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94 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 180

O Orador: - Mas há ainda, e sobretudo, o caso gritante dos nacionais estrangeiros que vivem em colónias por vexes de grande desenvolvimento, em terras portuguesas do ultramar - estou a lembrar as progressivas colónias de estrangeiros das províncias de Moçambique e da Guiné - e que são perfeitos e profundos conhecedores da vida portuguesa. Para eles não poderia haver segredos. Eles não lerão deixado de prestar aos seus compatriotas nos países de origem, ou aos respectivos governos, as informações insofismáveis a nosso respeito. Fizeram-no, com certeza, pois, honra lhes seja, nem sequer só tem privado de participar em manifestações de apoio à Nação Portuguesa, nas várias oportunidades que se lhes oferecem e quando é posta em causa a nossa soberania.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pois bem. Qual a razão por que parece querer inverter-se o juízo sobre ns territórios portugueses?
Não a posso dizer, não a saberei dizer. No entanto, creio que a atitude de muitos governos anda à roda das seguintes sujeições:

a) Estar dentro da corrente, chamada libertadora, dirigida por um grupo de países novos, da África e da Ásia; e que é preciso, agradar-lhe sem querer saber as razões;
b) Não dar azo a que o bloco comunista lance a menor suspeita sobre as convicções anticolonialistas de qualquer país.

Estas duas posições basilares privaram do uso da verdadeira razão muitos países e conduziram outros aos caminhos da transigência, da abdicação e dos oportunismos.
Esta é a mais modesta explicação que se pode dar para as atitudes pouco amigas dos que eram nossos amigos, nas Américas, na Europa, na África e na Ásia; para a atitude dos seus governos, que sacrificam valores permanentes da vida internacional às necessidades transitórias de uma política regional de ocasião.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Porque, repilo, ainda me nego a crer que os seus povos uniram sentimentos de inimizade para connosco. Tenho bem vivas na minha lembrança as impressões colhidas em tantos países da Ásia, do Médio Oriente, da África, da América, falando com o povo e com ns seus qualificados dirigentes. Era consolador ouvir dos confins do golfo Pérsico às ilhas do Extremo Oriente, das costas da Guiné às praias americanas do Pacífico, o mesmo louvor espontâneo à velha gente portuguesa, que por toda a parte deixou rastos do seu espírito fraternal, mostras do sen generoso coração: ouvi-as do povo e dos dirigentes, sempre ditas com o mesmo qualificativo de excepção (pie atribuíam ao povo português.
Onde estão, agora, essas amizades, essas admirações?
Ouvi também em tantas reuniões internacionais a que tenho assistido, algumas com intervenção activa de jovens nações independentes, as mais claras e honrosas afirmações e referencias de louvor à acção portuguesa, algumas vezes resultantes de uma. apreciação directa do nosso ultramar.
Onde estão essas opiniões que se escondem agora?
Pesa-me, Sr. Presidente, que governos nos«os amigos sejam levados a ofender-nos sem razão. Porque dos nossos declarados inimigos não tínhamos outra coisa a esporar. Como é triste e sintomático que essa mesma União Indiana, depois de ter sofrido a clamorosa derrota nas suas ilegítimas pretensões sobre Goa, que culminou com a sentença condenatória do Tribunal Internacional da Baia, como é espantoso que esse mesmo réu venha agora, com as mãos sujas das ofensas que praticou e não reparou ainda, chefiar o novo movimento de agressão contra o mesmo Portugal que em nada o agravou!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que dizer daqueles amigos fiéis e intemeratos - grande virtude, a de não ter medo num mundo em que impera o temor, entre grandes e pequenos! -, amigos raros, mas valorosos, que nos acompanham - a Espanha, a França, a Bélgica, a África do Sul ... - nem sequer ia falar do Brasil, porque esse não é amigo, é «carne da nossa carne», como nos disse um dia um seu insigne presidente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - No mundo de hoje, privado da liberdade de pensar sem medo e de falar sem terror, uma nação que não renega as suas tradições de dignidade e de cultura tem direito ao respeito e admiração das gerações futuras, alicerça o próprio futuro.
Que a razão é nossa, não temos de o demonstrar. A prova foi feita no caso da Índia; a prova está sempre, feita. Todo o Mundo vê como na terra portuguesa há tranquilidade e paz.
Somos, temos sido apontados como exemplo de convivência racial, ausência de qualquer discriminação religiosa ou racial. (Já não se lembram, muitos dos que agora nos condenam com o seu voto de que em outros tempos, e por sermos assim, nos chamaram a vergonha da raça branca!).
Vivemos em paz com os nossos vizinhos, prestando-lhes serviços por vezes inestimáveis. Nem insultamos nem caluniamos ninguém.
Não sujeitamos qualquer território ao regime de exploração económica em proveito de outro pois quo cada qual tem orçamentos autónomos.
Temos as mesmas leis fundamentais, iguais para todos.
Todos igualmente têm direito de acesso à vida nacional, sem qualquer distinção racial geográfica ou religiosa. Apenas o grau de cultura os distingue. (Se nem todos os portugueses estão igualmente evoluídos, essa deficiência, que procuramos afincadamente tornar cada vez menor, aflige igualmente, e por vezes em muito maior escala a grande maioria das nações soberanas).

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A separação geográfica não constitui qualquer razão para separação política: é escusado citar os exemplos abundantes em várias nações cuja unidade se não pôs em dúvida.
Ocupamos nas quatro partem do Mundo territórios que pertencem legitimamente aos que os habitam, quo são portugueses. Não precisamos de invocar direitos históricos que seriam, título bastante porque existe uma realidade viva, inapagável, bem visível, a afirmá-lo.
Quem de entre nós se não sente português? Qual do nós pôs em dúvida a sua liberdade? Onde os movimentos revoltosos, os tumultos, os massacres? Porque, então, nos querem libertar? Libertar de quê ou de quem?