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26 DE JANEIRO DE 1961 353

Sr. Presidente: estou firmemente convencido de que não erro ao dizer que João Villaret foi um dos maiores actores portugueses de todos os tempos, mas estou seguro da certeza de que ele foi até hoje o maior declamador que jamais existiu ao serviço deste imortal e luminoso instrumento da expressão humana que é a língua portuguesa, «a última flor do Lácio».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por si só, esta razão explica suficientemente que o nome de João Villaret se pronuncie com admiração e com respeito nesta Casa, representativa de todos os portugueses e de todos os interesses da Nação. Mas eu vou mais longe, e com plena consciência da verdade afirmo que da posição cimeira a que ascendeu e pela intensidade com que propagou e difundiu todas as gamas da poesia nacional, João Villaret se elevou ao nível dos nossos maiores transmissores de cultura e se inscreveu no quadro dos nossos grandes educadores, pela acção profunda e constante que exerceu sobre as grandes massas populares, servindo com génio sempre igual todos esses impressionantes e prodigiosos meios de influência, de persuasão e de ensino que são o teatro, o cinema, a rádio e a televisão, tão pobres entre nós e tão ricos como eles eram logo com a presença de um homem da estatura intelectual de João Villaret.
A comoção nacional, aqui na metrópole, além no ultramar, no Brasil, causada pela morte de João Villaret, é um facto que havemos de assinalar, para além da profunda mágoa do seu desaparecimento, como circunstância rica de significado e de simbolismo. «Porque quem não sabe a arte não na estima», disse o Poeta, o povo português, que pranteou a morte de Villaret, provou claramente que ele lhe havia ensinado a saber e a estimar a arte, a arte dos poetas de Portugal, o amor das coisas do espírito, a tradição das nossas riquezas intemporais, a consciência das chamas e dos cantos de poesias que são inatas na alma do povo português.
Tudo isto João Villaret incendiava e fazia vibrar no coração e na inteligência dos seus auditórios, fossem eles exigentes e cultos ou simplesmente prontos e sensíveis à sedução da beleza e à magia da sua voz!
Se alguém realizou e difundiu verdadeira cultura popular, insinuante e desinteressada, em todo o mundo português, João Villaret poderia ter reclamado para si título autêntico de embaixador de todos os motivos de beleza e de arte que caracterizam e eternizam Portugal.
Sr. Presidente: ao evocar a personalidade incomparável e inolvidável de um genial artista português agora desaparecido e extinto para a vida mortal, não pensei que o elevaríamos nós, aqui, às glórias da imortalidade. Essa há-de dar-lha o povo português numa saudade intensa, que será tão grande como a própria poesia, e numa relembrança a que esse povo, que o ouviu, aplaudiu e agora chorou na sua morte, há-de, de certeza, dar grandeza igual à grandeza da sua própria alma.
Por mim, limito-me a evocar a memória de um dos mais impressionantes mestres de portuguesismo que a nossa pátria teve no nosso tempo e a associar pela minha voz esta Assembleia à emoção sentida pelo povo que o perdeu e à homenagem que a Nação deve prestar a quem tão luminosamente a serviu em alguns dos seus mais altos motivos e puros interesses de sentido cultural e de ordem espiritual. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Brito e Cunha: - Sr. Presidente: antes de entrar propriamente no assunto que é motivo da minha intervenção, não queria deixar de me associar às palavras que aqui ontem foram proferidas sobre aquilo que se passou com o barco português Santa Maria e de prestar a minha homenagem a todos aqueles portugueses que estavam, dentro do barco e que, com certeza, se portaram como portugueses. Entre eles, o comandante. E do Porto, é da minha terra. Não sabemos qual foi a sua acção; teve, com certeza, Sr. Presidente, uma atitude de português.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Carlos Moreira: - Mas há uma figura que merece bem todo o relevo: a daquele que, sendo piloto, morreu com dignidade na ponte do navio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nas minhas palavras estava englobada toda a acção, toda a heroicidade, dos que lá estavam. Simplesmente, antes de sabermos exactamente o que se passou, eu queria referir-me só à maneira como todos eles, com certeza, se portaram, embora me tivesse referido especialmente ao comandante.

O Sr. Carlos Moreira: - Não tive outra intenção senão relembrar aquele que até hoje merece o maior relevo.

O Orador: - Sr. Presidente: acaba de se realizar em todo o País a Semana de Formação Missionária, com o objectivo fundamental de consciencializar os Portugueses das suas responsabilidades missionárias perante o ultramar português, criando clima favorável a um indispensável desenvolvimento das vocações missionárias e à sua preparação para obra eficiente de cristianização do Portugal de além-mar.
Em nenhum momento da nossa história poderia ser mais oportuna iniciativa desta natureza; por isso, daqui se louva o empreendimento e se deseja que dele resultem os melhores frutos.
Mas não era deste passo intenção minha referir-me especialmente à obra missionária no Portugal ultramarino; os portugueses que vivem espalhados pelo mundo merecem também a nossa atenção, não podem deixar-se isolados, entregues a si próprios, sujeitos a todos os perigos e tentações que em cada instante os solicitam.

O Sr. Pinho Brandão: - Muito bem!

O Orador: - Recordo que há exactamente um ano, nesta Assembleia, o Sr. Deputado Pinho Brandão chamava a atenção para a Missão Católica Portuguesa em Paris, justificou a sua necessidade e pediu para ela a atenção do Governo; julgo estar informado de nada nesse sentido se ter feito até agora.
Por isso me permito voltar ao assunto e sobre ele bordar algumas ligeiras e breves considerações.
Sr. Presidente: em princípios de 1958, o bispo auxiliar do Patriarcado, Sr. D.º José Pedro da Silva, responsável pela assistência religiosa aos emigrados portugueses, e Mgr. Jean Rupp, bispo auxiliar de Paris e delegado do Episcopado francês para os estrangeiros, acordaram na realização nesse ano de uma campanha pascal entre os 30 000 portugueses residentes em Paris, e para esse efeito para ali seguiu um padre da benemérita Congregação do Coração de Maria.
Foi ... e não voltou.