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200 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 184

A ourivesaria, trabalhada grosseiramente - imagine-se!
As igrejas, pobres de linhas e ornatos.
As casas, sem pátio e sem gosto.
A culinária, apenas empanturrante.
Tudo andava pejado de expostos e bastardos.
E a um povo assim, que acabara de dar mundos ao Mundo, de dilatar a fé, de reproduzir-se nos pólos distantes, que se arremessara ao ignoto e - como diz o Poeta - que chegara aos negros tectos do fim do Mundo, até faltava o ideal de que tantos tiraram honra, elevação e proveito.
Para se dar ideia do clima filosófico desta literatura danada de denegação basta citar o maledicente e aventureiro Pyrard de Laval.
Vedor da Fazenda era o mais alto cargo da Índia, depois do vizo-rei.
Pois afirmava Pyrard: "Ninguém como ele pode, além do que ganha, fazer bolsa nos dinheiros e fornecimentos que lhe correm pelas mãos".
Logo, ele se concertava mui bem e chamava a si a Fazenda Real.
Sabe-se que vedores, como Afonso Mexia, Simão Botelho e Diogo Velho, foram escrupulosos, seriíssimos e, por isso lutaram e serviram, mas na boca do plebeu francês maledicente, o que ele julgava possível era exactamente aquilo de que era naturalmente capaz; só os seus maus intuitos haviam de fornecer-lhe a medida de outrem.
Estas campanhas não eram nem inocentes nem singulares. Vestiam cobiças, piratarias, fraudes e ataques repetidos aos nossos direitos e haveres; vinham antes das naus corsárias e das expedições de pirataria.
Assim se começou a denegrir a obra construtiva e sem par dos Portugueses, não para filosoficamente apontar os erros e os males, mas para antecipadamente desculpar ou absolver o que nos seria tirado.
Grócio, o famoso jurisconsulto do cosmopolitismo, não foi somente humanista cultivado ao serviço da liberdade dos mares e dos interesses da Companhia das Índias - foi um maledicente, insultador dos Portugueses.
O padre-mestre Fr. Serafim Freitas, catedrático de Véspera, em Valhadolid, creio, reportando-se no período de 1602 a 1608, mostra Grócio, o Incógnito, esbravejando contra nós, chamando-nos mentirosos, miseráveis antes de descobrirmos a Índia, ávidos de lucros.
Chegava a escrever o maledicente: "Não se ouve contar deles nem milagres nem dar sinais de honradez".
Fácil resposta lhe deu o grande Serafim de Freitas.
Os Portugueses foram os primeiros a navegar os mares orientais. Com o pretexto do comércio levaram a fé.
Preferiram a honra ao enriquecimento.
Respeitaram a palavra dada; eram fiéis.
Não se deixavam enganar.
Construíram e organizaram.
Isto não se podia dizer de todos.
Na verdade, Grócio queria justificar o corso dos Holandeses e patrocinava os interesses da Companhia das Índias.
Escondia-se no anonimato por comodidade de argumentação e ... também para mais descansadamente nos agredir.
Falemos agora da chamada "matilha do Rand".
No tempo em que foi alto-comissário régio Mouzinho, alguns jornalistas estrangeiros, correspondentes em Lourenço Marques, procuravam perverter a opinião por insinuações malévolas, deturpação de factos e afirmações fantásticas, emprestando-nos "desígnios mais fantásticos ainda, que mandavam para os seus diários.
Adulteravam, envenenavam, deturpavam as razões e os factos da nossa política em África e procuravam levantar inimizades e animosidade entre vizinhos e amigos. entre brancos, pretos e amarelos.
Era o tempo em que as potências coloniais discutiam os contornos do mapa africano e mediam o seu poderio, demarcando as fronteiras postas à sua influência.
Cecil Rhodes firmara o projecto grandioso, do Cairo ao Cabo, sem interrupção.
As majestáticas Chartered agiam e faziam sentir o seu peso e domínio mais que soberano.
Procurava voltar-se contra nós os régulos e alguns dos nossos poderosos amigos.
Havia então um princípio de extrema simplicidade - a ocupação efectiva.
Mas este princípio era explorado, virado e torcido, que parecia apenas servir para registar como de outrem aquilo que fora nosso, secularmente nosso e sem contestação alguma nosso continuava.
Entretanto, como no final de uma caçada, a um cervo majestoso e elegante, ouviam-se os latidos apressados, subindo de tom, que anunciavam a proximidade da presa e o final banquete, coroando uma caça frutífera.
Aos jornalistas perniciosos, adulteradores da verdade semeadores de tempestades por telegramas e crónicas, atacando a honra e o bom nome português, se chamava a "matilha de Rand".
Mouzinho, impetuoso, ardente, férvido construtor de Moçambique, custava-lhe sofrer as injúrias dos sabujos. Por si nada podia fazer à canzoada.
E uma manhã, Paiva Couceiro, novo e arrebatado, homem da sua escola, de stick na mão, sucessivamente, chicoteou e abateu de vez os viperinos jornalistas, fustigando um por um. E numa manhã, a chicote, a matilha foi dispersa e batida.
Agora os chocolateiros da City.
Aqui há perto de 50 anos, por 1907, industriais de chocolate com assento na City levantaram contra nós áspera e violenta campanha.
Um sindicato londrino de fabricantes de chocolate e financeiros, no tempo em que a City concentrava e regia os grandes negócios do Mundo, unidos a uma firma germânica desencadeou contra nós, na imprensa, no livro e nos meios comerciais, desleal e acintosa campanha.
Era o final do século, "Ia Belle Époque", o famigerado William Cadbury, com os seus manos, com Nevinson e Burth, etc., apresentavam-se puros como vestais, isentos como anacoretas, propugnadores da bondade como apóstolos.
Eram chocolateiros empenhados em discutir condições de trabalho, salários alheios e protecções aos nativos.
Falavam na "escravidão de S. Tomé e de Angola", em brutalidades sem nome, e queriam - mas não o conseguiram - boicotar o cacau de S. Tomé e arrastar para a campanha os Estados Unidos da América, o que não obtiveram também.
O alarido foi grande e os sentimentos e desprendimento dessa gente conhecidos, longe de todo o disfarce possível.
A história era outra.
S. Tomé fizera-se apenas com capitais portugueses e não pedira vénia aos financistas da City.
Era a altura da sua expansão óptima, quando as árvores produziam intensamente e os custos se comportavam em limites inferiores aos dos concorrentes.
O cacau era abundante, dotado de qualidades, esplêndido e ... barato!
Os chocolateiros ingleses queriam que as plantações, com a sua produção no ponto alto económico, lhes não fizessem concorrência nem aliviassem os seus preços artificiais.
Recorreram então ao estilo das campanhas jornalísticas da escola de Westminster, num tempo em que.