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1 DE FEVEREIRO DE 1961 381

gueses e mais de 60 estrangeiros sem vinculação a nenhuma entidade pública soberana, sem bandeira ou jurisdição de qualquer estado, os quais, pela força, se apossaram do navio e nele cometeram homicídio, violências e depredações, mantendo sob coacção o capitão B as restantes autoridades legítimas do navio. Quer dizer: verificaram-se, e verificam-se, todos os elementos que, segundo o direito vigente, integram o crime de pirataria.
O Governo Português e a Companhia proprietária do navio têm feito tudo quanto está ao seu alcance para que se reponha a ordem jurídica violada.
Não obstante, a acção das armadas que se afigurava estarem em condições de fazê-lo não logrou ainda a punição dos culpados e nem sequer conseguiu arrancar-lhes das mãos as suas vítimas, todas as suas vítimas, incluindo, como é óbvio, as que mais sério risco correm, que são os tripulantes do navio, companheiros daqueles heróicos rapazes que tombaram mortos ou feridos no seu posto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A Nação saberá honrar os que caíram em serviço da Pátria e a consciência do mundo civilizado não deixará de vingar o seu sacrifício.
Mas a verdade é que sobre este caso do Santa Maria se abateu uma conjura de mentiras, que tenta desvirtuar, aos olhos do Mundo, o único verdadeiro sentido que ele comporta.
A palavra de ordem nesta conjura internacional - não podemos esquecê-lo, não deve esquecê-lo o Mundo - foi dada, em primeira mão, por Moscovo: não seriam piratas os que assaltaram o Santa Mana, mas simples rebeldes à sombra de uma intenção política. Logo os partidos comunistas em todos os países foram os primeiros e mais interessados veículos desta palavra de ordem. E na ingenuidade irrecuperável de certos povos repercutiram as ressonância absurdas destes ecos.
Assim se gerou, em fortes sectores da opinião pública mundial, esta lenda negra do século, este escândalo, que consiste em pessoas de bem teimarem em considerar como políticos simples criminosos de direito comum.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Políticos, sob que bandeira? Políticos, em nome de quem? Que eu faço a justiça, aos homens honrados que neste país são, politicamente, nossos opositores de acreditar que a eles lhes há-de doer, mais do que a ninguém, a abusiva invocação de uma solidariedade que se quebra na fronteira intransponível de dois mundos, que é a linha que divide a honestidade do crime.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se na velha Inglaterra, ao perder o Partido Trabalhista as eleições, um louco assaltasse no alto mar um navio de Sua Majestade ou de qualquer armado britânico e pretendesse tê-lo feito em nome do Partido Trabalhista, quem ousara deixar de considerá-lo como simples louco?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Se amanhã qualquer bando de gangs-ters assaltar um navio americano e nele praticar o roubo e o homicídio, quem hesitará em condená-los, por mais que pretendam tê-lo feito em nome do candidato vencido nas eleições presidenciais?
Seria preciso que descesse muito .p senso moral dos grandes responsáveis pela ordem internacional para que viesse a ser possível deixar impune um crime que, na longa e comum tradição jurídica dos povos civilizados, afecta essencialmente essa mesma ordem internacional.
Seria preciso renegar o sentido cristão, o simples sentido humano da vida, para na mais absurda discriminação jamais feita entre os filhos de Deus se entrar a bordo de um barco dominado pela força por um bando de piratas e arrancar-lhes das mãos alguns, apenas alguns, dos homens e mulheres que são suas vítimas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - À consciência dos Portugueses, certamente à consciência dos homens rectos de todo o Mundo, repugna admitir este absurdo.
Refere a imprensa de hoje que o embaixador de Portugal nos Estados Unidos, na diligência que fez junto do Secretário de Estado, não teria tido de invocar* a especial situação decorrente da nossa posição na N. A. T. O. e das facilidades concedidas nos Açores à aviação americana.
Ainda bem que assim foi. Nesta Casa, entre os representantes eleitos de um povo livre, a grande nação americana só conta certamente firmes amizades. E o Presidente Kennedy, cuja formação moral assenta na mesma fé que é a nossa fé, goza entre nós certamente de unânime e viva simpatia ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... de fundada esperança na sua acção em defesa do Ocidente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas o Governo Português, ao velar pela honra da Pátria, deve saber que a Nação inteira o acompanha não apenas enquanto puder deixar de invocar perante os nossos aliados - perante quaisquer aliados - os benefícios mútuos da aliança, mas também na hora em que, porventura, tiver de fazê-lo.
É nas ocasiões que se conhecem os amigos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Da forte apreensão que nos domina é expoente a mensagem- que, em nome do venerando Episcopado Português, o Eminentíssimo Cardeal-Patriarca de Lisboa dirigiu ao chefe da grande nação americana. E a voz dos guias espirituais da grei lusitana, tendo à frente o prelado insigne da velha diocese de. Lisboa - mãe de tantas cristandades. É a voz rins sucessores legítimos daqueles bispos que ensinaram a boa nova da redenção cristã a tantos povos de além-Atlântico.
Aqueles a quem alguma vez foi dado contemplar as pedras e as almas que são, estrutura e vida da cidade maravilhosa que se espraia ao longo da baía do Guanabara e nas terras e nas gentes puderam ver o milagre do génio português e esse milagre projectado no presente e no futuro pelo grande povo brasileiro mítica poderão deixar de pensar como eu penso: que Portugal e o Brasil são uma só pátria em nossos corações.
Faz hoje precisamente cinco anos, eu pude orar, diante da imagem de Nosso Senhor que do alto do