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144 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 137

Vai daí, com uma lógica simples, capaz de ser entendida por uma criança, vai daí que, quando não seja possível ou enquanto não seja possível criar a subversão e a desordem entre as populações pacíficas e portuguesíssimas de África, Ásia ou Oceânia, é preciso, é antes de mais necessário, destruir os fundamentos dessa força moral, dessa unidade espiritual, dessa coesão política, dessa lição de perseverança, é indispensável destruir o regime, afastar o seu chefe, semear a desordem, a divisão e a luta onde havia paz e harmonia, consumir as energias dos Portugueses em lutas estéreis da política partidária, quebrar as armas no próprio campo em que se deviam forjar.
Eis porque, se África é o objectivo, a civilização cristã o fim último, o regime português havia de constituir o obstáculo a vencer, o meio que abriria as portas ao objectivo directo e, também, ao último.
De facto, alguém acredita que entregue a vida desta pequena metrópole às lutas de interesses, de paixões, de alianças partidárias e vaidades insatisfeitas, alguém, de boa fé, acredita que, desfeita a unidade, corroída a coesão moral, deixado o campo aberto a ambições e despeites, fosse possível prosseguir com altivez a política de firmeza que temos seguido e tem permitido vencer onde outros mais poderosos baquearam, desaconselhado aventuras e perseverado a paz interna, aqui como no ultramar?
Alguém acredita? Alguém de boa fé acredita?
Talvez as nossas recordações do fim de século passado, em circunstâncias internacionais menos dramáticas do que as actuais, e o exemplo recente dos Franceses, que na crise da Argélia encontram motivos e forças para se redimirem na medida e pelo modo que ainda lhes foi possível, possam responder eloquentemente.

O Sr. Melo Machado:- Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente mesmo que dos factos não deduzíssemos, como parece insofismável, a conjugação e conjura de forças, a sua natureza e sentido, o seu objectivo e finalidade, são os nossos adversários quem, com uma franqueza muito louvável, o proclamam, sem perífrase nem reticências.
Ainda há dias o Diário de Notícias transcrevia da revista comunista Nova Revista Internacional, que se publica em França, umas passagens altamente esclarecedoras e suficientemente expressivas.
Para que repeti-las? Todos as conhecemos: nós, os nossos adversários e também aqueles que nasceram com vocação para mártires e vítimas da sua inocência, que seria comovedora se não fora trágica para os povos. Conhecem-nas até aqueles que, por ódio ou paixão, por ambição ou despeito, aceitam todos os compromissos, são capazes de praticar todas as indignidades, admitem discutir ou negociar a Pátria, desde que tal pareça útil aos seus fins, seja capaz de satisfazer as suas ambições ou de saciar os seus ódios.
Sr. Presidente, há momentos em que as questões confusas se tornam meridianamente claras.
Quando se ouvem rugir impropérios por parte de povos neobárbaros que os proclamam só porque se chamam países independentes, impropérios que só ressoam porque proferidos em areópagos internacionais; quando se dá couta de quem faz coro e maneja os cordelinhos desses fantoches; quando assistimos a coincidências como aquelas que há dias ocorreram na capital britânica - e só aí talvez porque a Inglaterra é o nosso mais velho aliado; quando a conjura se revela em toda a sua nitidez, despido o manto da fantasia e descoberta a nudez crua da verdade como uma acção táctica do comunismo e imperialismo moscovitas, quando se pretende claramente e sem sofismas bater-nos em casa, para alcançar os seus objectivos; quando tudo isto é límpido - claro como água, dizia O Século -, que nos falta para formar o juízo, extrair a lição e determinar a acção?

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador: - Creio que nada, absolutamente nada.
Então é preciso tomar decididamente o caminho da acção, do combate em qualquer momento, em qualquer lugar.
Deixem os Portugueses as querelas de pessoas - ia dizer as questões de vizinhas ociosas -, ponham os Portugueses de lado, sem quebra de personalidade e de respeito pelos pontos de vista de cada um, quanto possa dividi-los, enfraquecê-los, seja susceptível de lhes corromper a alma ou minar a unidade, que bem pouco é perante a grandeza das questões que a todos cabe, por igual, defender.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando, como hoje, o passado de glória e o futuro de esperança, uma tradição, uma cultura e lima missão estuo em jogo, tudo o mais - por mais coisas que sejam e mais de perto pareçam tocar-nos - bem pouco é, tão pouco que seria ridículo pesá-lo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente. não receio nada do espírito dos Portugueses. Sempre em todos os momentos, quando as circunstâncias os sujeitaram a uma provação, souberam, puderam e quiseram encontrar as energias, os meios e os homens capazes de as vencerem, dando provas de lealdade à sua missão, de nobreza de sentimentos e de indomável firmeza de ânimo - tudo afinal quanto é necessário para poucos fazerem muito.
Para ser inteiramente exacto, direi que receio apenas que se dêem tarde conta da situação, demorem a tomar a consciência exacta do problema e das suas premissas, sejam demasiado ingénuos ou confiantes e com essa atitude não reajam com a prontidão necessária, com a urgência requerida.
Outrora, perante o inimigo externo, essa atitude apenas tinha como consequência obrigar, no momento da luta, a uma maior mobilização de energias, a uma mais elevada exaltação de sentimentos. Hoje, porém, o inimigo não é só externo, é também interno, não age dê frente, não se mostra tal qual é, e, acima de tudo, procura primeiro corroer a frente interna, minando os alicerces da sociedade, transformando pequenas questões em grandes problemas, excitando sentimentos, amolecendo vontades, mentindo persistentemente, semeando ódios, cativando vaidades, despertando ambições
A primeira batalha é, por isso, interior e, se nos deixarmos vencer nela, de nada servirão já as qualidades da raça, as virtualidades do nosso temperamento, a fortaleza do nosso carácter

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Alerta pois, em toda a parte, alerta nas oficinas, alerta nos campos, alerta nas escolas, alerta em toda a parte Alerta que os inimigos da Pátria espreitam.
Sr. Presidente pretende-se por uma ofensiva geral destruir o regime, como meio de destruir a unidade nacional, abrir as portas da África Portuguesa, e, por fim,