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1510 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 59

Foi Porto Santo o primeiro padrão de uma epopeia marítima., guardando sempre no íntimo da sua alma esse título legítimo de glória e de orgulho, pois era, e é, a primeira conta de um rosário com que os portugueses envolveram o Mundo, para levar a toda a parte as luzes, a fé, a civilização e o génio do Ocidente.
Durante cerca de cinco séculos e meio ali tem vivido quase isolada e esquecida uma pequena população simples e conformada, entregue às fainas da pesca e da terra, mantendo intactos caracteres e virtudes ancestrais e tendo como os melhores dos seus bens a beleza de um oceano sem par e o esplendor do sol que todas as manhãs a acorda e ilumina.
A sua privilegiada situação geográfica, os seus recursos climatéricos, a beleza da sua praia e o apoio que pode dar às carreiras aéreas para a Madeira e para o Atlântico Sul fazem da ilha de Porto Santo um valor muito apreciável no conjunto português.
E já agora, que a ilha de ouro foi descoberta pela segunda vez, torna-se necessário não perder o ritmo de progresso que se pretende imprimir àquela parcela do território nacional, por forma a poderem realizar-se obras públicas que são indispensáveis ao conveniente aproveitamento das suas possibilidades, criando-se, ao mesmo tempo, melhores condições de vida para a sua população, que, pelo esquecimento a que a votaram as gerações passadas, bem merece ser acarinhada e protegida pelas gerações presentes.
Ali se levantou o primeiro padrão de uma epopeia. Mas verdadeira epopeia tem sido, através dos séculos, a vida de uma população que, lutando com a falta de recursos, de transportes, de água e, por vezes, de alimento, nunca perdeu a confiança e a fé.
Nos últimos anos, mercê da acção do Governo, da Junta Geral do Distrito, da Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos, da Circunscrição dos Serviços Florestais e da Câmara Municipal, foi possível realizar um conjunto apreciável de obras e trabalhos que denotam da parte dos Poderes Públicos interesse real em ver melhorada a situação daquela ilha e da sua gente.
Além do aeródromo - devido em grande parte à tenacidade e ao entusiasmo do Sr. Ministro das Comunicações -, outros trabalhos importantes se realizaram em matéria de estradas, de electrificação, de repovoamento florestal, de barragens para captação de águas das chuvas, arranjos urbanísticos, construção hoteleira, etc.
De desejar é que continuem as obras iniciadas e se executem os projectos já elaborados, nomeadamente no que respeita ao repovoamento florestal, não só pelas vantagens que daí advêm na regularização do clima e no combate à erosão, mas também pelo trabalho que dá às classes mais pobres e humildes daquela ilha.
Porto Santo está já a prestar à Madeira grandes serviços com o seu aeródromo e há-de continuar a prestados mesmo depois da abertura ao tráfego do aeródromo de Santa Catarina. Não se julgue que as comunicações aéreas entre as duas ilhas relegam para segundo plano as comunicações marítimas. Estas serão cada vez mais necessárias, não só para suprir as deficiências daquelas, mas também para assegurar a Porto Santo, à sua população, ao seu turismo e à sua. economia, transportes regulares e estáveis a preços acessíveis.
Para isso, torna-se indispensável a construção de um cais de abrigo na zona sul, cujo projecto foi elaborado superiormente e neste momento está sendo objecto de estudo pelos respectivos serviços, e também a construção de um desembarcadouro na costa norte, para o qual a Junta Autónoma dos Portos do Arquipélago da Madeira consignou a verba de 200 contos no orçamento ordinário para o próximo ano económico. E isto porque se prevê que, mesmo com a construção de um cais-abrigo na zona sul, em certos dias do ano o desembarque de passageiros terá de fazer-se na costa norte.
Os benefícios que para a Madeira estão resultando já do funcionamento do aeródromo de Porto Santo e o interesse que as duas ilhas estão suscitando nos grandes centros europeus fazem-nos crer que elas serão, dentro em breve, o fulcro mais importante do turismo nacional.
Mas para que este objectivo possa ser realizado inteiramente, com evidente vantagem para a economia do País e para a sua balança de pagamentos, torna-se indispensável que sejam fáceis e regulares as ligações marítimas entre as duas ilhas do arquipélago.
Sr. Presidente: apesar de estarmos longe, nós, os madeirenses, vivemos também a inquietação da hora presente e sabemos que na ordenação dos gastos do Estado devem vir, antes de todos, os que visam assegurar a integridade e a sobrevivência da Nação a que nos orgulhamos de pertencer.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas, dentro das possibilidades orçamentais e na distribuição das verbas disponíveis, quis referir-me hoje às aspirações e desejos das ilhas que foram as primeiras nas descobertas e no povoamento, e cujos interesses primeiros bem merecem ser acautelados e defendidos, na demonstração de que a Nação prossegue a sua tarefa secular de valorização das terras e das gentes que vivem na protecção da sua bandeira.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Alves Moreira: - Sr. Presidente: são ainda decorridos sòmente três dias que a região em que me honro de ter nascido e que nesta Câmara represento esteve em festa, melhor dizendo, foi alvo de duplo acontecimento festivo de relevo, pois teve a suprema honra de ser visitada por alta comitiva dos nossos governantes, chefiada pela veneranda figura que é S. Ex.ª o Presidente da República, e se viu beneficiada pelas inaugurações que então tiveram lugar, e que foram o objectivo especial de jornada tão feliz como proveitosa.
A distinção que foi dada à gente das povoações que marginam o extenso quão admirável lençol de água que é a ria de Aveiro foi correspondida com a espontaneidade que caracteriza o bom povo de tais paragens, como puderam verificar todos aqueles que, como nós, de perto acompanharam os momentos do inesquecível acontecimento.
De facto, soube o povo acarinhar S. Exa., recebendo-o com vivas e outras manifestações de sã presença, aproveitando a ocasião para mostrar que confiam nos nossos governantes, rendendo homenagem sincera e espontânea ao timoneiro do grande barco que é a Nação Portuguesa.
E porque se tratava da inauguração de obras na sua essência ligadas à vida do mar e à natural beleza da região, todos sentiram que não poderia ter sido outra personalidade a presidir a tais inaugurações.
E todos bem sabem porquê; S. Exa., homem 100 por cento marinheiro, era naturalmente o indicado para estar presente, e com certeza com íntima satisfação, pois se encontrava em região e rodeado por pessoas que compreendia e que o sabiam compreender.