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528 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 206

O Sr. Calheiros Lopes: - Sr. Presidente: no dia seguinte à suspensão dos trabalhos desta Assembleia, precisar lente em 25 de Fevereiro último, deu-se um acontecimento na vida portuguesa que deve ser classificado de verdadeiramente notável, pedindo licença para a de dedicar algumas palavras de registo e veemente aplauso.
Refiro-me a assinatura do contrato para a construção da ponte sobre o Tejo, que, em nome do Governo, o ilustre Ministro das Obras Públicas, esse grande espírito de patriota e alta inteligência de técnico que é o engenheiro Arantes e Oliveira, teve a honra e certamente a gratíssima satisfação de firmar, ligando o seu nome a tão memorável facto, de tão alta importância para o País.
Sucede ainda que, por me encontrar no estrangeiro, de algum modo em serviço da Nação, no dia 7 de Março, em que os representantes dos cinco distritos do Sul, incluindo, portanto, o de Setúbal, ao qual devo a honra da minha designação para Deputado, vieram manifestar ao Governo o justo agradecimento das populações pelo valioso melhoramento que a ponte constitui, ausente, repito, nessa data, não me foi possível, como tanto desejaria, associar-me a tão louvável manifestação. Isso é, portanto, mais um motivo para que me sinta obrigado a expressar aqui, como português e como Deputado por Setúbal, região mais directamente beneficiada pela ponte, os sentimentos de gratidão com que os povos do Sul do Tejo receberam esse primeiro passo para a realização de mais um grande melhoramento que ficam devendo ao Governo e ao Estado Novo.
Na realidade, Sr. Presidente, todos nós, sobretudo os que abriram os olhos do conhecimento ainda nessa época recuada em que era considerado sonho e utopia tudo o que ultrapassava, na vida do Estado e nas aspirações nacionais, o nível comezinho do expediente burocrático e das pequenas obras quotidianas, todos nós temos na recordação as alusões que na imprensa, nas revistas do ano, nos comentários da eterna crítica, se faziam roda da ponte sobre o Tejo, considerada então por todos os portugueses, e em especial pelas populações do Sul, como uma miragem, uma fantasia, sonho de visionários jamais alcançável.
E, contudo, eis-nos chegados ao tempo em que o sonho se transforma em realidade. Graças à administração prudente introduzida, nas nossas finanças pelo Prof. Doutor Oliveira Salazar e mercê do esforço e dinamismo que orientam o departamento das Obras Públicas, a velha aspiração, durante décadas considerada devaneio de sonhadores, vai ser convertida, dentro ao breve espaço de cerca de seis anos, numa das mais belas realizações da nossa era.
Efectivamente, como sublinhou o Sr. Ministro das Obras Públicas no acto da assinatura do contrato, a ponte, vem coroar os esforços e anseios de muitos anos, quase um século em que a ideia viveu acalentada por alguns, sem nunca ter podido realizar-se. E agora que se deu o primeiro passo para a sua efectivação há que chamar a atenção do País para a amplitude, o alcance, as repercussões económicas e sociais desta grandiosa obra de fomento nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos de considerar, primeiro que tudo, os reflexos que a ponte vai ter na aproximação entre Lisboa e a Outra Banda, onde está nascendo já uma nova e importante cidade - Almada -, cuja expansão demográfica à social se avalia verificando que a população do concelho subiu de 43 000 habitantes em 1950 para 71 000 em 1960, com o correspondente aumento de actividades comerciais e industriais. O que será este grande núcleo populacional, que volume atingirá o seu progresso económico, uma vez facilitada a ligação rodoviária, através da ponte, com a capital, são previsões impossíveis de concretizar em números, mas de qiie todos facilmente avaliamos a extensão. Não errará decerto quem apostar que dentro de uma ou duas décadas Lisboa oferecerá, como algumas cidades estrangeiras, o aspecto de uma imensa urbe, estendendo-se por ambas as margens do rio, cidade múltipla onde se reunirão vários centros e zonas de actividade industrial e comercial, seguidos na periferia pelos grandes blocos e bairros residenciais - isto numa e noutra margem, do Tejo.
Lisboa e Almada virão porventura a constituir uma unidade demográfica, ainda que sob convenientes descentralizações administrativas para comodidade da população - e a ponte terá sido o grande factor desta formidável expansão de vida, trabalho e progresso.
Atrevo-me ainda a prever que a ligação das duas margens originará a criação na Outra Banda de uma zona portuária, que, como prolongamento do porto de Lisboa, descongestione este do seu movimento, já hoje lutando com dificuldades de espaço e carência de instalações.
E na mesma corrente de previsões coloco outro grande sonho que há anos vive nas aspirações de muitos portugueses. Refiro-me ao canal Tejo-Sado, obra de enorme projecção que já nesta Assembleia tive ocasião de advogar e que se enquadraria utilmente na rede de comunicações desta parte do País. Esperemos que também essa grandiosa, obra virá algum dia engrossar o activo das realizações da nossa época. Relacionando-a com a ponte, penso no que o canal Tejo-Sado concorreria para o desenvolvimento económico da zona servida e, consequentemente, na influência benéfica que a facilitação do acesso à capital teria no que respeita à saída dos produtos agrícolas e industriais multiplicados pela colonização, pela rega, pelo afluxo de actividades trazido à região pelo canal.
Mas não é só nas zonas, por assim dizer, limítrofes da capital que se repercutirão os benefícios da ponte.
Todo o Sul do País tem motivos - como, aliás, o manifestou publicamente - para se sentir agradecido com a obra. Antes de qualquer outra região, sente-o a vasta e progressiva zona de que o distrito de Setúbal é a expressão administrativa, desde a denominada península setubalense, com a sua riqueza piscatória, as suas grandes indústrias actuais e as que estão em curso de instalação, o seu interesse turístico, até à importante região agrícola do Médio e Baixo Sado, cujas economias agrária e pecuária serão certamente valorizadas pela existência de maiores e mais baratas condições de transportes para a capital.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por sua vez, também o Alentejo e o Algarve compreendem o valor da obra a que me refiro, lista última província, como é sabido, tem nos chamados primores hortícolas uma das principais fontes de riqueza, e certo como é que a capital constitui o mais seguro mercado dessa produção, naturalmente lhe é favorável tudo o que facilitar o transporte dos produtos para Lisboa. O Alentejo do futuro, quando o plano de valorização dessa província vier transformar do forma considerável a sua actual fisionomia agrária e a quase exclusiva cultura trigueira e exploração florestal forem alternadas com as culturas industriais em projecto e o incremento da pecuária, bem necessário ao desenvolvimento económico do País, não pode deixar de sentir as vantagens da melhoria dos acessos à capital.