7 DE ABRIL DE 1961 529
Deixem-me, pois, afirmar, Sr. Presidente e meus colegas, quanto partilho a satisfação geral perante a breve transformação em realidade do velho sonho das gerações antecedentes, obra de tanto vulto e de dimensões tamanhas que, na verdade, sómente poderia ser enfrentada num período de decisivo rejuvenescimento como o que o Estado Novo nos trouxe e em que vimos asseguradas as possibilidades e recursos para uma realização desta envergadura.
Como poderia admitir-se sequer a hipótese de levar a cabo há 30 anos, no meio da desordem política e descrédito financeiro de então, um empreendimento cujo custo é da ordem dos 2 milhões de contos? Penso que deve salientar-se este aspecto do caso. Assim como entendo que é necessário pôr em relevo o que representa como índice do prestígio de Portugal a circunstância de a obra da ponte ser inteiramente financiada com o crédito externo. Por este facto, além da vantagem de ter evitado a diminuição das possibilidades de investimentos internos dos capitais nacionais, o Governo consegue mostrar ao Mundo o alto grau em que o País possui as condições de solidez, de segurança, de crédito e estabilidade económica è política sempre exigidas pela finança internacional para efectuar uma operação desta amplitude.
Por outro lado, há que registar o cuidado com que o Governo e os técnicos que estudaram as bases do contrato asseguraram importante participação do trabalho nacional na execução da obra. Como o Sr. Ministro das Obras Públicas salientou na ocasião da assinatura do contrato, uma verba calculada em 25 por cento dos encargos da construção, ou seja cerca de 515 000 contos, representam colaboração de mão-de-obra, técnicos, materiais, etc., portugueses. E avalia-se que, no período intenso dos trabalhos, se dará emprego a cerca de 2000 operários nacionais, além dos que se ocuparão nas obras complementares.
Julgo desnecessário alongar-me em pormenores demonstrativos do valor, da repercussão económica e social, da amplitude verdadeiramente nacional da magnífica realização, sobejamente conhecidos da Assembleia.
Com esta breve intervenção pretendi apenas que tivessem eco nesta Assembleia as manifestações de reconhecimento das populações do Sul - e em especial dos povos do distrito de Setúbal, por onde tive a honra de ser eleito Deputado - pelo valioso benefício que vão receber.
Como esses povos, sinto-me igualmente agradecido ao Governo, já que a construção da ponte sobre o Tejo constituirá mais um elo na cadeia de gratidão que nos liga ao Estado Novo e ao seu mais dedicado e eminente servidor, o Sr. Presidente do Conselho, a quem ficaremos a dever mais esta grandiosa realização.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Urgel Horta: - Sr. Presidente: desde os longínquos primórdios da sua fundação que a gente do Porto, consciente, da sua força, soube marcar, por caracteres inextinguíveis, o valor da Baça, apostada em bater-se intemeratamente, nas mais diversas circunstâncias, pela sua independência, pelo seu progresso, pela sua liberdade, servindo a grei e servindo a cristandade.
Hoje como ontem, e como sempre, esta grande urbe, orgulho da Nação, não esquecendo o passado, glorificado no entranhado amor ao seu torrão natal, continua seguindo altivamente o caminho, traçado na observação e no cumprimento de obrigações contraídas pelos seus habitantes, de inteira fidelidade à terra portuguesa, grande na sua história, grande na extensão do seu território, espalhado pelas cinco partes do Mundo.
O Porto, inigualável nas suas permanentes manifestações de lealdade, nobreza e actividade, em labor insano, jamais experimentou a menor sombra de dúvida ou de fadiga na luta corajosa que sustenta para engrandecimento do seu burgo, nunca esquecendo a ideia da Pátria, que é orgulho sempre vivo na alma e no coração dos Tripeiros.
Há que fazer justiça a esse labor, no desenvolvimento activo e constante despendido em favor do velho burgo, onde os caracteres rácicos se afirmam na fortaleza do seu ânimo e na pertinácia fecunda do seu querer. Bem merece a grande metrópole do trabalho ser compreendida nas suas aspirações, nos seus anseios mais prementes, e falsear-se-ia a verdade se esquecêssemos que à sombra de uma política de alto nível e sentido, de profunda valorização, renovadora e construtiva, levada a cabo pelo Governo da Nação, pela
Câmara Municipal e pela iniciativa particular, em sincronismo bem patente, se vem efectuando uma obra de engrandecimento e progresso que honra as entidades que a praticam, com desvanecido reconhecimento da sua população.
O Porto vem sofrendo nos últimos vinte anos uma transformação de tão extraordinária grandeza ou profundidade quê lhe concede direitos de enfileirar no número das grandes cidades. Todo esse conjunto de realizações e de empreendimentos de que nos orgulhamos reflecte-se intensamente no aspecto da cidade, transformando a fisionomia topográfica e urbanística de tão grande aglomerado populacional, onde febrilmente se vive e se trabalha na solução de problemas inerentes à sua modernização, ao seu embelezamento, à sua salubridade e a todo esse enorme complexo de necessidades primárias e essenciais para a vida das grandes, cidades.
O Porto, que de dia para dia cresce e se multiplica num ritmo de desenvolvimento que atinge todas as actividades, bem merece o interesse e a protecção que hoje, contrariamente a outros períodos, se lhe dedica. E no orgulho que lhe advém das suas qualidades e virtudes atávicas, onde a constância, a fortaleza de ânimo e a vontade se afirmam com energia, como glorificadoras do trabalho, fonte de vida, símbolo e credencial até seu futuro, reside um segredo das suas vitórias, dos seus triunfos, das suas realizações.
Sr. Presidente: feitas estas breves considerações, seja-me agora permitido encarar, nas especificidades da sua acção e da sua importância, os acontecimentos que deram causa a esta intervenção, acontecimentos correspondentes a realizações de alto alcance social, que proveitosamente hão-de fazer sentir-se nos diferentes meios citadinos e regionais.
Quero referir-me, Sr. Presidente, ao projecto, já iniciado, de valorização, de actualização e de apetrechamento do aeroporto de Pedras Rubras e aos factos que o precederam. E quero também trazer à Assembleia Nacional a notícia de outro importante acontecimento, representado pela inauguração das remodeladas, renovadas e amplificadas instalações do Hospital-Sanatório Rodrigues Semide, destinado a doentes portadores de tuberculose, problema de alta projecção médico-social, que tão grande interesse tem merecido à cidade e ao País, e a mim próprio, como médico e Deputado que aqui, nesta tribuna, tantas vezes se ocupou da situação de grave inferioridade em que vivia uma unidade assistencial de grande passado na luta sustentada contra a terrível bacilemia.
Estes dois factos bem merecem algumas palavras que no seu conteúdo exprimam elogioso e justo encarecimento a problemas equacionados ou resolvidos, cujos