sapal.
Sob a superior direcção do ilustre Ministro das Obras Públicas, engenheiro Arantes e Oliveira, que no exercício da função não só tem confirmado a sua excepcional competência técnica, como se tem revelado um fraude Ministro, a quem o País, de norte a sul, é já devedor de inúmeras e muito valiosas realizações, ...
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:- ... foi mandada construir uma barragem na ribeira de Odiáxere, no sítio denominado "Bravura".
Uma vez iniciados os trabalhos, estes prosseguiram sem soluções de continuidade e a, obra encontra-se quase terminada, devendo ser inaugurada no próximo mês de Maio.
Os trabalhos de enxugo e de defesa contra a invasão das marés nas terras baixas encontram-se ainda por acabar, embora em fase adiantada.
A albufeira tem uma capacidade útil de 33 000 000 m3 e a barragem é do tipo de abóbada de betão, com 41 III de altura sobre o leito da ribeira.
A água é conduzida através de uma conduta com mais de 2000 III de comprimento, parte construída em túnel, até à central de bombagem.
A central eléctrica utiliza uma queda útil de 28,5 m, com o caudal máximo de 2600 [...]. O seu equipamento compreende um grupo turbo-alternador de 720 kVA.
O condutor geral, a jusante da central, tem o desenvolvimento de cerca de 18 500 m.
O custo final da obra não deverá exceder 80 OUO coutos, correspondendo a 44 contos o custo médio por hectare beneficiado.
Na zona dominada pela barragem a propriedade encontra-se muito dividida, com mais de 1205 prédios, ou 1,5 ha, em média, por cada prédio.
As propriedades são exploradas por conta própria em mais de 67,5 por cento e em regime de parceria 29 por cento. Só quanto a menos de 3,5 por cento do número total dos prédios a exploração é feita por arrendamento. Antes da construção da nova barragem havia inúmeros pequenos regadios, com elevados custos na elevação de água, e como esta, em geral, é salobra, porque grande parte do subsolo das várzeas é salgado, isso obrigava a multiplicar o número de regas, de que resultava aumento de salinidade, nas terras.
Sempre que se lhe oferece a oportunidade, o Algarvio planta nas terras de várzea pomares, principalmente de citrinos, e não raramente consegue rendimentos líquidos vizinhos de ]5 contos por hectare.
Em terras de meia encosta de formação pliocénica ou triásica cultiva-se a vinha, conseguindo-se igualmente altos rendimentos.
Os terrenos alagados e normalmente salgados exigem grandes gastos com a construção de muros de defesa, de dessalgas, e há que aguardar alguns anos para deles se conseguirem razoáveis rendimentos..
Serão, entretanto, dos que mais virão a beneficiar com a rega, já que se encontravam praticamente incultos e, consequentemente, com fraco ou nulo valor.
As obras de dessalgamento, de defesa e de enxugo em 700 ha de sapais, na zona do Alvor, possibilitarão