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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 45 1034

continente, indicarei o Boletim Pecuário n.º l respeitante ao 28.º ano. E aí todos poderão ver que, em relação ao arrolamento de gados de 1955, o distrito de Faro é o de maior número de cabeças de gado bovino, entre os extensos distritos continentais de Setúbal, Portalegre, Évora e Beja.
Nesse ano contava-se assim, em cada um deles, o número de bovinos: Beja, 24 440; Évora, 23 002; Portalegre, 25 901; Setúbal, 27 531, e Faro, 28 123, tendo assim este mais 3674 cabeças do que Beja, mais 5121 do que Évora e mais 2222 do que Portalegre.
Por isso, talvez com estranheza, se não espanto de muitos, se vê que o pequeno Algarve tem um maior número de cabeças de gado bovino do que qualquer dos grandes distritos que formam a enorme província do Alentejo, sem dúvida a maior de Portugal continental .
Portanto, podeis compreender agora quanto alegrou os algarvios o conhecimento público do Plano de Fomento Pecuário, já aprovado pelo Governo e em boa e esperançosa hora económica nacional lançado pelo Sr. Secretário de Estado da Agricultura e começado já a executar-se, em certa medida, na minha província, pela criação da Estação de Fomento Pecuário do Algarve, há tantos e tantos anos esperada pela lavoura algarvia.
Vai assim o Algarve poder contribuir para o desaparecimento do que todos considerávamos uma verdadeira vergonha nacional: as largas e tão custosas importações de carnes. Toda a lavoura portuguesa se sentia envergonhada, ofendida mesmo, quando se anunciavam as grandes importações de carnes, facto que para ela representava não se acreditar nos seus esforços, no valor do seu trabalho, na sua capacidade criadora, para debelar uma insuficiência alimentar da Nação; ela, que tinha sabido tão bem dar-lhe o trigo para o pão nosso de cada dia quando para tão honrosa campanha fora chamada por Linhares de Lima.
De quanto pode representar para a Nação, para a sua economia, para a sua balança comercial, este novo apelo que lhe é feito pelo Sr. Secretário de Estado da Agricultura, através do seu Plano de Fomento Pecuário, disse-o ele, aquando da sua visita, em 22 do passado mês, à Escola Superior de Medicina Veterinária.
Ficámos então sabendo que a Nação importou, de 1955 a 1961, 40 000 t de carne, que nos custaram divisas no valor de 600 000 contos, e que em tais anos tivemos também de importar 43 000 t de peles e couros, no valor de 778 000 contos, o que dá um dispêndio de divisas de l 378 000 contos. E porque nesse mesmo lapso de tempo - seis anos - tivemos de importar l 290 000 contos de lãs, verificamos o dispêndio de 2 668 000 contos, peso a contribuir grandemente para o desequilíbrio da nossa balança de pagamentos.
E se nos lembrarmos de que grande parte desses largos biliões de escudos foram para países do mundo comunista, que, além de nada nos comprarem, se aprazem na O. N. U. em nos insultar e em elogiar os ladrões dos territórios de Portugal, ...

Vozes: -Muito bem, muito bem !

O Orador: - ... temos de louvar o emprego dos comparativamente insignificantes 255 000 contos, que vão ser despendidos com o Plano de Fomento Pecuário, o qual nos dá a segura esperança, anunciada pelo Sr. Secretário da Agricultura, de era 1967-1968 podermos manter 600 000 cabeças de gado, mais de metade das existentes actualmente, pela criação de uma área de 400 000 ha de produção de forragens, e abater então, anualmente, 180 000 reses, correspondentes a um peso de 40 000 t de carne. Assim, dentro de cinco a seis anos a Nação terá o mesmo peso de carne que teve de importar durante cinco anos e que importar menos peles e couros e menos lã.
Poderão os descrentes de sempre achar fantasiosos estes números e sonhadas esperanças as anunciadas conclusões futuras.
Não o entenderá assim a lavoura portuguesa, aquela lavoura sempre mal compreendida, mas sempre pronta e firme a trabalhar para a Nação. E, tal como já aconteceu, com a campanha do trigo, a lavoura provará, mais uma vez que a Nação pode contar com o seu trabalho, com o seu interesse para a resolução dos grandes problemas nacionais.
E que, se lhe derem os meios necessários, ela saberá ir de rumo a um melhor futuro da economia portuguesa, desfazendo e destruindo maus e injustos conceitos que dela se têm feito.
Nesse anseio arde a lavoura algarvia, e por isso agradece ao Sr. Secretário de Estado da Agricultura a criação da Estação de Fomento Pecuário do Algarve, a instalar no Descampadinho, junto à povoação de Odiáxere, no concelho de Lagos.
Nesse prédio, de 65 ha, poderão ser feitos os estudos de forragens de sequeiro e até de regadio, pois a eles chegam as águas da barragem do Alvor.
A raça algarvia de bovinos, que de há muitos anos vem sendo estudada, amparada e melhorada por ilustres técnicos veterinários, entre os quais nos honramos em citar o Dr. Arménio Eduardo França e Silva, que tão grandes serviços prestou à pecuária algarvia durante os anos que ali exerceu as funções de intendente de pecuária no distrito de Faro e é hoje o director-geral dos Serviços Pecuários, e o futuro director da Estação de Fomento Pecuário do Algarve, o actual e ilustre intendente em Faro, Dr. Manuel Elias Trigo Pereira, a quem os lavradores algarvios tanto já devem ao seu saber, ao seu incansável e permanente trabalho, distinguindo-se de entre o bom funcionalismo do Estado no Algarve, como dos seus maiores obreiros, não atendendo nem a horas, nem a dias, num constante e permanente labor, fazendo sempre a semana portuguesa, em que inclui o domingo, e nunca a inglesa, que exclui este e quase todo o dia de sábado.
O Algarve tem, assim, que acreditar no bom futuro do Plano de Fomento Pecuário, tanto mais que já vem de há alguns anos a esta parte sendo bem orientado e mostrando visíveis resultados práticos no melhoramento da raça bovina algarvia, hoje acreditada como das melhores raças de bovinos nacionais para carne.
Já há muitos anos que o Algarve abastece o mercado de carnes nacional com reses de qualidade, enviando sobretudo para o Porto os seus melhores bovinos.
Para ali foi enviado, não há muito, pelo posto agrário de Tavira, um grupo de reses, cruzamento de bovino algarvio com raça charolesa, que os técnicos afirmam ser das melhores carnes aparecidas naquele mercado.
Só o concelho de Lagos envia anualmente para o mercado do Porto mais de 5000 vitelos. E graças ao Algarve aquela cidade maior do trabalho nacional pode ter o verdadeiro mercado da melhor carne nacional, pois, dado que sabe pagar o que é bom, tem o direito de comer melhor.
Todos elogiam as boas carnes que se comem na cidade do Porto, mas poucos sabem que para isso muito contribui a província do Algarve.