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27 DE ABRIL DE 1960 779

malmente, daqueles sectores que poderemos considerar o grande turismo, mas mais da classe média, com possibilidades mais reduzidas, que, utilizando muito os seus automóveis, e portanto as estradas, nem por isso utilizam tanto os hotéis, mas sim mais acampamentos e parques de campismo. A este respeito, o que importa é dar-lhes boas estradas, facilitar-lhes os acessos conveniente, estabelecer parques de acampamento e campismo em todos os pontos, onde uma curiosidade artística, um facto histórico, um apontamento monumental, uma nota de paisagem, justifique e possibilite o acesso das correntes turísticas internacionais até nós.
Sr. Presidente: pode dizer-se que a reconstrução material do País após o movimento triunfante do 28 de Maio começou pelas estradas, então em total estado de abandono e completa ruína. Lembro-me bem, nesses ominosos tempos, a aventura que representava viajar de automóvel, então raros, ou mesmo de carro de cavalos, pelos atoleiros das nossas estradas.
Viajar era uma coisa tão aleatória e tão incerta e insegura que o problema que se punha à hesitação de cada um ao empreender uma viagem era apenas este: se chegaria ao destino, pois já tinha como certo, antecipadamente, que não saberia quando...
Havia zonas do meu distrito em que se tinha de abandonar o leito da estrada e galgar com os veículos por cima dos terrenos marginais, por cima dos campos, dos matos, utilizando-se muitas vezes meros caminhos vicinais, por impraticabilidade das estradas.
Havia pontos em que frequentissimamente os carros se atolavam nos lodaçais, e de tal maneira que para os safar se solicitava o socorro da junta de bois do lavrador mais próximo; e estas cenas eram tão frequentes que já havia lugares onde os bois estavam continuamente a postos para estes serviços de rotina. O espectáculo não era só pitoresco; era também dramático e colocava-nos numa situação vergonhosa perante nós próprios e perante os estrangeiros que eventualmente se atrevessem a viajar no País.
O pior de tudo, porém, é que tal estado de coisas constituía forte entrave ao nosso desenvolvimento económico. A circulação não se fazia. As comunicações por estrada não eram mais do que uma saudade para os velhos e uma aspiração longínqua para a gente nova.
Não era apenas a esclerose das artérias; era a sua ruína. Um caos.
Foi a partir dessa verdadeira desgraça nacional que se empreendeu a grande obra da reconstrução das nossas estradas, talvez, ao tempo, a primeira necessidade dentre tantas a que tínhamos e tivemos de atender.
Tarefa gigantesca; para a levar a efeito houve que criar-se tudo: os órgãos convenientes, o pessoal, o material, os meios financeiros.
Começou-se assim, logo em Julho de 1927, por se criar a Junta Autónoma de Estradas e possibilitar-lhe os meios técnicos e financeiros para empreender a longa, penosa, mas triunfante caminhada.
Ao comemorarem-se, em 1952, as bodas de prata desse benemérito organismo já se tinham gasto então em construção e conservação de estradas e pontes, no continente e nas ilhas, quantias que somavam cerca de 4 milhões de contos.
A obra fora imensa. Ufanava-se o Governo nacional de a ter levado a efeito; e pode dizer-se que esta vitória foi o melhor cartaz para o Regime se popularizar e a Administração se acreditar perante a Nação.
Sem se querer dizer que neste capítulo tudo se tivesse feito, ou mesmo que nalguns casos ou pormenores se tivesse feito pelo melhor (talvez se não tivesse previsto com a largueza de visão necessária o enorme incremento que ia tomar em poucas décadas o trânsito rodoviário e a necessidade da adaptação das estradas, em seus perfis, ao tráfego automóvel e às dimensões e velocidades dos respectivos veículos), certo é que o que se fez representa uma obra imensa, que só por si bastava para prestigiar a Administração que a empreendeu e levou a cabo.
Mas, Sr. Presidente, bastou que nos anos transactos se afrouxasse nas dotações à Junta Autónoma de Estradas para logo se verificar acentuado decréscimo no ritmo de construção e, sobretudo, acentuada decadência no que diz respeito à conservação das estradas.
E este aspecto é tão alarmante que justificou que nós o viéssemos apontar, pondo-o à consideração do Governo, por forma tão imediata quanto urgente é a sua resolução.
Estamos, felizmente, neste capítulo muito longe, muito acima, do que se passava em 1926; mas neste andar, se se não acode às nossas estradas, rapidamente, urgentemente, até pelo recurso ao crédito, arriscamo-nos a cair numa situação parecida com aquela donde partimos, agora agravada pelas cada vez mais prementes necessidades do tráfego.
Será para aí que caminharemos se não deitarmos a mão ao problema. Ou então não nos poderemos ufanar de ter vencido o problema das estradas.

(Reassumiu a presidência o Sr. Albino dos Santos dos Santos).

É, pois, necessário começar de novo, de uma ponta a outra, com tenacidade, com perseverança, com fé.
Mas - porque não? - a vida é um constante renovar, cadeia sem fim de esperanças e de ilusões; se estas fenecem, logo aquelas se reanimam e revivem no coração dos homens como chama votiva ao superior desígnio de Deus. Tenhamos, pois, esperança.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Melo Machado: - Sr. Presidente: está grandemente facilitada a minha missão de encerrar este debate, pela simples razão de que não ouvi, entre todos os oradores que subiram a esta tribuna, uma palavra discordante do problema que aqui apresentei.
Foram todos os meus ilustres colegas que subiram a esta tribuna para discutir o meu aviso prévio tão gentis, tão cativantes e tão amáveis, nas expressões que quiseram ter a generosidade de me dirigir, que me deixaram verdadeiramente confundido.

O Sr. Silva Mendes: - Fomos apenas justos!

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - A verdade, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é que, quando um dia, que infelizmente não virá longe, deixar de fazer parte da Assembleia Nacional (não-apoiados), levarei no meu coração a sensação gratíssima de ter tido sempre em todos os meus colegas mais do que colegas, amigos, e todos de uma gentileza excepcional. Agradeço, pois, a VV. Exas. a generosidade com que me trataram.
Ao trazer aqui este problema tenho a certeza absoluta de trazer uma questão essencial, uma questão de fundo na nossa Administração. Por isso me arrisquei a tomar algum tempo a esta Assembleia, mesmo neste conturbado fim de sessão, para encarecer perante o