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3 DE DEZEMBRO DE 1960 95

Sr. Presidente: custa-me acusar, e só por imperiosa necessidade e acidentalmente o fiz. Mas não será o caso de chamar a atenção daquele alto organismo internacional para as invasões, extorsões, violências, tumultos, massacres, de que quase diariamente temos conhecimento pela imprensa? Pode aceitar-se que uma nação honrada, como a nova seja acusada de opressão e colonialismo, pela boca do quem justamente incorre nau práticas mais desumanas, algumas do mais férreo imperialismo?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não, Sr. Presidente. Não posso deixar de confiar na inteligência dos homens, neste caso dos que tomaram a responsabilidade de orientar os destinos do Mundo. Confio no veredicto final das Nações Unidas. O que se pretende com as propostas que ali se discutem e nos dizem respeito implica um propósito de intromissão directa na vida interna de um Estado soberano e do seu desmembramento - justamente dois objectivos que nem a moral internacional nem o espírito da Carta podem admitir.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Confio em que se não queira violar grosseiramente a Carta, nem destruir o próprio organismo, com todas as esperanças que nele estão depositadas.
Mas, seja qual for o resultado, uma coisa é certa: não vacilaremos perante acusações infundadas, nem cederemos a quaisquer pressões por desígnios inconfessáveis.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A nossa frente interna precisa de ser contínua e intensamente reforçada, valorizada em homens responsáveis e em recursos de toda a ordem, li a sua primeira linha está nas províncias de além-mar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Uma das maiores provas da nossa história, anuncia-nos o Sr. Presidente do Conselho. Assim é, sem dúvida. E podemos entender também que há-de ser uma das horas mais gloriosas da nossa história, se empenharmos a fundo os nossos recursos económicos e humanos na defesa e engrandecimento do ultramar.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Duarte Silva: - Sr. Presidente: só um imperativo do consciência me faria hoje subir a esta tribuna.
Se dela me acerco sempre com timidez e receio, hoje as circunstâncias, pondo mais em destaque a modéstia das minhas possibilidades, mais justificam o meu embaraço. A magnitude do assunto, a bela e notabilíssima exposição que ouvimos de S. Exa. o Sr. Presidente do Conselho e o brilho de que habitualmente se revestem as intervenções dos oradores inscritos para o debate, tudo concorria para que eu nada mais devesse fazer do que aplaudir o que os outros dissessem.
Essa. a atitude, cómoda, que mais convinha à minha pessoa.
A verdade, porém, é que não estou aqui por direito próprio, tendo vindo a esta Assembleia como representante de Cabo Verde. E aqueles que aqui me enviaram
não ficariam por certo satisfeitos se eu não dissesse, o que lhes vai na alma e em nome deles, me não associa-se aos protestos que todos os português de todos as cantos do Mundo, têm vindo a formular contra a maneira injusta, desleal insidiosa com o nosso país tem sido ultimamente tratado em algumas sessões da O. N. U.
Tenho, pois, de pôr de lado as minhas conveniências pessoais e recalcar essa convicção da minha mediocridade para, em cumprimento do mandado que aceitei e de acordo, aliás, com ns meus próprios sentimentos expressar, dentro das minhas possibilidades, a indignação que nos provocou a campanha desenvolvida contra a integridade da pátria portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Falo por Cabo Verde, terra que nunca conheceu outra bandeira que não fosse a portuguesa, terra que se orgulha de ser portuguesa e que, como as províncias suas irmãs, já exprimiu os seus sentimentos pela voz da sua população, da sua mocidade, escolar e dos seus municípios.
Há já alguns anos que a cobiça de certos países e o propósito inconfessável de estabelecer a desordem e semear a contusão vêm procurando minar a unidade portuguesa, atraindo com enganadoras promessas alguns elementos das populações ultramarinas.
O resultado, graças a Deus, tem sido fraco. Mas há sempre em toda a parte despeitados, ambiciosos e aventureiros que se abalançam a morder a isca. E, como já dizia o poeta, também dos Portugueses alguns traidores houve, algumas vezes».
Formaram-se assim os chamados movimentas de libertação, em que um número insignificante de portugueses, manejados por organizações estrangeiras e utilizando panfletos s jornais, procuram convencer o Mundo de que em Portugal se vive em regime de terror militar, com prisões regurgitando de inocentes e fuzilamentos frequentes, e de que as populações das províncias ultramarinas vivem oprimidas em indescritível miséria e num obscurantismo que impossibilita qualquer movimento de emancipação.
O processo, porém, revelou-se de fraco rendimento, pois temos as fronteiras abertas e numerosos são os diplomatas e jornalistas que têm visitado o nosso ultramar, verificando o infundado de tais acusações, pelo que houve necessidade de mudar de táctica e, assim, se resolveu levar ao aeroporto internacional o chamado «caso português», esse novo mistério da unidade na pluralidade, inteiramente incompreensível mesmo para alguns que estão de boa fé, mas se limitam a considerar ligeiramente o assunto.
Como admitir, pensam eles, que se consigna a unidade nacional fundada no mesmo ideal e no mesmo sentido de uma pátria comum, dentro da pluralidade de territórios, da multiplicidade de raças e da diversidade de religiões?
A realidade, porém, impõe-se. E as manifestações que em todo o território português se têm realizado hão-de ter já convencido aqueles que, sem pensamentos reservados, ainda não haviam compreendido o facto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Poucos são, certamente. Os outros, a maior parte, movidos apenas por desmedida ambição e propósitos de subverter a ordem e destruir a civilização cristã, fecharão os olhos à realidade e hão-de continuar a sua campanha, de difamação o injúrias, servindo-se da mentira e da calúnia.