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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 70 1830

labutou arduamente para a constituir independente ganhou, no decorrer de séculos, força e ímpeto de vitalidade que fizeram dela mãe de nações.

O povo português, saibam-no todos os fantasiosos impulsionadores de nacionalidades inconsistentes, saibam-no todos os cobiçosos de domínio - económico ou de influência política, o povo português tem a percepção muito nítida da fundamentação dos preconceitos e dos males que corroem, avassalam e dementam o mundo actual. Naturalmente, sente-os na alma, no próprio âmago, que lhe emprestou a capacidade sem par de sacrificar-se, dando suor e sangue, inteligência e vontade, às tarefas prodigiosas de valorização humana onde quer que o seu génio civilizador se empenhou, estabeleceu e frutificou. Não somos um povo cuja missão criadora possa entender-se ou ser dada por finda, propriamente se pode dizer e afirmar com altivez que o nosso desígnio remoça e se renova.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Os tempos é que suo outros e a cobiça é que mudou de nome e de sinal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isto mesmo importa estar mais atento e precavido, reforçado o espírito, decidida a vontade, compreensiva a inteligência, tudo para que não nos surpreendam nas insidiosas encruzilhadas da vida internacional, se quanto hoje em dia se entende por tal vida não é antes armadilha de morte, cativeiro de inocentes, conjugação de injustiças. Pois ao nosso povo ergue-se da sua sensibilidade à própria consciência um sentimento de resoluta compreensão de quem o conhece e estima e aprecia na íntegra vivência em que se expressou e se expressa todo o seu poder de devotamento a uma ideia superior e toda a sua capacidade humanística.

O Sr. Virgílio Cruz: - Muito bem!

O Orador: - Saber quem são os nossos amigos é uma grande regra de vida, sobretudo para os nações, pois não se concebe a existência de amigos a meias. '

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem se espantará, pois, que a Nação Portuguesa acolha com cálido afecto e fervorosos aplausos, espontaneamente, resolutamente, um amigo das horas boas e más?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Um amigo cuja rasgada visão política supera todas as contingências do imediatismo e da precariedade; um amigo que lançou com gesto vigoroso e fecundo um facho de esperança radiosa ao futuro, criando essa esplendente cidade de Brasília com a mesma decisão genesíaca de que só os eleitos são capazes; um amigo que se empenha em desvendar o coração virginal do seu país para o amostrar tão grande que em breves anos o Mundo tom de pulsar ao seu ritmo de prosperidade e de poder; um amigo que desafia o porvir com alegria do alma com a impávida certeza de que só vence bem quem vence com virtude e com nobreza.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não podemos esquecer a acção política de eficaz cooperação e de prestimoso entendimento que o Dr. Kubitschek de Oliveira empregou na concretização e na tentativa de plena execução do Tratado de Amizade e Consulta, instrumento diplomático que as condições actuais da vida internacional cada dia se encarregam de mais acentuar o seu valor e significado. Ao realismo político do homem que empreendeu a Operação Pan-Americana não podia escapar o conjunto de virtualidades e de injunções que da substância daquele Tratado decorriam para a defesa do Ocidente, de que o Brasil é, e mais fortemente será no futuro, uma constante de valor primacial. Às razões de ordem política enlaçavam-se razões de ordem histórica, e destas desentranhava-se uma experiência pretérita de que grandemente são conhecedores todos aqueles que têm da história luso-brasileira sequer ao menos um vislumbre de conhecimento exacto.

É que a vida e as vicissitudes históricas de tempos transactos nas duas margens banhadas pelo Atlântico Sul suscitam em nossos dias uma análise comparativa do jogo de interesses político-económicos que então procuravam afirmar-se nesses territórios, interesses bem semelhantes aos que se manifestam em muitos factos de hoje e aos quais então só foi possível obstar pela íntima compreensão e entreajuda dos luso-brasileiros habitadores de ambas essas paragens. Não digo que a história seja mestra da vida, mas às vezes parece ... e parece tanto mais quanto, no dizer de Homero, é uma luta contra o esquecimento.

Na ordem moral ou na ordem política tudo que nos aproxima, individual ou colectivamente, gradua-se e afervora-se em sentimento de comunidade. Não são exclusivamente os interesses, como imposição de segurança da vida quotidiana, o que lança e impulsiona o homem à solidariedade confiante. Há outras coisas, valores que tem alguma gradação de absolutos, imposições superiores que o sangue transmitiu, a crença aprimorou, o espírito clarificou. Nisto reside o substrato, a base primacial do ser donde pode erguer-se a fina Sor do sentimento originári-de comunidade. Não esqueço que o homem tem de busca o sal, sem o que o seu tonus vital se deteriora, mas a vida sem razões de valor absoluto não vale a pena ser vivida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os brasileiros e os portugueses, teme estas razões para extrairmos uma consequência político-moral de efeitos práticos à grande luz do Mundo, e r que não somos sonhadores nem adivinhos, mas homem de pura boa vontade, podemos prosseguir na propugnação de uma comunidade cujos raízes espirituais são efectivamente indestrutíveis. Creio que essa comunidade luso-brasileira será um dia uma forte condição existencial, hoje que o espírito de compreensão se entreabra perante realidades insofismáveis, ia a dizer em face de um estado necessidade.

Sr. Presidente: daqui, deste lugar, saúdo cordialmente eminente homem público do Brasil, o Dr. Juscelii Kubitschek de Oliveira, e, ao lembrar-me dos dias em que tive a sorte de ver largamente aquelas terras e de convivo afectuosamente com aquelas gentes, o meu coração êxul com os seus triunfos pessoais e espera em Deus que mesmo Brasil seja dada a paz, a alegria e a fortuna uma grande e próspera nação.

Tenho dito.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.