1054 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 126
Bem ganha e bem merecida foi essa apoteótica manifestação dirigida ao venerando Presidente da República, audaz e honrado marinheiro, aureolando a sua longa carreira ao serviço da Nação no desempenho brilhante de missões da mais alta responsabilidade; personalidade de altos méritos, comprovados em todas as manifestações da fecunda inteligência e- labor; animo forte de espirito criador e ousado, temperado no sereno cumprimento do dever, jamais enjeitando responsabilidades; carácter moldado em aço fino da têmpera mais rija.
Ele é bem o verdadeiro Chefe do Estado: austero, digno, honrado, inteiramente dado à Nação e ao seu progresso, em quem os Portugueses depositam confiança absoluta, pois sob a sua farda de almirante, onde brilham as estrelas da mais alta patente, bem dentro do seu peito, pulsa compassadamente o coração forte de um grande homem do Estado, cuja vida é exemplo vivo de inteira dedicação à Pátria, na manifestação eloquente e expressiva de todos os sacrifícios, no cumprimento fiel do juramento sagrado que lhe ouvimos fazer do alto daquela tribuna ou na afirmação que lhe escutámos quando disse, no Porto: (Como marinheiro, fui sempre razoável timoneiro do meu barco, e na grande nau do Estado procurarei, disso todos podem estar certos, que enquanto o timoneiro tiver vida a Nação não soçobre».
A visita que o Sr. Presidente da República acaba de fazer ao Porto e ao Norte do Pais, de tão alto significado e de tão notável repercussão nos sentimentos de afectividade da grei portuense e da população nortenha, teve por objectivo, entre outros, a inauguração de dois empreendimentos de reconhecida utilidade material e social, cujo proveito se fará sentir, pela sua profundidade e valia, na vida da população, que governantes e governados, procuram e anseiam ver modificada e melhorada nos índices representativos do seu valor.
A inauguração da central termoeléctrica da Tapada do Outeiro e a inauguração do Hospital Escolar de S. João, uma e outro levados a cabo dentro dos mais actualizados princípios de técnica pelo Estado Novo, assinalam magnificentemente a vinda ao Porto do Sr. Presidente da República, que com a alta dignidade da sua insigne presença veio dar a estes actos um brilhantismo de incomparável solenidade e de extraordinária grandeza. A importância de que se reveste semelhante empreendimento, de altíssimo valor na economia da Nação, fica claramente demonstrada pelas afirmações produzidas no sen acto inaugural, afirmações feitas por quem tinha capacidade, autoridade e direito para as produzir.
Na verdade, a portaria expressa no Decreto-Lei n.º 39632, de 4 do Maio de 1954, mandando proceder aos estudos indispensáveis à construção da central termoeléctrica, destinando-lhe funções de apoio e reserva à rede eléctrica nacional, pelo aproveitamento dos nossos combustíveis, devendo localizar-se junto da bacia carbonífera do Douro, cujos jazigos de maior importância são os do Pejão e os de S. Pedro da Cova, deu possibilidades para uma melhor exploração da rede nacional e louvável e justa solução a outros problemas, alargando, regularizando e equilibrando as necessidades no aproveitamento de energia como recurso supletivo em períodos que a irregularidade das forças da natureza possam ocasionar. E veio, por outro lado, resolver um problema social da maior latitude, criando condições permanentes de trabalho e satisfatórias de vida para muitos milhares de indivíduos que no Pejão e em S. Pedro da Cova exercem a sua actividade mineira, resolvendo-se assim as dificuldades das famílias que sustentam.
Mas, Sr. Presidente, de todos os acontecimentos, e tantos foram eles, passados durante a vitoriosa estada no Porto do Sr. Presidente da República, aquele que mais tocou a minha sensibilidade e a minha inteligência, como homem e como médico, acontecimento de impressionante grandeza, quê o Chefe do Estado se dignou honrar com a sua presidência, foi a inauguração solene do Hospital de S. João, Hospital-Faculdade.
O Sr. Camilo de Mendonça: - Muito bem!
O Orador: - Não possuo expressões com que dentro de todo o realismo e de toda a verdade possa exprimir a emoção e o sentimento com que acompanhei o desenrolar dessa expressiva cerimónia, presidida pelo Chefe do Estado, que representa a maior conquista do Porto, de alta transcendência e projecção social, na manifestação de uma actividade desdobrada na assistência médica ao homem e na educação técnica, moral e espiritual a conferir às gerações que por aquele instituto irão passar, estudando e trabalhando na investigação e na técnica para aquisição e aperfeiçoamento de conhecimentos de cuja aplicação resultará o mais franco benefício para a sociedade: a defesa e conservação da saúde humana.
O acto inaugural do Hospital de S. João, dentro do qual se situam as novas instalações da Faculdade de Medicina, obra de extraordinário vulto levada a cabo 'pelo Estado Novo, na materialização de uma aspiração vivida há longos anos, abre novos e seguros caminhos, largos horizontes, aos problemas da assistência, ensino e investigação no campo da medicina portuense. E na hora de triunfo que todos vivemos, irmanados do sentimento de reconhecida gratidão para os realizadores desta notável obra, hora alta de entusiasmo, de confiança e de fé no futuro da grei, sob a alta égide dos homens que nos governam, não fica mal, antes se afirma como acto de justiça, o lembrar, .em duas palavras, a evolução que o ensino médico, nas suas instalações, sofreu no Porto, desde tempos longínquos, recuados de séculos, em que no hospital da Misericórdia do Porto existia o curso e de praticantes de sangria e cirurgia, fermento inicial da nossa Faculdade, até a realização do empreendimento que agora festejamos e a que se associou o Chefe do Estado.
Foi ali no canto obscuro onde funcionava esse velho curso, como dizia o professor ilustre que é o Dr. Hernâni Monteiro, no ângulo nascente-sul do Hospital de Santo António, que teve seu berço a Régia Escola Portuense, criada em 1820 por alvará do rei D. João VI. E essa escola só se tornou realidade pela acção benemerente da Santa Casa, instituição de caridade e assistência, que honra e enobrece o Porto e a Nação pela soma de benefícios sem conta que há séculos vem espalhando.
Anos depois, mais de meio século, através de múltiplos sacrifícios, foram instalados em casa própria os serviços da velha Escola Médico-Cirúrgica, onde tantas gerações de médicos se formaram, instalações que muito mais tarde se ampliaram pela acção inteligente do então Ministro da Educação Nacional, o saudoso mestre e amigo. de todos Dr. Alfredo Magalhães.
1825, 1836 e 1911, ano em que a Escola Médica se transformou em Faculdade, são três. datas memoráveis no historial evolutivo do estudo da medicina no Porto, à qual temos de juntar a hora em que vivemos, hora em que novo ciclo de vida e de trabalho se inicia com a inauguração do Hospital-Faculdade.
E neste instante não podemos calar o nosso louvor e o , nosso reconhecimento à grandeza de acção colaborante e efectiva da Santa Casa da Misericórdia, que desde 1825 prestou à Escola Médico-Cirúrgica e à Faculdade de Medicina do Porto serviços de tão extraordinária valia, através do Hospital-Geral de Santo António, que pode afirmar-se que a ela se deve uma grande e notável parte de actividade na formação profissional de muitas gerações que no Porto fizeram os seus cursos.
Sr. Presidente: à solenidade da memorável sessão, que marca o remate da esplendorosa visita ao Porto do