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11 DE DEZEMBRO DE 1959 143

estranho modo este de defender o orgulho nacional ferido!
Mas para lá desse aspecto havemos de reconhecer subsistirem, os motivos, as razões e os objectivos da cobiça de uns, das inibições de outros, não obstante terem talvez já percebido dolorosamente que também sofrerão as consequências se aqueles desideratos vierem a realizar-se e também permanecer a estratégia a mesma.
E nem se julgue que o degelo nas relações russo-americanas e a eventual concretização de uma fórmula de coexistência dita pacifica signifique o abandono daqueles objectivos, a renúncia à luta ideológica, a desistência de tentar quebrar a resistência moral e a unidade política dos povos que altivamente persistem em seguir o seu turno, fiéis ao seu destino histórico, fiéis aos seus valores e à sua missão no Mundo, neste pobre Mundo.
Pelo contrário, por acções e também por omissões, qualquer degelo, como qualquer modus vivendi, assente no temor mútuo e em conveniências materiais recíprocas não terá como efeito atenuar a luta do comunismo contar os valores morais e espirituais da civilização cristã ou levá-lo a desistir de vencer a Europa em África, se não puder corromper-lhe a alma enfraquecendo a sua unidade, dividindo os homens, e assegurar mais simplesmente o domínio de África na velha Europa.
Já se tem dito e redito que o destino da Europa, desta Europa livre e cristã, se joga em África, mas também e verdade igual que a África se pode perder na Europa
Sr. Presidente o objectivo último da ofensiva contra nós - contra a nossa civilização e contra o nosso território, espalhados pelo Mundo - são as nossas províncias ultramarinas, especialmente as portentosas províncias de Angola e Moçambique. Quem o duvida?
O nosso ultramar, para além de constituir o orgulho de um passado feito de sacrifícios de sangue e de fazenda, de epopeia e de glória, de conter túmulos de heróis e de mártires, de espalhar algo do mais íntimo e grande da inconfundível personalidade lusíada, de representar para todos os portugueses um passado no presente, é também um grande e forte e vivo motivo de esperança.
No espírito da juventude portuguesa perpassa constantemente o sonho de África, que, para cada vez maior número, será a terra de seus filhos e a perspectiva de um futuro melhor porá todos Dos mais humildes até aos mais cultos, principalmente para aqueles, o ultramar é a promessa do futuro, o local onde se podem tentar as coisas grandes e belas que estão no fundo do seu espírito, que latejam no sangue quente de latinos, que vivem na alma sempre aberta à epopeia, à poesia e à dádiva dos Lusitanos
Transigir, ceder, abdicar, negociar, significa, para todos os portugueses -aqueles que, a despeito de terem nascido em Portugal, assim não sintam, pensem ou vivam, não são portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - . . transigir, ceder, abdicar, negociar a respeito dos territórios portugueses, derramados pelo Mundo, significa para todos os portugueses uma traição para com o passado, uma desonra no presente e a alienação de uma das mais fortes e vivas e sentidos razões de esperança no futuro

Vozes: - Muito bem!

Apoiados

O Orador: - A intransigência total, completa, absoluta, a este respeito constitui, assim, um imperativo da consciência nacional que todos os portugueses, estejam onde estiverem, sob pena de grave traição à Pátria, têm o imperioso dever de proclamar, a obrigação inalienável de sustentar por todos os meios, inclusive da própria vida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assim, e aqui, temos de aparecer aos olhos dos outros, mas primeiro de nós próprios, como força coesa e una, firme e decidida, forte e orgulhosa, sem respeitos humanos, como outrora em tantas e tantas gestas que são o padrão da nossa própria vida.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Sr. Presidente, creio ter sido claro a este respeito e creio também não ter dito nada de novo que os Portugueses não tivessem já claramente compreendido Mas ainda não disse tudo.
Disse que constituímos um motivo de escândalo pela serena firmeza da nossa atitude e principalmente pelos resultados da nossa perseverança Disse que as razões da cobiça eram imediatas e materiais para uns, mas também mais profundas e espirituais para outros, aqueles que, ao fim e ao cabo, estão na origem e no comando dos acontecimentos perante a complacência ingénua ou comprometedora de alguns povos e, também, perante a inibição fatal de outros, quiçá menos ingénuos, mas prudentes, receosos ou timoratos no mínimo, a braços com ventos que antes espalharam e agora não sabem como conter e dominar.
Mas talvez não tenha explicado bem como foi possível resistir enquanto os outros - todos os outros - cederam, por que razão os ataques do inimigo se dirigem, até talvez primeiro, contra o regime português e o objectivo da guerra que, daqui e dali, de dentro e de fora, nos movem ter como fim primeiro derrubar o regime político e Sal azar em especial.
Creio, porém, ser simples de explicar e fácil de entender por quantos a paixão não tolde a razão, a ingenuidade não cubra a traição, situem-se seja em que quadrante político for, tenham estes ou aqueles ideais políticos peculiares
A questão é esta. foi a firmeza do Governo, traduzindo fielmente a consciência nacional, apoiado numa ampla base de unidade política, livre da tutela de influências, interesses ou questões acidentais e fora de quaisquer lutas partidárias ou dissídios internos, quem operou o milagre e pôde conduzir a história como há-de ser narrada no futuro com maior evidência.

O Sr. Carlos Moreira: - Não esqueça V. Exa. que foi também a noção patriótica do povo português.

O Orador: - Foi exactamente o que eu disse V. Exa. não deve ter ouvido a frase antecedente.
Não fora a clarividência de Salazar, a firme determinação do Governo, a existência de uma forte unidade nacional, e a consciência dos Portugueses teria sido traída, a Pátria poderia ter sido amputada, porventura depois de muito jogo retórico, de muitas discussões inúteis e ridículas, os horizontes de esperança da nossa juventude teriam sido bruscamente cortados e, em pouco tempo, ter-se-ia negado todo um passado imorredouro e liquidado um futuro promissor
Acaso não é esta a lição da nossa história? Acaso não é esta, na actualidade, a lição de outros povos?
Que é assim nós o sabemos bem - embora alguns e algumas vezes pareçam, finjam ou pretendam esquecê-lo -, que é assim nós o sabemos bem e melhor o conhecem os nossos inimigos