O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

8 DE FEVEREIRO DE 1961 405

O Orador: - São traidores à terra onde nasceram, mas traidores houve sempre, e como traidores devem ser tratados.
Pena foi que estes tivessem subido tão alto. Que fossem tão generosos com eles.
Compreendemos e aceitamos a generosidade, sobretudo nas questões que dividem os homens, mas só quando essa generosidade pode servir os inteirasses superiores do Puís; doutro modo, tal generosidade pode servir para abrir caminho à perda da unidade, que conduz à perda total do esforço feito em 7 de Fevereiro, e, assim, trairmos os nossos heróis.
Ficou agora demonstrado o que afirmo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Acabamos de passar horas tristes, vendo homens nascidos em Portugal, esquecidos de que são portugueses, ligados a estrangeiros, negociando a sua Pátria...
Custa aceitar que isto seja possível, haver portugueses autores de actos tão miseráveis; homens que vestiram uma farda do honrado exército português trocarem essa farda por um fato de bandoleiros, onde não falta o tom carnavalesco.
Infelizmente é certo.
Mas o gesto desses traidores deve levar-nos a uma mais íntima união.
Perante a gravidade do momento presente, temos de afirmar ao País que hoje, aqui, não há lugar para os indecisos, para os comodistas.
É bem certa a afirmação feita de que: ... houve e há os que só quiseram dar-se e servir, os que serviram sem se dar e os que aparentaram dar-se e só procuraram servir-se.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O momento presente não permite hesitações, nem para esses tímidos que, gozando regaladamente a vida, a mais pequena ameaça se preparam para mudar de rumo.

O Sr. Carlos Moreira: - Fora com eles e quanto antes!

O Orador: - Afirmamos que nada poderá dividir-nos; nenhuma forca oculta quebrará esta unidade. Todas as arremetidas do mal se hão-de quebrar diante desta barreira.
Aos novos diremos que os acompanhamos nos seus confortantes escrúpulos, nos seus anseios de mais e melhor, mas deixai que a nossa experiência já vivida os possa ajudar a corrigir algumas precipitações.
Eles, como nós, só desejam o bem do País.
O futuro depende de vós, depende da vossa união.
Sr. Presidente: o momento é menos de palavras e mais de acção e por isso, cumprido este dever, termino dirigindo uma saudação aos homens do 7 de Fevereiro ainda vivos, que vivem e sentem o momento presente, sempre prontos a todos os sacrifícios...

O Sr. Carlos Moreira: - Muito bem!

O Orador: - ... aqueles homens de fé, que nunca quebraram e que estarão presentes se a Pátria deles necessitar.
Saúdo em especial o militar que foi um dos grandes chefes nesse movimento, o Sr. Coronel Passos e Sousa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Que esta data, mais uma vez hoje lembrada, neste momento difícil da nossa história, nos leve a uma completa união, tendo sempre presente que é principalmente connosco que devemos contar, mantendo coesa a nossa força, e assim havemos de vencer mais esta dificuldade, cumprindo o nosso dever perante a Pátria.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Jerónimo Jorge: - Sr. Presidente: não obstante o poder-se considerar como encerrado o triste episódio do Santa Maria, que nesta Casa foi inicialmente verberado por outros distintos colegas, julgo que os diversos aspectos de que ele se revestiu merecem mais algumas considerações.
Por mais subtil que se deseje ser na análise do ocorrido; por mais tolerante que seja a apreciação da proeza e das circunstâncias que a rodearam; por mais complacentemente que nos ocupemos do insólito assalto do paquete Santa Maria, do sequestro dos seus oficiais, tripulantes e passageiros, do assassínio e vias de facto cometidos contra os membros da sua tripulação - temos de concluir, na verdade, que a repugnante proeza excede tudo quanto se poderia imaginar.
Num momento em que a Nação inteira cerra fileiras, acima de divergências políticas, na defesa do património nacional; quando a unidade nacional é o penhor mais seguro e mais firme de que não nos será arrebatado nenhum pedaço do território de Portugal, já seria desvario acender o facho da discórdia. Mas neste caso há muito mais do que o esvurmar do ódio político. Há o propósito frio e deliberado não só de atingir o Governo da Nação, mas também de ferir o País na sua unidade, na sua dignidade, no seu prestígio.
Os assaltantes do Santa Maria, agindo na calada da noite contra uma tripulação indefesa, matando e ferindo cobardemente honrados marinheiros que apenas pensavam no cumprimento do seu dever, arrebatando à Nação um magnífico navio que nos orgulha em qualquer parte do Mundo, são o produto da desorientação mental e moral do Mundo de hoje, que já não faz distinção entre o bem e o mal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O facto ocorrido foi também mais um oportuno aviso da maneira de proceder dos inimigos de Portugal. É assim, insidiosamente, infiltrando-se no meio de nós, apresentando-se como inofensivos passageiros que querem partilhar da sorte comum no mesmo barco, que eles procedem. Esta demolição subterrânea das estruturas é o que poderíamos chamar a invasão vertical. Contra ela temos de estar precavidos, para que actos como este, e de que este é um símbolo frisante, não se repitam e sejam evitados a tempo.
Mas temos de proclamar também, com orgulho, que a traição não encontrou eco nos Portugueses. Do próprio bando de assaltantes quase todos eram estrangeiros. A tripulação manteve-se fiel ao seu capitão e à sua bandeira - apesar de tudo e contra tudo. A figura intrépida do piloto Nascimento Costa é um magnífico exemplo que se oferece a todos os nossos marinheiros como espelho da sua heróica devoção ao dever.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O País viveu angustiadamente horas trágicas! Ao seu lado e como expressão do mais alto