O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

354 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 191

E não votou, e por lá se demorou, e ainda lá se encontra, porque a .necessidade de assistência espiritual à enorme colónia portuguesa da capital francesa impunha-se por tal forma que não houve coragem de a abandonar.
O padre Monteiro Saraiva, sozinho durante oito meses, assistido depois pelo padre Paula, mais tarde pelo padre Vaz Pinta, sem alojamento próprio, o que os levou a instalarem-se na missão espanhola, criou a Missão Católica Portuguesa, que em dois anos realizou obra, notável, que, se é digna do nosso respeito e do nosso aplauso, é também merecedora da nossa colaboração.
Instalados hoje num modesto apartamento nas imediações da Igreja de S. Francisco Xavier, onde exercem a sua acção religiosa, em Patris, porque no Bispado de Versa-lhes é feita na igreja de Villiers-sur-Marne, há que os auxiliar, fornecendo-lhes os meios indispensáveis ao exercício do seu apostolado de que ainda não dispõem.
A Missão Católica Portuguesa começou por fazer um profundo inquérito aos portugueses vivendo no Arcebispado de Paris e no Bispado de Versalhes através dos seus párocos, localizando os núcleos, de portugueses ali residentes e informando-se das suas necessidades espirituais e materiais.
Do estudo passou-se à acção, visitando-se os emigrados, portugueses nas. barracas onde dormem, nos restaurantes onde comem, nos cafés onde se reúnem, nos estaleiros, oficinas e fábricas ande trabalham.
Recebidos, de entrada, com indiferença por uns, com desconfiança e reserva por outros, com simpatia por alguns porcos; foi-se provocando o degelo, e a persistência e a fé doer padres da Missão foram aos poucos impondo a cristalina finalidade dos seus objectivos.
Na Igreja de S. Francisco Xavier, diante de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que a piedade de alguns portugueses permitiu oferecer, assiste-se à missa, reza-se e canta-se, ouve-se a palavra do Evangelho.
À acção dos padres da Missão se deve que muitas mulheres portuguesas que cá ficaram não tenham perdido os maridos, que tantas famílias não tenham ficado sem pão; um grande número de trabalhadores tem sido colocado, por seu intermédio; na Prefeitura da Polícia e nos tribunais têm-se resolvido casos e ganho causas que se considera. Em perdidas; na cadeia e no hospital, quantos emigrantes não devem assistência e uma palavra de conforto, a fé em melhores, dias e a esperança de reabilitação aos padres da Missão!
A par cesta obra espiritual, moral e social, há que referir a acção de carácter patriótico levada a cabo pela Missão Católica de Paris entre os nossos emigrantes.
Atirados para um meio tão diverso daquele em que viviam, envolvidos, na barraca, na oficina e no café - todo o dia -, em ambiente de propaganda de ideias e princípios que renegam a Deus e desconhecem a Pátria, sem preparação intelectual e sem bagagem de defesa, tudo é propício à sua descristianização e à sua desnacionalização, ao desenraizamento das doutrinas e dos conceitos em que foram educados e criados.
E, repare-se, não são só companhias de ocasião, meros conheci mantos, encontros casuais, que os solicitam para esse campo: é campanha organizada e superiormente orientada, onde não faltam homens nascidos na mesma terra e falando a mesma língua a desviá-los do bem e a conduzi-los para o mal.
A Missão Católica Portuguesa de Paris, com a palavra de Deus, leva também o nome de Portugal aos emigrantes portugueses de Paris..
Mas a sua acção - se é muito grande - podia ser muito maior, se para isso dispusesse de meios indispensáveis. O apostolado em nossos dias, e então em Paris, não pode limitar-se ao púlpito, há que o prolongar e tem de usar de meios de atracção de que a Missão não dispõe. Nem sequer foi ainda possível alugar um salão que seja o centro de reunião e de festas dos nossos emigrantes.
E parece que, se na Rue Scribe se dispõe de uma Casa de Portugal onde se dá - e de forma notável - Portugal a conhecer aos Franceses e ao meio cosmopolita de Paris, se devia dispor também algures em Paris de uma Casa de Portugal onde se mantenha Portugal presente entre os portugueses que ali vivem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Isso tornaria possível alargar a acção da Missão, criando um centro que chamasse e atraísse com festas culturais e recreativas os portugueses, retirando-os aos domingos da rua e do café, impedindo os casos tão frequentes de desordens e de rixas, centro onde o emigrado encontrasse livros e o jornal de sua terra e até onde aprendesse a ler e a escrever, em cursos nocturnos, já que entre eles tantos analfabetos há, e onde se reunissem seus filhos e que organizasse as suas colónias de férias - iniciativa que tanto se faz sentir.
O efectivo da colónia portuguesa de Paris julgo que justifica plenamente o auxílio que se pediu ao Estado, pedido que agora se renova e a que - estou certo - todos nesta Assembleia se associarão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É imensa a boa vontade dos padres da Congregação do Coração de Maria, tem sido grande o auxílio dos portugueses de Paris e dos portugueses de Portugal, mas não basta: ao Estado cabe completar esta obra.
O Governo não deixará de ouvir este apelo, de que o ilustre Ministro dos Negócios Estrangeiros será o intérprete, já que, como embaixador de Portugal em Paris, teve a oportunidade de conhecer a obra da Missão Católica Portuguesa e de lhe dar o seu caloroso apoio.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei relativa ao plano de constituições para o ensino primário.
Tem a palavra o Sr. Deputado Peres Claro.

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: quando os recursos são limitados e as necessidades muitas, a dificuldade maior está em saber por onde se há-de começar para se fazer a obra que se impõe. E, em boa verdade, ninguém poderá dizer que tal caminho teria sido melhor do que outro. Interromper um círculo vicioso para o transformar em linha recta, sem deixar de ser contínua, é acto que requer ponderação, sem dúvida, mas sobretudo coragem, porque cada um dos circunstantes poderá dizer - e com razão, tem de reconhecer-se - que o corte deveria ter sido dado mais aqui ou mais ali.
Quando, em 1928, o Governo do novo regime se debruçou sobre o problema do ensino primário, encontrou-se perante um círculo vicioso: lima percentagem de