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13 DE DEZEMBRO DE 1962 1507

Nela temos fortes razões para confiar, tanto como confiamos na perenidade da nossa pátria.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Nunes Fernandes: - Sr. Presidente: foi, há poucos dias, de longada aos concelhos do Norte do distrito de Viseu o Sr. Ministro das Obras Públicas.
É evidente que se tratou de uma viagem de estudo do ilustre estadista, que, com a preocupação de ser justo, necessitou de se documentar com relação às necessidades e aspirações daquelas bem portuguesas paragens.
Acorreram a saudá-lo as pessoas de maior representação social e política dos concelhos visitados, Cinfães, Resende, Tarouca, Armamar e S. João da Pesqueira.
Não faltou às manifestações realizadas em honra deste ilustre homem público aquele admirável povo, firme na sua fé, extraordinário no seu nacionalismo.
O distinto homem público deve ter-se sentido satisfeito por ver à volta, a vitoriá-lo e ao Governo da Nação, as populações das vilas e aldeias por ele atravessadas.
Viagem frutuosa essa em que o estadista mais directamente responsável pelo bem-estar material dessas populações no que respeita a transportes, a instalações escolares, a fontes e arruamentos, indispensáveis à elevação do nível social e económico dos povos, pôde observar de perto as suas necessidades mais prementes e dar-lhes a solução urgente que se impõe.
A gratidão daqueles povos para com o homem de mãos limpas e consciência limpa, de extraordinária capacidade de trabalho, servido por uma inteligência lúcida e todo votado ao bem-estar dos povos, bem se manifestou no carinhoso acolhimento que o ilustre estadista teve ocasião de sentir por toda a parte.
Auscultou ele as necessidades daquela região, estando uma boa parte dela carecida de vias de comunicação, factor indispensável para o seu progresso económico e social.
Salvo a deficientíssima linha ferroviária do Douro, que está a merecer um comentário oportuno, têm os concelhos de Castelo de Paiva, Cinfães e Resende uma estrada nacional que corre paralela ao rio Douro, atravessando uma região cheia de belezas paisagísticas dignas da melhor atenção do turismo.
Fora isso, têm as sofredoras populações destes concelhos que vencer os difíceis caminhos da região, lançados à conquista das alturas das serras de Montemuro e da Gralheira.
Não existe uma via de penetração para o centro do distrito de Viseu capaz de fomentar a economia da região e de a pôr em contacto com os meios consumidores dos seus produtos e abastecedores das mercadorias necessárias à sua economia doméstica. Deste facto deu conta, em artigo recente, o Jornal de Noticias do Porto, que promete continuar a simpática campanha. Para se deslocarem à capital do distrito é indispensável aos habitantes de Cinfães percorrerem cerca de 120 km, reduzidos a cerca de 100 km para os de Resende.
Ora, através das encostas de Montemuro e da Gralheira, procuram as entidades responsáveis pelo sistema rodoviário do País resolver este magno problema para a região noroestina do distrito de Viseu.
Foi por isso que no plano rodoviário publicado em 1945 se criou a estrada nacional n.º 321, a sair da estrada nacional n.º 101, para entroncar com a estrada nacional n.º 2, nas proximidades de Castro Daire, além de outras de maior interesse para a economia daquela região e para e seu desenvolvimento turístico, como sejam as estradas n.ºs 225-2, 225-1 e 222, previstas no mesmo plano.
Efectivamente, com a abertura da estrada n.º 321 estava dada satisfação a uma das maiores aspirações daquela região, pois breve se tornaria uma via comercial de primeira ordem, a canalizar das regiões serranas do interior do distrito para o mercado consumidor do Porto os seus produtos, que assim ficariam mais valorizados, contribuindo para um inevitável aumento de nível económico das populações, tão reduzido ao presente por falta de vias de comunicação a penetrar em regiões em que existem milhares de habitantes, alguns dos quais nunca avistaram um automóvel.
Há disso, posso garanti-lo, nas escarpas de Montemuro e da Gralheira.
E essa estrada n.º 321 não deixaria de ser considerada uma interessantíssima atracção turística para quem desejar contemplar os extraordinários panoramas da região, desde o encanto da junção de dois rios, em Entre-os-Rios, passando para a margem esquerda através da ridente vila de Castelo de Paiva, que no dizer do jornal local - Miradouro - «vive da magia da sua paisagem, que, além de prender quem a visita, tem o feitiço de tornar o visitante pregoeiro das suas belezas», atinge Mosteiro, sobe até às varandas de Cinfães, vai vencendo a serra até Alhões e dali continua até atingir as proximidades de Castro Daire.
Na verdade, quando o turismo deixar de ser o privilégio de certas regiões mais afortunadas e se estender a outras de tanta beleza ainda ignorada, esta estrada n.º 321 não deixará de ser a escolhida por muitos que tenham o prazer de melhor conhecer a sua terra. Ora, acontece que, tal como a estrada n.º 2 entre Lamego e Viseu, esta estrada n.º 321 se iniciou sob mau signo.

O Sr. Abranches de Soveral: - V. Ex.ª quer dizer famigerada estrada n.º 2.

O Orador: - Famigerada, disse bem.
De vez em quando a construção de uns quilómetros enche de esperanças aquela boa gente serrana, em breve transformadas em desespero por os trabalhos, inexplicavelmente, acabarem sem se ter atingido a almejada ligação, tão indispensável ao bem-estar e valorização económica daquela região.
Foi notável o esforço despendido pelo Ministério das Obras Públicas durante o último triénio, pois que conseguiu reparar, rectificar e alcatroar cerca de 180 km de estradas no Norte do distrito de Viseu.

O Sr. Jorge Correia: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faz favor:

O Sr. Jorge Correia: - Suponho que quando V. Ex.ª disse «quando deixarem de ter privilégio certas zonas» quis referir-se ao Algarve.

O Orador: - Eu não apontei.

O Sr. Jorge Correia: - É que eu queria acrescentar o seguinte: que também no Algarve há estradas famigeradas. No meu concelho há uma, a célebre estrada de Cachopo, cujo início data de 1870 e ainda não chegou à sede do concelho. Como V. Ex.ª vê, também no Algarve há estradas famigeradas.

O Orador: - Pois sim, mas o certo é que o mal dos outros não é conforto próprio.