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204 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 184

ção portuguesas, o característico do nosso simpatismo e sociabilidade.
Impugnam sobretudo, directamente, a conhecida tese do distinto escritor brasileiro e sociólogo, Gilberto Freire.
Gilberto Freire aponta a vitória portuguesa em Cabo Verde, em Angola, e na Índia Portuguesa, nas outras partes ultramarinas e no Brasil.
Constituem estas uma unidade de sentimento e de cultura.
Foram o domínio português e o cristianismo que forjaram este mundo, singular e à parte, de cordialidade, de simpatismo trasbordante.
O português mostrou-se, é e será apto à vida e à sociabilidade dos trópicos.
A lese de Freire tem sido violentamente impugnada, mas com argumentos que desviam ou saltam e não logram contestar ou abalar o essencial.
Entre os Portugueses e os povos dominados existe ainda uma separação- dizem.
Todos sabemos que tal separarão não medra, não se patenteia nem se consagra.
A política - dizem aqueles ultras da esquerda - é de assimilação feroz - o que não pode ser abonado de nenhuma forma pelos declamadores.
Os homens são distribulizados e forçados a trabalhar. Quem conhecer uma senzala, no interior, sabe que não é assim.
Não há acesso para mulatos e pretos indígenas, o que também sabemos não ser a verdade.
Não vale a pena levar a muitos detalhes e menos ainda discutir todos os termos desta nova contenda.
Veja-se o paradoxo - por um lado, nega-se que o branco deva impedir as práticas cafreais e arrancar o nativo à degradação, mas acusa-se aquele pelo atraso e pelo subdesenvolvimento e impõe-se como dever moral o fornecimento de capitais, assistência técnica, máquinas, direcção e quadros administrativos para vencer a barbárie e a fome.
Nega-se a plantação, nega-se a indústria, em nome do que se quer promover a cultura específica, e defende-se a depredação itinerante e as queimadas, que só podem deixar as tribos pobres e mais pobres ainda.
Poetiza-se ou romantiza-se o matriarcado, a filosofia bantu e, em certo modo, parece que se autoriza o que outros fizeram e nós nunca fizemos nem faremos - empurrar para o interior, destruir, confinar e deixar, em certas zonas, o primitivismo entregue a si mesmo, às suas fúrias e epilepsias.
Portanto, nega-se.... mas nega-se apenas... e tolhe-se toda a acção construtiva em África, a não ser que novas formas de capitalização, de industrialização concentrada de domínio monopolístico, pudessem resultar do advento de novos senhores.
Portanto, por esta nova campanha, nega-se tudo o que de bondade, de simpatismo social, de ascensão regenerativa, de cristandade, pode ser feito e tem sido
feito por nós nos trópicos.
Nega-se a atitude humanitária do Português.
Nega-se a sua compreensibilidade e recíproco convívio.
Nega-se a destribalização.
Nega-se que os nativos portugueses conheçam a nossa língua e connosco se entendam em português.
Nega-se a disciplina social suavizadora, a bondade dos nossos.
Nega-se um estilo de vida historicamente fundamentado.
Nega-se o Brasil - sobretudo.
Claro que estas ideias de proletarização de cultura específica, de regresso à tribalização, mostram grande capacidade como fomentadoras de dissídios, de lutas sociais, de desordens de toda a espécie.
Elas não correspondem à África, aos seus interesses, aos verdadeiros interesses dos seus povos, raças ou credos, porque nunca seria sobre as fúrias desatadas, sobre o déclenchement dos instintos mais bárbaros, da subversão das hierarquias brancas e negras, dos ódios de classe, que poderia vir a salvarão e o progresso deste continente.
Fazer da tribo, ou, melhor, das tribos, em luta atávica, a Nação ou, por outra, querer construir sobre as senzalas ou as levas itinerantes um Estado moderno, não é trabalho de Hércules, mas tarefa da esposa de Ulisses, que tecia de dia e destecia de noite.
Nem a fórmula Estado é capaz de vencer os efeitos do tribalismo nem de suplantar os conflitos de raça, quando não represente uma ordem e uma hierarquia.
Podem inventar-se chefes, treinar leaders, criar órgãos de avanço, mas para construir uma nação são precisos princípios, estado geral de sentimentos, opiniões e crenças, órgãos conscientes, não bastam constituições.
A África, nem por ser mais africanizada responderá às exigências futuras.
Um último ponto.
A maior capacidade de malevolência e de denegrição atingida nas campanhas difamatórias contra a Nação Portuguesa deve-se ao americano James Duffy, apesar da sua veste de estudioso e exuberância documentária.
A violência intelectual, sob a capa de larga investigação, chegou ao cume e nada poderá ser organizado de pior contra nós.
Foi a Fundação Ford que garantiu uma bolsa para que este americano poisasse, largo tempo, na África Portuguesa, a fim de forjar o seu libelo político.
É a Universidade de Harvard que o edita.
Ele é assistente de Literatura Castelhana.
As livrarias de Lisboa o estadeiam e vendem por alguns dólares.
Uma ou outra observação não são, inteiramente desfavoráveis e assim o libelo vai adquirindo compostura intelectual e aparências de imparcialidade.
O autor ataca a nossa reputação de povo sério e considerado, torce e insulta, blasona de criterioso e comedido.
Mas todo o desenvolvimento político e social, toda a legislação se apresenta como uma adaptação e o progresso jurídico como operação de pura subtileza ou meramente formal.
Duffy discute assim leis, providências, práticas administrativas, mas ignorando o seu espírito ou insuflando-lhes intuitos, que não direi americanos, mas afro-
- asiáticos.
O Século escreve um artigo, cheio de rectas intenções - protecção dos menores indígenas, necessidade de acudir a múltiplas tarefas, dificuldades dos brancos em aguentar os efeitos esgotantes de certas tarefas e do clima.
Como interpreta? Responde:
A atitude do Português consiste em considerar os nativos como serviçais, inteiramente à sua ordem.
Ele não admite, não entende, não compreende a reciprocidade sentimental, o convívio de raças, a amizade, o trabalho comum de valorização, porque lhe substitui um conceito de divisão e de luta, porque vê em tudo guerra social e subversão social.
Onde existe patente e expressiva solidariedade, ele tem de ver separação e apartamento, ou prognosticar dias aziagos de guerra civil.
Ele vem da pátria dos arranha-céus, dos pullmans, dos drug-stores, dos automóveis-barcaças e dos jactos e tem aquele choque originário do herói d'A Morgadi-