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20 DE ABRIL DE 1961 599

como no outro - a base em que as gerações e o tempo assentaram a comunidade luso-brasileira.
Estes são os argumentos irremovíveis; estas suo as verdades imutáveis.
Passámos em política interna por muitas experiências até chegarmos ao resultado que supomos o melhor.
O Brasil, com a sua «americanidade telúrica e a sua latinidade medular», como se diz, lapidarmente, no livro Actualidade e Permanência do Luso-Brasilismo, está, por sua vez, no caminho das experiências ou na meta dos resultados.
Cada qual experimenta como pode e escolhe como deve. O certo é que, se consideramos o Brasil na sua unidade geográfica e política, o Brasil não terá mais do que cumprir as normas da mais natural reciprocidade, considerando Portugal no seu todo, desde o Minho a Timor, no seu todo feito de terras, mar e gente, no seu todo espalhado pelo Mundo, que não é para ser dividido por cores ou raças, nem por limites desenhados e impostos por qualquer ditador ou sociedade de ditadores estranhos à nobre condição da nossa independência e ao histórico conteúdo da nossa unidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nem o Brasil ganharia em contribuir para a diminuição da nossa área territorial e humana, porque, na medida em que o fizesse, ele também se diminuiria irremediavelmente, pela simples razão de que tudo o que afectasse a integridade do Brasil- afectaria ao mesmo tempo a integridade de Portugal.
Este conceito de integridade enche um conceito de grandeza.
O Mundo anda repartido em blocos.
A Rússia tem os seus satélites.
A China Vermelha, só por si, é um bloco imenso e talvez não precise da Rússia nem de satélites.
Fora da O. N. U. existem alianças defensivas e ofensivas como nunca.
Tão depressa a América do Norte se reúne com os outros países das Américas para salvar a paz no continente americano como toma parte activa na organização de um conjunto de países para a defesa do Sueste Asiático.
Conferências de Bagdade, de Bandung, do Cairo, de Casa Branca, a Europa dos Seis, dos Sete...
Uma autêntica febre de organização por blocos, gerada pela descrença na suprema organização das nações ditas unidas!
Os comunistas, por exemplo, executam metodicamente o seu plano e avançam sem cessar, até mesmo quando sé contentam com a política da metade para a outra metade.
O Vietname do Norte é uma seta apontada ao Vietname do Sul. Tal como na Coreia. Tal como amanhã no Laos.
Como poderão o Brasil e Portugal fragmentar o poder da sua força, o argumento da sua coesão?
A comunidade luso-brasileira só existirá verdadeiramente e só poderá constituir uma força à altura dos graves acontecimentos actuais se continuar com as suas posições na Europa, na América do Sul, em África, no meio do Atlântico, na Ásia e na Oceânia.
Assim, os outros países, as outras comunidades, os outros blocos, darão mais valor e reconhecerão mais poder a Portugal ou ao Brasil, porque continuarão á ficar sabendo que onde um estiver na balança das forças internacionais o outro também lá se encontrará.
Não se vê, serenamente, outra política, outro caminho, outro destino.

Vozes: - Muito bem!

Orador: - Trocar alianças de séculos e de sangue por qualquer aliança de ocasião ou de negócio seria fazer com que depois, volvido o momento ou esgotado o negócio, se deplorasse o erro mortal sobre um negro conjunto de ilusões e destroços.
Portugal não o quer, e penso que não será outra a vontade brasileira.
Assim, e quando falo da nossa posição em face do Brasil, falo também da posição do Brasil perante nós, porque não sei falar só do Brasil ou só de Portugal quando tenho de falar de Portugal ou do Brasil perante o Mundo.
Isto é assim e não pode deixar de ser assim; no entanto, vejo toda a conveniência nas seguintes observações :
Sei que na América do Sul a ideia e a prática de asilo político possui conteúdo muito vasto e margens muito amplas. Tem-se por lá a noção de que o facho do ideal político é uma espécie de tocha sagrada que pode pegar fogo a todos os arraiais contrários, sem que por isso possa ser acusado, de incendiário. Não discuto aqui nem a ideia nem a prática - só discuto o excesso do excesso.
Os assaltantes do paquete Santa Maria não eram portugueses portadores de uma atitude de rebelião contra o Governo do seu país. Constituíam um bando internacional que usou todos os processos de pirataria para atacar e tomar pela força das armas um pedaço flutuante de Portugal. Mataram, roubaram, sequestraram à velha moda dos Culis. Existiam portugueses no bando. Mas esses portugueses eram e são confessadamente terroristas. O seu chefe mandara lançar bombas na Espanha.
Terroristas não são políticos: são réus com lugar reservado nas prisões e com o destino afecto aos tribunais comuns.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim não percebo como o Brasil concedeu asilo político a um bando internacional de terroristas que não passam de perigosos delinquentes sob à alçada dos órgãos judiciários normais encarregados de fazer cumprir a lei criminal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Demais a mais não se tratava, nem se trata, de um grupo ou de uma facção partidária constituída unicamente por portugueses que se tivessem batido lealmente contra o Governo da sua pátria.
Pouco depois da minha chegada ao Rio de Janeiro, alguns dias após ter descido de outro avião o ex-general, ex-nacionalista e ex-candidato à Presidência da República Humberto Delgado, dizia-me um brasileiro: «Este caso Delgado não dá filho»!
Queria aquele meu amigo brasileiro dizer, com a sua pitoresca expressão, que a estada de Delgado no Brasil não criaria ambiente nem teria consequências morais ou políticas que pudessem, de qualquer modo, arrefecer ou prejudicar as relações entre Portugal e o Brasil.
Na verdade e no fundo, o caso Delgado tem-se dissolvido em si mesmo. Simplesmente, o ex-candidato Delgado e pretenso candidato a candidato perpétuo juntou-se criminosamente ao bando de criminosos internacionais em questão e permite-se, a ele e aos do seu bando, atacar Portugal, servindo o Brasil de reduto intangível. E o mais impressionante ainda - esmagadoramente impressionante - é que os criminosos fazem