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494 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 204

aceite. Não temos, assim, de estranhar a infinidade de insãnias de calúnias, de mentiras, de falsas verdades, espalhadas si nosso respeito ao mundo da informação em razão de princípios que nos são opostos, de cobiças que nos têm como alvo ou de simples sensacionalismos para os quais a honra e a verdade de um povo têm de facto menos importância do que o volume de vendas de um qualquer jornal ou revista de sensation e de suspense...

O Sr. Rodrigues Prata: - Muito bem !

O Orador: - Isto continua a ser espantoso e criminoso, mas é assim mesmo, e não deixará de o ser por muito que lhe oponhamos uma ética contrária e que nesta ética viva, honra lhe seja, a imprensa portuguesa.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Mas tudo isto pode ser combatido e desmascará-lo, tudo isto tem de ser resolvido e posto ao contrário, e para tanto só é preciso um esforço, um esforço gigantesco, sim, de informação verdadeira, mas constante e absorvente, teimar na sua razão, até impertinente, na verdade que proclama e na luta contra a mentida tendenciosa que procura desfazer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sei, Sr. Presidente, quanto isto é difícil e quanto isto é imperiosamente necessário; não ignoro também quanto uma tal forma de actividade não nos está muito de acordo com o temperamento individual, com o carácter colectivo e com a própria rigidez de sistema político. Mas temos em, absoluto de fazê-lo, sobretudo porque temos razão, e a razão é uma grande força, que precisa de ser bradada aos quatro ventos, pois de contrário as meias mentiras ou as aparentes verdades espalhadas ao Mundo à dimensão de milhões de exemplares não deixarão de pé na desordem mental da vida contemporânea nenhuma razão válida. Por maior que seja a sua essência moral e o seu indiscutível conteúdo de honradez e de verdade.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Que coisa me proponho conseguir com esta minha intervenção? Pois, Sr. Presidente, apenas este pouco: levantar nesta Casa uma voz de estímulo, de apoio, de incitamento, de compreensão e de ajuda a todos aqueles organismos que têm sobre si a tremenda responsabilidade, nesta hora decisiva, de lançar no Mundo a verdade portuguesa contra a onda de infâmia e de mentira que, ao pretender eclipsar essa verdade, outra coisa não pretende senão destruir a própria existência de Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como em tantas outras coisas, o nosso país importa, mais notícias do que aquelas que exporta; é, portanto, necessário alterar e equilibrar também a posição desta balança! As agências noticiosas estrangeiras inundam-nos de mercadoria que as mais das vezes é de franca pacotilha; mas em reciprocidade filtram em piedosamente tudo quanto nos diz respeito, a quando os nossos actos, factos e razões não são desvirtuados pela mentira, são abafados pelo silêncio, o que talvez seja ainda pior.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois contra isto não estamos nós nem aptos nem apetrechados para, defender-nos, são francamente insuficientes os meios materiais e técnicos de que dispõem as agências noticiosas nacionais, estão praticamente desprovidas de pessoal adequado e de elementos informativos as embaixadas, legações, consulados, casas de Portugal e leitorados em países estrangeiros, que só por excepção ou acaso circunstancial dispõem de quem possa, com competência e invencível constância, informar a tempo e horas, prever os momentos nevrálgicos, actuar com proveito e eficiência.

O Sr. Cortês Lobão: - Muito bem!

O Orador: - É lá crível, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que a lista das publicações da Agência-Geral do Ultramar, por exemplo, tenha orgulhosamente aposto o qualificativo impresso de esgotado em frente da maioria das suas edições? Um livro esgotado é certamente um óptimo sintoma; mas por isso mesmo impõe-se que ele esteja esgotado o menos tempo possível. Esgotado, reimprime-se e reedita-se, sem prejuízo da matéria nova que tenha de ser dada a lume ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... mas em subordinação ao essencial, ao fundamental, ao decisivo, na informação cultural ultramarina, que tem de estar presente sempre onde e quando - seja precisa, que o mesmo é dizer na hora actual, em toda a parte e a todo o tempo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Pode lá conceber-se, igualmente, que através do cinema, da rádio e da televisão o nosso ultramar não esteja sempre presente diante dos olhos e dentro dos ouvidos de nacionais e de estrangeiros, orgulhosamente, capciosamente presente esse ultramar, que é a nossa razão de ser, a menina dos nossos olhos, onde nada nos envergonha, onde tudo nos impõe e nos prestigia, desde que seja vivido, entendido e mostrado com realismo e com sinceridade?

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Muito bem!

O Orador: - Não está no meu ânimo fazer censura a ninguém, e tenho ligadas a estes assuntos algumas responsabilidades que não enjeito e me permitem ter consciência das tremendas dificuldades com que se luta para conseguir unia escassa parcela do que se pretende fazer e do que deve ser feito.
Mas agora, Sr. Presidente,- agora sobremaneira, por um imperativo de circunstâncias inadiáveis e gravíssimas, fazer política nacional é fazer política ultramarina, não pode ser desperdiçado nenhum ensejo, não há distracção perdoável, não há economia legítima, não há silêncio inteligível, dentro ou fora das fronteiras da Pátria, em matéria que diga respeito ao Portugal de além-mar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É bom, mas não chega o entusiasmo momentâneo, e tão português, de uma campanha ad hoc de tempos a tempos e em maré de apertos. O que é preciso é mobilizar a consciência nacional, influir a sensibilidade internacional, dar, apregoar, gritar, esta verdade de que estamos consubstancialmente compenetrados, mas que um mundo ideológico adverso nos impugna: Portugal e o seu ultramar é um todo incindível e inviolável.
Pela mesma razão por que não vai nas minhas palavras crítica ou censura a quem quer que seja, também