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27 DE ABRIL DE 1960 777

vies se a contribuir para aquele progresso e desenvolvimento.
Houve, com efeito, épocas na história, e com certeza ainda há casos desses, em que se lançaram estradas por motivos de conveniência política ou administrativa, muitas vezes por conveniências de ordem militar e estratégica; mais proximamente aos tempos modernos, por razões de ordem económica, a no nosso tempo também, por motivos ou imperativos de ordem económico-social, nomeadamente em atenção ao desenvolvimento turístico das terras e das regiões.
Assim, por exemplo, no período da dominação romana na Península as estradas constituíram elementos da mais alta importância para se operar com eficiência e continuidade a dominação romana, sobretudo para o trânsito das regiões que vieram dominar a Península.
Essa formidável rede de estradas que desde B orna se desenvolvia pelas Gálias e se ramificava pela Hispânia até à Lusitânia, permitindo comunicações fáceis e tanto quanto possível rápidas (na relatividade das circunstâncias do tempo), foi um dos instrumentos mais poderosos de que Roma dispôs para constituir e manter o seu formidável império.
Por essas estradas se deslocava a pesada impedimenta de guerra e circulava toda a seiva da vida administrativa do grande império.
Uma vez que as vias de comunicação eram essenciais a manutenção da coesão e unidade de tão poderoso império, cuidaram os Romanos de criar uma técnica de construção capaz de ombrear com o valor e importância política desses vitais instrumentos de comunicação e domínio.
Tornaram-se assim grandes construtores de estradas perfeitamente à altura das necessidades do tempo.
Os vestígios que ainda hoje existem na Península dessas históricas rodovias atestam suficientemente o grau do progresso atingido sob o domínio romano no planeamento e construção dessas estradas e pontes, principalmente no que diz respeito à sua implantação, desenvolvimento e pavimentação.
Tanto quanto conheço em relação, por exemplo, ao plano de estradas romanas de Coimbra para norte, principalmente da via militar romana de Coimbra a Gaia e a de Braga a Àstorga, verifica-se, por um lado, que houve a preocupação, quanto à primeira, de a implantar e desenvolver por forma a interessar povoações já então de reconhecida importância como Aeminium, que se supõe ser Águeda, Talabriga, que se crê antecessora de Aveiro, e Lancóbriga, que alguns pretendem identificar com a Feira, e, quanto à segunda, para a desviar do insuperável obstáculo constituído pela serra do Geres (a pesada máquina de guerra dos Romanos e os primitivos meios de locomoção de que dispunham não permitia a utilização de fortes declives), implantaram-na à margem do rio Homem, dando-lhe assim um desenvolvimento suave, de modo a torná-la acessível e praticável.
E quanto ao seu pavimento, numa região rica de granito como era esta, construíram-no em pesadas lajes de pedras capazes de aguentar o intenso tráfego (intenso, claro, em relação a esse tempo) a que tais estradas estavam sujeitas e, bem assim, de modo a dispensar-se ou reduzir-se ao mínimo o trabalho de conservação dos pavimentos.
E tal era a segurança da construção que muitos troços dessas estradas chegaram até aos nossos dias e muitos outros servem anui a de infra-estrutura aos traçados actuais.
Claro que desde há dois mil anos a esta parte as técnicas avançaram enormemente, mas avançaram muito mais os meios de tracção.
Os meios modernos de tracção admitem, sem qualquer embaraço, a utilização de estradas de fortes declives, seja para que peso. forem, e os pavimentos romanos, qua-tal, além de caros, já não se adaptariam com facilidade à roda pneumática, a não ser que fossem mais trabalhados do que comuminente o eram, mas neste caso sairiam caríssimos.
Não carecemos, pois, nos tempos de hoje, de utilizar as técnicas de construção romanas, porque as superámos largamente, mas creio que ainda podemos ir buscar ao exemplo da sua lição alguns ensinamentos, que nos podem ser úteis, sobretudo quanto ao problema da conservação das estradas.
E esse ensinamento será este: construamo-las por maneira a dispensar ou reduzir ao mínimo a sua conservação.
Esta a grande lição que ainda podemos colher desde séculos antes de Cristo.
Sr. Presidente: com o decorrer dos tempos, outros móbiles foram justificando o nosso desenvolvimento rodoviário, como, aliás, em todos os países: necessidades de convivência; intensificação das trocas; numa palavra, desenvolvimento económico e social e até político; em suma, a intensidade da vida moderna, muito principalmente devida ao progresso industrial iniciado no começo do século passado.
Foi a partir dessa época que, por assim dizer, construímos a nossa rede de estradas, se bem que já anteriormente a ela, e logo do tempo dos primeiros reis, dispuséssemos de algumas importantes vias de comunicação, especialmente às que perduraram desde o tempo da dominação românica e se foram adaptando às necessidades das sucessivas épocas.
Com esse progresso coincide a utilização das novas técnicas de empedramento dos pavimentos devidas à invenção do engenheiro escocês Mac-Adam, pelo sistema que tomou o seu nome e depressa se generalizou a toda a Europa, vindo entre nós substituir o velho sistema da chamada «calçada à portuguesa», a que mais tarde, com os pavimentos a cubos de granito e mais aperfeiçoadamente, haveríamos de voltar seguramente, por se ter reconhecido que o sistema macadame é de fácil deterioração, principalmente atentas as nossas condições climatéricas e a grande intensidade do tráfego actual.
Temos, assim, na nossa tradição estradai, não apenas uma lição - a que nos vem dos construtores romanos -, mas uma outra lição muito importante, a considerar e a atender - a que nos vem da nossa própria tradição, da chamada «calçada à portuguesa», a mas adaptável às nossas condições climatéricas (grau de humidade, grandes quedas pluviométricas, etc.) de que o sistema macadame, facilmente vulnerável pelas vicissitudes climáticas e incapaz, só por si, de aguentar a intensidade do tráfego nos dias de hoje.
Inventou-se, entretanto, o seu revestimento a betuminoso, que não há dúvida nenhuma possibilita um pavimento suave e até certo ponto capaz.
A sua conservação, porém, é muito dispendiosa; e assim, continuando nós a ser detentores de bons jazigos de granitos, afigura-se-me que a resolução do problema das nossas estradas, no que diz respeito à sua conservação, está precisamente em regressar-se, com os aperfeiçoamentos, que as novas técnicas permitem, à tradição romanística dos pavimentos de pedra, e mais especialmente à tradição portuguesa dos pavimentos de calçada de pedra - hoje os enquadramentos a cubos de granito.
Bem sei que este sistema produz maior desgaste de pneus e pode admitir-se que vem daí prejuízo à economia nacional, sobretudo se implicar a emigração de divisas; mas esse prejuízo suponho que é bem compensado