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1650 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 65

se resolva tão breve quanto possível, e não é menos certo que a sua obra, tão cheia de dificuldades, não é tarefa tão simples como poderá parecer-nos, pois interfere com sectores variadíssimos, nem sempre de fácil maleabilidade.

Tais dificuldades são, na verdade, de considerar, mas os tempos presentes exigem-nos tal celeridade que os meses se contam por unos na resolução destes problemas que nos afligem, obrigando-nos a caminhar com a maior rapidez, pois estamos a desperdiçar capital humano tão útil na valorização daquelas terras que continuam a reclamar a sua presença.

É essa gente activa adquiriu já, pelo contacto a que o serviço militar durante dois anos obrigou, certas vantagens em todos os aspectos e tem prioridade sobre a gente que pisa pela primeira vez as terras do ultramar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A força das circunstâncias exige, assim, ás juntas de povoamento um redobrar de esforços, um ritmo de trabalho aceleradíssimo que nos permita uma rápida recuperação do tempo perdido e que foi, na verdade, preciosíssimo, sobretudo no sector referente a povoamento, pois não podemos deixar de reconhecer que se há dez anos atrás tivéssemos pugnado com especial interesse e com mais larga visão pelo povoamento daquelas duas províncias não teríamos criado tão grandes problemas, que hoje exigem a nossa maior atenção, e teríamos por certo uma estrutura económica mais fortalecida.

Mas não devemos desperdiçar tempo na contemplação do passado, lamentando o que deixámos dê fazer ou o que fizemos mal, mas antes, com a experiência adquirida, devemos virar-nos resolutamente para o presente, preparando condições de vida e de trabalho para os contingentes militares que vão passando a disponibilidade e que, como já se disse, regressam à sua terra natal paru procurar emprego, por não lhes ter sido possível fixarem-se naquelas vastas regiões onde permaneceram durante um período de dois anos, colhendo útil experiência da vida de África. Não têm, na verdade, outra alternativa que não seja n de regressarem aos seus lares, desiludidos por não terem conseguido, como desejavam, lançar-se numa nova vida prometedora que os conduzisse a uma, maior prosperidade e colaborassem no desenvolvimento daquelas terras tão carecidas de um mais célere aproveitamento.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Eu próprio pretendi fazer alguma coisa em lavor dessa gente moça, activa, que a mini recorreu para lhes conseguir créditos para se dedicarem à agricultura de produtos ricos por meios mecanizados, mas nada consegui, especialmente porque os bancos carecem de garantias sólidas, que ela não possuía.

Parece-me haver aqui cabimento para algumas palavras, embora breves, sobre a falta de créditos, especialmente nos sectores agrícola e industrial, já aqui tão debatida. que muito tem contribuído para o fracasso e sérias dificuldades que grande parte de empresas; tanto colectivas como individuais, tem enfrentado nestes últimos tempos, especialmente no Norte da província, onde tanto há que fazer e a iniciativa privada rica pouco tem feito, sem quaisquer argumentos válidos que justifiquem tão grande desinteresse pelo progresso das terras onde acumularam a sua fortuna e a prosperidade de que hoje desfrutam, e a iniciativa particular pobre pouco consegue fazer por falta de recursos financeiros.

Torna-se imperioso, por tais razões, criar instituições que concedam efectivamente créditos em todos os distritos e não apenas na capital, paru que a gente de trabalho que pretende progredir rasgando novos horizontes a elas pousa recorrer e ser atendida. Com créditos racionalmente concedidos a quem nos dê provas de trabalho honesto e boa administração fácil é aumentar o progresso, multiplicando os valores agrícolas que na sua exportação muito contribuiriam para melhorar a posição das nossas balanças económica e de pagamentos.

Numa visita que há pouco fiz ao Norte de Moçambique, onde contactei com comerciantes, industriais e agricultores, tive oportunidade de verificar que a difícil situação um que os menos abastados se encontravam provinha exclusivamente da falta de créditos, alguns de pequena monta, que lhes permitisse a compra por vezes de um pequeno tractor para a substituição da mão-de-obra, cara e de difícil obtenção, ou para a ajuda da aquisição de um simples camião que facilitasse os transportes dos seus produtos e lhes diminuísse as despesas.

Não quero, porém, por ser de inteira justiça, deixar de prestar aqui as nossas homenagens e o nosso reconhecimento ao Banco Nacional Ultramarino, pelo auxílio financeiro que tem prestado, dentro dos seus limites legais, em toda a província, de norte a sul, concorrendo grandemente, deste modo, para o seu desenvolvimento e dando possibilidades de êxito a grandes e pequenos obreiros que trabalham noa vários sectores da vida económica de Moçambique.

A sua missão de banco emissor não lhe permite, porém, assumir inteiramente a posição de banco de crédito, razão por que se impõe, e mais uma vez se reclama, a criação de instituições dessa natureza pura impulsionar os vários ramos que compreendem a economia moçambicana.

O Sr. Martins da Cruz: -V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: -Faz obséquio!

O Sr. Martins da Cruz: - Mas o que é que o Estado tem que ver com a criação de possíveis instituições de crédito comercial, industrial e agrícola, já que o Banco Nacional Ultramarino parece ter a sua acção muito limitada?

O Orador: - Só tenho que lamentar o facto.

É claro que o Banco Nacional Ultramarino vai até onde pode chegar, visto ser um banco emissor, mas, independentemente disso, tem até concedido créditos indus-trais, comerciais e agrícolas.

Quanto às instituições de crédito, penso que não se instalaram lá- ainda com receio, talvez, do chamado panorama africano.

O Sr. Reis Faria: - Há em Moçambique, que eu saiba, uma instituição de crédito chamada Caixa de Crédito Agrícola, e foi por intermédio dela que se instalou a empresa do Chá Namuli.

O Orador: -Algumas companhias da província conseguiram absorver completamente, e direi também infelizmente, todo o crédito, porque ele não pode chegar para mais de uma ou duas companhias, visto que é uma coisa muito pequena.

O Sr. Martins da Cruz: - A minha pergunta continua em suspenso.

O Sr. Soares da Fonseca: - V. Ex.ª pode fazer o favor de me dizer se o Estado tem dificultado a criação, ou a difusão de outros estabelecimentos de crédito?.