30 DE JUNHO DE 1959 1053
como sempre, a da Nação inteira, honrou a cerimónia inaugural e lembrou o amigo perdido com aquela coragem de amizade que se não esbate nem com o poder da morte nem com o distanciamento das posições no mando. Foi ali prestar, um serviço público, de espirito e de cultura, lembrar um amigo que se erguera acima da mediania e da futilidade do nosso tempo,, e foi desinteressadamente porque, se por ali pairava o espirito gentil de Abel de Lacerda, já lá não estava a sua voz para dizer um abem bojar, português e beirão, ao homem bom e simples que ali ia, como amigo certo, mas investido na altíssima grandeza de Chefe Supremo da Nação.
Sr. Presidente: a voz de que disponho nesta .Assembleia foi-me dada -para que as honrasse e defendesse - por aquelas boas gentes da Beira Alta que durante algum tempo me viram e conheceram no apaixonado afã da vida profissional, de que estou sempre lembrado e tenho saudades.
Mas esta minha pobre voz não terá nem o impulso nem a qualidade de uma outra que nesta Cornara várias vezes se levantou em honra, defesa e glória dos valores, dos bens e das fazendas dessas sãs e honradas gentes de Viseu e de seu termo que agora saudaram e aclamaram o Sr. Almirante Américo Tomás.
Refiro-me à voz moça e entusiasmada de Abel de Lacerda, cuja vida brutalmente se extinguiu enquanto estava dando brilho, pelo fulgor que dentro de si trazia -como alma de eleição que era e pelo facho que em suas mãos aguentava para ampliar de luz os caminhos do espirito daquelas terras e daquelas famílias de que era mandatário cumpridor e zeloso, ou, mais do que isso, de que era apóstolo enternecido e apaixonado.
Nem além, no Museu do Caramulo, nem aqui, no plenário desta Assembleia Nacional, tem já voz de vida ou poder de expressão pela palavra esse beirão confiante e ardente que além ergueu uma obra invulgar e impar 9 e aqui se pronunciou, desinteressado e sincero, em favor da sua região e dos seus patrícios, que o tinham por mandatário de legítimos interesses e por mensageiro de sadias aspirações.
Seja-me assim permitido a mim, Sr. Presidente, Deputado da Nação eleito pelo circulo de Viseu, levantar uma voz que, se tem ressonâncias alentejanas, aqui traduz e exprime vigores e energias das serras da Beira; e permita-se a esta minha voz que ela seja a que se levante para dizer ao Chefe do Estado aquele «bem haja» que além e aqui lhe seria, dito pela sua significativa presença na comovente cerimónia inaugural do Museu do Caramulo; seja-me permitido ainda chamar à nossa comovida recordação e à nossa saudosa lembrança o nome de Abel de Lacerda, cuja vida breve se absorveu e ardeu num sonho que havia sempre de reflectir-se e materializar-se em actos de caridade e de generosidade, em prestação de serviços no amor do próximo, em pensamentos de arte e de altura, em rasgos de amizade e de simpatia humana, em altura de espirito e em grandeza de alma.
Abel dê Lacerda queria que o seu Museu do Caramulo viesse a ser «uma síntese, um exemplo, uma lição». Tudo isso é e lá está patente, até com expressão universal, nessa serra onde um tão grande sonho de ideal foi vivido, onde se levantou um tão original crescimento de amor aos valores do espirito, onde uma tão extraordinária capacidade de doar e de solicitar doação em favor da comunidade há-de ficar para sempre a atestar a grandeza do homem que vive em plenitude o seu anseio de fazer o bem e de saber faze-lo ao serviço da beleza.
Se Abel de Lacerda aqui pudesse estar em presença viva, ele havia de também querer dizer daqui uma palavra de reconhecimento e de gratidão ao Governo, à Fundação Gulbenkian, a todos os generosos doadores
- e tantos eles são l- que tornaram realidade e enriqueceram o Museu, estimulados na dádiva pelo exemplo e pelo empolgante poder de contágio das ideias ricas de que dispunha o Abel de Lacerda. Aqui fica, na minha palavra desvaliosa, mas sinceramente comovida, .esse gesto de agradecimento, levado até quem dele se tornou credor e em que a minha voz só serve de eco à gratidão daqueles povos que Abel de Lacerda aqui representava e eu aqui agora represento.
Peço à Câmara que me acompanhe num pensamento de emocionado respeito para a ilustre família do fundador do Museu, que soube acender, na continuidade do exemplo e para além da morte de Abel de Lacerda, uma luz viva de amor, de ilustração e de cultura que ali ficará ardendo, no pórtico do Caramulo, em símbolo de glória e de louvor a esse gentilíssimo espirito que tanto soube honrar o seu nome, a sua terra natal, a sua pátria e, talvez acima de tudo, a eternidade dos bens do espirito e dos dons do coração.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Urgel Horta: - Sr. Presidente: a realidade dos factos, no esplendor do sen alto significado, fala mais alto e mais claro do que tudo quanto através de enroupada linguagem possa dizer-se e afirmar-se sobre o brilho inexcedível das manifestações, tão sinceras como expressivas, dirigidas ao Sr. Presidente da República, que na semana finda tiveram por teatro o Porto e o Norte do Pais.
Tudo quanto se passou lá em cima, no velho burgo tripeiro, no sen distrito, em Gaia, em Santo Tirso ou em Felgueiras, não foi mais que a demonstração eloquente, tantas vezes repetida, das nobres qualidades, virtudes e sentimentos de que é detentor o seu povo, reconhecido e orgulhoso no seu passado, vivendo com igual sentimento o presente, cheio de fé e confiança no futuro; sabendo querer e sabendo pedir dentro do conceito da mais perfeita justiça que assiste; colocando face a face direitos e necessidades a respeitar e a satisfazer; sabendo agradecer, com dignidade e conhecimento, na sua justa medida, as realizações e empreendimentos pelas quais todos lutamos ardorosamente.
O Porto, que possui essa virtude magnifica que é a gratidão, bem o demonstrando nas saudações dirigidas ao Sr. Presidente da República, viveu horas de entusiasmo, de inexcedível júbilo, de sentido agradecimento pelo muito que já se realizou a seu favor e pelo muito que espera se faça, dentro das necessidades e das possibilidades da hora presente.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador:-A visita do Sr. Presidente da República ao Porto e os motivos que lhe deram origem bem merecem ser realçados em suas verdadeiras dimensões perante o conceito da Nação inteira, pelo muito que valeram e pelo muito que representam.
A primeira e inolvidável visita àquela nobre e leal cidade do ilustre Chefe do Estado, assinalada como mais um magnifico triunfo pessoal e político do almirante Américo Tomás, ficará profundamente marcada na memória de quantos puderam presenciá-la, tomando parte activa no sen desenvolvimento, emprestando-lhe todo o calor do seu entusiasmo e todo o valor do sen magnifico e espontâneo apoio. E bem a mereceu, essa nobre figura de português, supremo magistrado da Nação, símbolo augusto de uma pátria que o escolheu para seu chefe, pátria que através dos séculos deu ao Mundo a eloquente lição da sua história.